A campanha nacional e internacional contra o Brasil e os
brasileiros disseminou três tipos de detratores do nosso país: abutres,
coveiros e goiabas.
1- Os abutres
São os mais ideológicos de todos. No plano internacional têm
sido puxados por The Economist e Financial Times. Para eles o Brasil se
assemelha a uma valiosa cariniça a ser saqueada. O valor da carniça aumentou
muito desde as descobertas na camada atlântica do pré-sal. Muitos deles mantém
uma pretensa elegância, muito própria para quem gosta de usar ternos de grife
no trabalho. Seu estilo preferido é o prosaico analítico, com direito, vez por
outra, a certos sarcasmos pesados, que eles vêem como mera ironia, como a de
comparar a nossa presidenta a Groucho Marx. Adoram elogiar o México e a Aliança
do Pacífico, como “respostas” ao Brasil e o Mercosul. No fundo, no fundo, o que
queremé garantir o máximo possível de renda para o capital rentista e a parte
do leão das riquezas brasileiras, passadas, presentes e futuras para ele. Às
vezes animam gente mais grosseira, como no caso das vaias VIP, no Itaquerão.
Mas aí começamos a entrar no segundo grupo.
2. Os coveiros
De um modo geral, são aqueles detratores que, no fundo, bem
no fundo, acham que nasceram no país, na latitude e na longitude erradas, além
do fuso horário trocado. Latitude errada: nasceram no hemisfério sul. Longitude
errada e fuso horário trocado: a hora da nossa capital não é a mesma de
Washington, nem de Londres, nem de Paris. Grosso modo, dividem-se em dois
grupos. O primeiro simplesmente detesta o país em que nasceu. Não suporta olhar
pela janela e ver bananeiras ao invés de pine trees. Detesta até ver palmeiras
ao invés de palm trees. São os detratores de sempre, os que se ufanam da Europa
e dos Estados Unidos e que pensam que o nosso povo é desqualificado para ser um
povo. Sua abrangência é nacional, mas também aparecem alguns no plano
internacional. Ouvi durante seminário recente aqui em Berlim que o Brasil é um
país que não tem cultura, só tem música e samba. Não sei exatamente o que a
pessoa em questão, que não era brasileira, entendia por “cultura”, “música” e
“samba”, mas sei muito bem o que ela entendia por ”Brasil”: um bando de gente
nu por fora e por dentro, mais ou menos como os primeiros europeus viam os
índios quando chegaram para conquistá-los e dizimá-los. São e serão os coveiros
de sempre. O segundo grupo pegou carona na campanha dos abutres. Gosta de falar
mal do Brasil de agora, este que aí está, com pleno emprego e melhora na
repartição de renda. Quer dar a volta no relógio e no calendário, nos ajustar
de novo ao tempo em que pobre era miserável e miserável não era nada. Acha que
pode garantir de novo os aeroportos só para si. Mas é um grupo que gosta de
falar também em generalidades. Se dentro do Brasil, usa o pronome nós (“nós
somos corruptos”, “nós somos violentos”, “nós somos ineficientes”, etc.), mas é
um “nós” que tem o valor de “eles”, pois só vale da boca para fora.
É uma verdadeira proeza gramatical. Pois o distinto coveiro
deste grupo se apresenta, explícita ou implicitamente, como uma exceção. Os
estilos preferidos variam: vão do insulto grosseiro à lamentação sutil. Os
coveiros deste grupo costumam ter um alvo preciso, que copiam dos abutres: no
momento atual, a eleição de outubro. Já os coveiros do primeiro grupo não têm
alvo preciso, a não ser o de fazer compras em Miami (alguns) ou passear de
bonde ou ônibus nas capitais europeias enquanto faz campanha contra corredores
de ônibus nas cidades brasileiras.
3. Os goiabas
Este é um grupo mais variegado. Seu estilo varia entre a
euforia e a lamentação. Mas são plagiadores profissionais. Copiam sem restrição
tudo o que lhes é servido pelos abutres e os coveiros. Repetem entusiasticamente:
“o gigante acordou em junho do ano passado”. Ou chorosamente: “a Copa do Mundo
no Brasil tirou dinheiro das escolas e dos hospitais”. E repetem firmes outras
condenações peremptórias, como “a de que os estádios ficarão necessariamente
ociosos depois da Copa”. São muito numerosos, barulhentos, tanto dentro como
fora do país. Também repetem-se muito entre si mesmos, achando que estão sendo
originais. Gostam de dizer que estão “mostrando o verdadeiro Brasil” ao nos
detratar como um país imóvel, que não tem entrada nem saída.
Os grupos ficaram martelando – mais os coveiros, os goiabas
e, mas com a reza em voz baixa a seu favor vinda dos abutres internacionais e
também com as vezes a reza em voz alta dos abutres nacionais – que a Copa não
ia dar certo, que seria um fracasso, que os aeroportos iam entrar em colapso,
que as cidades (e o metrô de S. Paulo no dia da abertura) iriam parar, etc.
Deram com os burros n’água. Cavaram a própria cova e
esqueceram de levar uma escada de saída. Ainda esperam que “algo”, alguma
catástrofe, qualquer coisa, aconteça até o final da Copa. Depois deste final,
vão tentar uma de duas: se o Brasil ganhar a Copa, vão dizer que o nosso povo é
um bando de babacas que só sabem correr atrás da bola quando vêem uma. Se o
Brasil perder, vão insistir na ideia de que o governo jogou dinheiro fora.
Vamos ver o que vai acontecer.
Antes de encerrar, quero esclarecer que “abutres”,
“coveiros”, “goiabas” e até “burros n’água” são apenas metáforas literárias,
que não deve ser lidas literalmente. Nada tenho contra os abutres que, como os
urubus, ajudam a manter a limpeza no seus espaços; nem contra a operosa classe
dos coveiros, tão socialmente valiosos como qualquer outra profissão laboriosa;
muito menos contra as goiabas, frutas deliciosas como tantas outras; e
certamente na da contra os pacientes burros da vida real, que nada têm de
burros. Burros, neste último sentido, apesar de alguns se acharem espertalhões,
são os “abutres”, os “coveiros”, e os “goiabas”.
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