Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
O aspecto mais chocante da contusão que deixará Neymar fora
da Copa é a falta de indignação.
A joelhada de Zuñiga aos 41 minutos do segundo tempo foi um
ato desleal e deliberado. Atacando sua vítima por trás, Zuñiga empurrou a
cabeça de Neymar com a mão direita, para que o tronco ficasse encurvado e a
espinha dorsal, mais exposta.
Se Neymar tivesse sido atingido algumas vértebras acima, o
dano seria muito grave e é bom nem pensar nas consequências para o futuro do
jogador. Mesmo assim, uma vértebra foi fraturada – o que dá uma ideia da
violência que atingiu Neymar.
Zuñiga não foi expulso. Nem recebeu cartão amarelo. Não irá
sofrer nenhuma punição.
A agressão, brutal, foi tratada como uma agressão normal de
jogo, embora tivesse produzido uma lesão muito mais grave do que a mordida do
uruguaio Luis Suárez no ombro do italiano Chiellini.
Olha só: embora tenha sido um ato de uma pessoa
psicologicamente perturbada, o que é sempre um atenuante num caso como este, a
mordida de Suárez lhe valeu a suspensão por nove partidas da FIFA. Até
Chiellini achou um exagero.
A reação diante da violência contra Neymar, o maior jogador
brasileiro, a estrela número 2 da Copa depois do argentino Messi, foi a
passividade. Essa é a mensagem.
É curioso imaginar por que não se fez um escândalo, nem no
momento da agressão nem depois. Ficou tudo na normalidade.
O juiz Carlos Velazco Carballo será punido? E Zuñiga? Nada.
A maior crítica que li nos jornais, hoje, foi um comentário dizendo que sua
entrada foi “maldosa.” Fraco, hein?
Será que a Comissão de Arbitragem da FIFA irá se manifestar
contra Carballo? Quem está pedindo? Quem exige?
Dá para entender o recado enviado aos árbitros das próximas
partidas do Brasil, certo?
Essa reação compreensiva - digamos assim - encobre um
movimento que não ousa se mostrar por inteiro. Estou falando da torcida contra
a Copa.
Derrotados fora de campo, quando se comprovou que a Copa era
um sucesso nacional e internacional, e que a maioria dos meios de comunicação
havia embarcado numa Escola Base em nível federal, testemunhada por 200 milhões
de brasileiros, essa turma foi obrigada a guardar as energias negativas para o
que acontece nos gramados.
Não vamos negar: a possibilidade, real, do Brasil sair
campeão deixa essa turma em pânico.
Seu movimento mental é semelhante ao discurso de Carlos
Lacerda contra Juscelino Kubisctheck nas eleições de 1955, quando ele dizia: JK
não pode candidatar-se; se sair candidato, não pode vencer; se vencer, não será
empossado. Na Copa de 2014, o raciocínio é o mesmo. Não podia haver Copa. Como
ela aconteceu, deveria ser ruim. E se não foi ruim, o Brasil não poderia
vencer.
Por isso ficaram muito indignados com o penalti (duvidoso,
no mínimo) em cima de Fred no jogo do VNTC contra a Croácia. Mostraram-se generosos
quando a Holanda foi beneficiada num lance parecido. Acharam normal.
Nas rodadas finais do Mundial, a turma do “Não vai ter Copa”
aposta suas últimas esperanças numa derrota da Seleção.
Exibe sorrisos amarelos a cada vitória dos meninos. Ontem, quando
ficou garantido que, na pior das hipóteses, a Seleção Brasileira terá direito a
disputar uma medalha de bronze, o que ninguém espera mas está longe de ser
aquele fiasco anunciado, a ausência de Neymar tornou-se a esperança silenciosa
desse pessoal que, nos últimos dias, tentava inutilmente jogar nas costas da
“Copa” e do “PAC” a tragédia numa obra de infraestrutura de Belo Horizonte,
licitada e administrada pela prefeitura de um aliado da oposição.
A joelhada de Zuñiga foi um ato canalha. Mas o jogo fora do
campo é muito pior e desleal, vamos combinar.
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