Autor: Eduardo Guimarães
Aécio Neves parece já ter jogado a toalha. Aliás, começou a
parecer já no debate da Band, quando, em vez de atacar Marina Silva, que lhe
tomou o segundo lugar na corrida eleitoral, centrou fogo em Dilma. Aliás, já se
fala até em ele desistir e disputar o governo de Minas.
Na última sexta-feira, enquanto até o Datafolha – que o
“segurou” o quanto pôde com mais intenções de voto do que realmente tinha –
trazia ao tucano a péssima notícia de que estava caminhando rapidamente para
terminar a eleição como “nanico”, ele dizia que o governo Dilma teria “acabado
antes da hora”.
Ah, esses tucanos… O que pode ter acabado antes da hora é a
candidatura presidencial de Aécio e a disputa pelo governo do Estado de Minas
Gerais, com o PT disparando na frente.
Ainda assim, uma inexplicável onda de militantes tucanos
anda por aí comemorando a divisão do país entre Dilma Rousseff e Marina.
Em relação à eleição presidencial, está acontecendo por aqui
o que aconteceu na Venezuela no ano passado: uma disputa apertadíssima entre
Nicolás Maduro e Henrique Capriles. Assim será no Brasil. Quem vencer a eleição
presidencial, vencerá por margem apertada…
A desinformada militância tucana fica se masturbando
mentalmente com uma história maluca de que o PT teria “acabado” simplesmente porque
Dilma e Marina estão empatadas. Mas, enquanto isso, o PSDB e seus colunistas
amestrados entram em desespero.
Explico: projeções dizem que PT deve eleger em 2014 uma
bancada de deputados federais superior à que elegeu em 2010 (88 deputados).
Provavelmente, elegerá uma centena de deputados. O PSDB vem elegendo cada vez
menos deputados desde 2002 (vide gráfico no alto da página) e, em 2014, deve
sofrer uma profunda redução de sua bancada atual.
A razão para uma redução mais drástica da representação parlamentar
do PSDB reside justamente no que militantes tucanos desinformados estão
comemorando, o quadro da sucessão presidencial.
A votação dos candidatos a presidente influi
consideravelmente no tamanho da bancada que o partido de cada um desses candidatos
terá na legislatura seguinte. Ora, se com José Serra tendo cerca de 45% dos
votos em 2010 o PSDB só elegeu 52 deputados, quantos elegerá em 2014 com Aécio
terminando a corrida pela Presidência, por exemplo, com os 15% com que apareceu
na última pesquisa Datafolha?
A eleição presidencial está indefinida. Em primeiro turno,
segundo o Datafolha Dilma e Marina estão empatadas. Em segundo turno, Marina
vence por 50% a 40%. Além dos 7% de indecisos, se Dilma tirar 5 pontinhos de
Marina elas empatam em 2º turno.
Não existe uma situação desesperadora para o PT, portanto.
Dizer que o partido “acabou” é um hilariante autoengano da militância tucana o
qual as instâncias partidárias tucanas obviamente não compartilham, até porque
sabem que quem está acabando é o PSDB.
Quantos deputados o PSDB deve eleger neste ano? Em uma
“conta de português”, pode-se dizer que se Aécio tiver um terço da votação que
Serra teve em 2010 a nova bancada de deputados federais tucanos será de uns 15
ou 20.
Enquanto isso, na eleição presidencial o reduzido
contingente de indecisos mostra que a situação chegou a um ponto de quase
cristalização.
Em segundo turno, da pesquisa anterior do Datafolha (no dia
18) para cá Marina cresceu 3 pontos, mas, descontada a margem de erro, pode ter
crescido só 1 ponto, ou seja, pode não ter crescido nada.
Em 10 dias, a situação em segundo turno mudou muito pouco. A
subida de Marina pode parar por aí, pois com 7% de indecisos não há muito
espaço para ela crescer mais.
Mas, na hipótese de Marina vencer a eleição (toc, toc, toc),
há que ver quanta importância terão PT e PSDB para lhes ser proposta composição
com o eventual novo governo. Afinal, Marina pode até vencer, mas terá que
negociar absolutamente tudo com o Congresso.
Aliás, esse é um dos grandes temores dessa terrível
possibilidade, pois Marina seria uma presidente fraca em termos de apoio
parlamentar, ainda que, nos primeiros meses de uma sua eventual gestão, pudesse
contar com o apoio da opinião pública.
Contudo, como está sendo vendido pela campanha de Marina
que, vencendo, ela iria resolver problemas seculares que o PT obviamente não
teve tempo de resolver, o apoio da opinião pública tende a se desfazer
rapidamente.
E não só pelos problemas existentes, mas pelos que seriam
criados. A aplicação do ideário econômico e administrativo do grupo político
que circunda Marina seria um desastre, com arrocho salarial, aumento do
desemprego etc.
Ou alguém conhece outro jeito de baixar drasticamente a
inflação que não seja arrochar salários e reduzir empregos?
Marina anunciou que, se vencer, haverá abandono do pré-sal,
o BNDES voltará a financiar só grandes grupos econômicos – e bem menos do que
hoje –, o Banco Central será independente e o Estado deixará de ser indutor da
economia.
O que impediu que os brasileiros sentissem a crise econômica
foi justamente o papel do Estado na economia, com os PACs, o incentivo do BNDES
e o aumento da atividade gerado pela exploração do pré-sal.
Mas tais desgraças só ocorreriam se Marina vencesse, o que
ainda falta muito para se ter certeza de que irá acontecer, ainda que o
voluntarismo de alguns tente pintar como favas contadas o que não passa de uma
mera e assustadora possibilidade.
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