Por Miguel do Rosário
Quando alguns falam em fim dos partidos políticos, parecem
se basear mais em teses acadêmicas do que na realidade política, pelo menos do
Brasil. O número de eleitores filiados a partidos no país cresceu 43% nos
últimos 12 anos.
O destaque vai para o PV (+254%), PCdoB (135%) e PT (92%).
Sobre o extraordinário crescimento do PT nos últimos 12 anos
Registrando crescimento de 91% nos últimos 12 anos, PT é o
partido preferido em todas as idades, regiões, religiões e níveis de
escolaridade no Brasil.
Por Antonio David, na Carta Maior.
“Quantidade não é qualidade”, já diz o provérbio. O número
de filiados de um partido político tem grande importância, mas não diz tudo.
Sobretudo, não implica necessariamente em força política. Há partidos com baixa
expressão eleitoral e significativo leque de correligionários e vice-versa.
Enquanto a conjuntura muda e com ela muda a influência do partido na sociedade,
em geral os filiados permanecem filiados por inércia, mesmo quando na prática
não guardam mais vínculo algum com o partido.
Ademais, há partidos pequenos cuja força reside na
influência que exercem na sociedade ou em ramos dela, como o meio sindical ou
entre a população evangélica. Por tudo isso, a mera quantidade de filiados de
um partido não é um retrato fiel de sua força. Para aferi-la, há que se
considerar outros fatores.
Feita a advertência, convém observar o atual quadro de
filiações partidárias no país.
Há atualmente 7 partidos com mais de um milhão de filiados.
Logo abaixo destes, encontram-se outros 7 partidos de porte médio, que possuem
entre trezentos mil e um milhão de filiados. Por fim, há 18 partidos pequenos
ou “nanicos”.
Comparando-se as filiações partidárias entre 2002 e 2014,
dois dados saltam aos olhos.
Em primeiro lugar, o extraordinário crescimento do PT. Nesse
período, o aumento do número de filiados dos partidos de porte médio e grande
foi bastante variável. Contudo, o crescimento do PT é significativamente maior
do que o crescimento dos demais partidos grandes e médios. Enquanto o PSDB
cresceu 28,65%, o PT quase dobrou de tamanho, como se vê na tabela adiante.
À direita e à esquerda, há quem faça pouco caso das
filiações do PT. Não é o caso de reproduzir os argumentos, até porque
praticamente todos giram em torno da chamada “filiação em massa” e dos
problemas nela envolvidos. O certo é que nesse período o PT popularizou-se: não
só no eleitorado – nas eleições presidenciais, o PT tem vencido entre os
eleitores mais pobres –, mas também entre seus filiados. Entre 2002 e 2014 filiaram-se
761.210 pessoas no Partido dos Trabalhadores. Em sua grande maioria,
trabalhadores.
Não obstante o número de filiados não ser o único critério
de força política, em se tratando de um partido de massas, presente em todo o
território nacional e com mais de um milhão de filiados, e levando-se em conta
todos os ataques que o partido sofreu nesse período, o vertiginoso crescimento
do PT é sinal de uma grande vivacidade e força política. Mas, como dissemos,
para aferir a força do PT como um todo, há que se levar em conta outros
fatores.
PREFERÊNCIA – Outro dado indica que o crescimento do PT não
é artificial. Na última pesquisa nacional de intenção de voto do Datafolha
(publicada em 09/05/2014), o perfil da amostra revela que 23% dos entrevistados
declaram ter como partido de preferência o PT. Em segundo lugar, muito abaixo,
figuram PSDB e PMDB, com 4% cada. 62% declararam não ter partido de
preferência.
E não se trata de uma preferência concentrada entre os mais
velhos. Também entre os mais jovens esse percentual é praticamente o mesmo: 21%
dos que têm entre 16 e 24 anos e 24% dos que têm entre 25 e 34 anos declararam
ter preferência pelo PT. As tabelas revelam outros dados de grande interesse,
ligados à renda, escolaridade, região, dentre outros recortes
O fato de haver simpatizantes do PT entre aqueles que
declararam ter a intenção de votar em Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB),
Pastor Everaldo (PSC) e em branco ou nulo – respectivamente, 13%, 12%, 15% e
13% – revela o potencial de crescimento de Dilma durante a campanha. Há outros
dados que apontam para a mesma direção. Na resposta espontânea à pergunta “Em
quem você gostaria de votar para presidente este ano?”, 55% dos eleitores com
renda familiar mensal até 2 salários mínimos declararam não saber em quem
votar. Como sabemos, esse segmento responde por aproximadamente 40% dos
eleitores e nele predomina o voto no PT.
“NANICOS” – Voltando à tabela que versa sobre a diferença do
número de filiados entre 2002 e 2014, chama a atenção outro dado que para muitos
certamente passaria despercebido: o crescimento dos partidos de pequeno porte
ou dos chamados “nanicos”. Enquanto a variação total do período foi de 42,96% e
enquanto a maior parte dos principais partidos de direita, tanto da base do
governo como da oposição, não cresceram mais do que 30%, os “nanicos” cresceram
juntos 146,57%.
Desse meio, convém diferenciar os partidos de esquerda, que
têm ideologia e militância: PSTU, Psol, PCB e PCO. Quanto aos outros, tratam-se
em sua maioria de meras legendas de aluguel. Em 2002, apenas PTC, PMN e PRP
possuíam mais de 100 mil filiados. Hoje, só as três legendas já são maiores que
o PSB em número de filiados. E se todos estes continuam sendo nanicos, todavia,
em número de filiados, todos juntos já são maiores que o DEM.
Esse vertiginoso crescimento talvez revele um esforço de
parte da direita, ou ao menos de pessoas com ideias, propostas e práticas mais
afinadas à direita, de fuga da polarização esquerda versus direita. Se essa
hipótese for verdadeira, pode-se concluir que a fuga do conflito central acaba
por alimentar o fisiologismo.
Outros dados parecem confirmar essa hipótese. A evolução do
número de vereadores e prefeitos, ao lado das filiações que aqui mostramos,
sugere haver um processo de interiorização das legendas de aluguel no país e um
fracionamento do quadro partidário no qual essas legendas saem fortalecidas.
Como sabemos, um dos efeitos da migração em massa de
parlamentares para os partidos nanicos é o fortalecimento do comércio eleitoral
do tempo de rádio e TV nas vésperas de cada pleito eleitoral, cada vez mais
pulverizado e negociado no varejo. No fundo, muitos desses partidos foram
criados e são mantidos para esse fim.
Analisando os dados ano a ano, de 2002 a 2014, no caso dos
grandes partidos as dissidências do período, não obstante tenham impactado, não
parecem ter causado sangramentos. É o caso de SDD e Pros. A despeito de suas
bancadas, ambos têm poucos filiados, como se pode constatar nas tabelas sobre
filiação. Ao contrário, as fusões e incorporações ocorridas no período tiveram
grande impacto: é o caso do PTB e do PR, tal como as notas 1 e 2 evidenciam.
______________
Antônio David é estudante de pós-graduação na FFLCH/USP.
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