Trata-se de um simulacro de jornalismo, que nem original é.
Nos Estados Unidos, muitos âncoras se promoveram com agressividade em suposta
defesa do “interesse público”. Eu friso o “suposta”. Lembro-me de um, da CNN,
que fez fama atacando a “invasão do país por imigrantes ilegais”. Hoje muitos
âncoras do jornalismo policial fazem o mesmo estilo, como se representassem a
sociedade contra o crime.
William Bonner está assumindo o papel de garoto-propaganda
da criminalização da política. Ao criminalizar a política, fazendo dela algo
sujo e com o qual não devemos lidar, ganham as grandes corporações midiáticas.
Quanto mais fracas forem as instituições, mais fortes ficam as empresas
jornalísticas para extrair concessões de todo tipo — do Executivo, do
Legislativo, do Judiciário.
A postura supostamente independente de Bonner, igualmente
agressivo com todos os candidatos, faz parecer que as Organizações Globo pairam
sobre a política, que nunca apoiaram a ditadura militar, nem tentaram “ganhar”
eleições no grito. Que os irmãos Marinho não fazem politica diuturnamente, com
lobistas em Brasília. Que os irmãos Marinho não tem lado, não fazem escolhas e
nem defendem com unhas e dentes, se preciso atropelando as leis, os seus
interesses. Como em “multa de 600 milhões de reais” por sonegar impostos na
compra dos direitos de televisão das Copas de 2002 e 2006 (veja aqui, aqui e
aqui).
A agressividade de Bonner também ajuda a mascarar onde se dá
a verdadeira manipulação da emissora, nos dias de hoje: na pauta e no
direcionamento dos recursos de investigação de que a Globo dispõe. Exemplo:
hoje mesmo, no Bom Dia Brasil, uma dona-de-casa do interior de São Paulo
explicava como está fazendo para economizar água.
A emissora não teve a curiosidade de explicar que a seca que
afeta milhões no Estado não é apenas um problema climático, resulta também de
falta de investimentos do governo de Geraldo Alckmin, que beneficiou acionistas
da Sabesp quando deveria ter investido o dinheiro no aumento da capacidade de
captação de água. Uma pauta complicada, não é mesmo?
A não ser que eu esteja enganado, a Globo não deslocou um
repórter sequer para visitar o aeroporto de Montezuma, que Aécio Neves mandou
reformar quando governador de Minas Gerais perto das terras de sua própria
família. Vai ver que faltou dinheiro.
Tanto Alckmin quanto Aécio são tucanos. Na entrevista com
Dilma, Bonner listou uma série de escândalos. Não falou, obviamente, de
escândalos relacionados à iniciativa privada, nem em outras esferas de governo.
Dilma poderia muito bem tê-lo lembrado disso, deixando claro que a corrupção é
uma praga generalizada, inclusive na esfera privada, envolvendo entre outras
coisas sonegação gigantesca de impostos. Mas aí já seria coisa para o Leonel
Brizola.
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