Por Rosane Bertotti, no site do FNDC:
Bola podre ou quadrada, tanto faz, o significado é o mesmo.
É a bola mal passada, saída de pés inábeis que conduzem quadris enrijecidos. É
a antítese de um dos orgulhos nacionais.
A vida de um perna-de-pau não é simples. Ou se é dono de uma
bola, ou sempre se fica por último, quase não tem lugar no time. Se criança,
isso rende complexo de inferioridade. Nenhum perna-de-pau consegue ser popular
na escola.
Pior ainda é ser ruim de bola e tentar esconder isso. Para
estes, a vida é particularmente cruel, pois a máscara costuma cair em público,
no calor da peleja, debaixo dos três paus.
Tal é o caso de nossa chamada imprensa tradicional. Ao longo
de um ano inteiro, salvo poucas exceções, fez previsões catastróficas sobre a
Copa do Mundo. A julgar pelo noticiário, tudo seria um desastre e o País
passaria por um vexame internacional.
A mídia perna-de-pau errou feio. Não houve caos nos aeroportos,
a grama não está se desfazendo sob as chuteiras, as torcidas não estão se
digladiando e repórteres do mundo inteiro estão saudando nossa Copa como uma
das melhores de todos os tempos.
A realidade contrariou as versões.
Ninguém espera infalibilidade total, nem mesmo dos aviões.
Mas não precisava exagerar. Bastava ter saído das redações, dar uma circulada
pelas ruas, checar o mundo real, enfim, para poder dosar melhor a quantidade de
mau humor e não achar que a vida se renderia a opinião de alguns notáveis.
O fenômeno da opinião publicada que não encontra eco na
realidade já vinha se manifestando em outras ocasiões. Ora com sorrisos de
desprezo, ora com voz tonitruante, previu-se inflação incontrolável, pediu-se o
encarceramento de crianças, profetizou-se o fim dos tempos, o apagão elétrico,
o apocalipse que ceifaria alguns mortais e pouparia os iluminados jornalistas.
Vaidade misturada com inegável torcida contra o próprio
País, e não falamos aqui apenas de futebol, mas de futuro, projeto de Nação.
Só que, desta feita, o descompasso entre opinião e fatos
ficou evidente demais.
Faço essa análise com pesar. Não é bom para um País ter um
jornalismo de baixa qualidade. É preciso uma mudança profunda. E isso passa
necessariamente pela desconcentração das propriedades dos meios de comunicação,
para dar acesso a outras vozes.
Jornalismo é um serviço de utilidade pública, e assim
deveria ser encarado. Do modo como está, paira acima de tudo. O jornalismo
brasileiro parece poder errar à vontade, não há constrangimento nem pedido de
desculpas. Como a Fifa, tem suas próprias regras. Nenhum grupo deveria ter esse
privilégio numa democracia.
Espero que este momento fique marcado de forma indelével na
memória e desperte as consciências, elevando as exigências dos leitores e
telespectadores.
Continuaremos defendendo a necessidade de democratizar a
mídia até que esse debate, tão essencial para a Nação, se popularize e nos leve
a um novo patamar de relacionamento com essa indústria que anda tão bola
murcha.
Queremos jogar bonito, torcendo para que a Copa 2014
continue sendo um sucesso e – por que não – comemorar o título de nossa
Seleção.
* Rosane Bertotti é coordenadora do Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação (FNDC) e secretária nacional de comunicação da
CUT.
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