O Conversa Afiada reproduz, do Viomundo, texto de André Forastieri:
Junção de socialista com banqueira propõe Banco Central
autônomo
por André Forastieri, no R7
Você precisa conhecer Neca. Ela é a coordenadora do programa
de governo de Marina Silva, pela Rede Sustentabilidade, ao lado de Mauricio
Rands, do PSB. O documento será divulgado na semana que vem, 250 páginas
consensadas por Marina e Eduardo Campos. Educadora, com longo histórico de
obras sociais, Neca conheceu Marina em 2007. É uma das idealizadoras e
principais captadoras de recursos da Rede Sustentabilidade.
Sua importância na campanha e no partido de Marina Silva já
seria boa razão para o eleitor conhecê-la melhor. Ainda mais após a morte de
Eduardo Campos. Mas há uma razão bem maior. Neca é o apelido que Maria Alice
Setúbal carrega da infância. Ela é acionista da holding Itausa. Você pode
conferir a participação dela neste documento do Bovespa. Ela tem 1,29% do
capital total. Parece pouco, mas o valor de mercado da Itausa no dia de ontem
era R$ 61,4 bilhões. A participação de Maria Alice vale algo perto de R$ 792
milhões.
A Itausa controla o banco Itaú Unibanco, o banco de
investimentos Itaú BBA, e as empresas Duratex (de painéis de madeira e também
metais sanitários, da marca Deca), a Itautec (hardware e software) e a
Elekeiroz (gás). Neca herdou sua participação do pai, Olavo Setúbal, empresário
e político. Foi prefeito de São Paulo, indicado por Paulo Maluf, e ministro das
relações exteriores do governo Sarney. Olavo morreu em 2008. O Itaú doou um
milhão de reais para a campanha de Marina Silva em 2010.
Em agosto de 2013 — portanto, no governo Dilma Rousseff — a
Receita Federal autuou o Itaú Unibanco. Segundo a Receita, o Itaú deve uma
fortuna em impostos. Seriam R$ 18,7 bilhões, relativos à fusão do Itaú com o
Unibanco, em 2008. O Itaú deveria ter recolhido R$ 11,8 bilhões em Imposto de
Renda e R$ 6,8 bilhões em Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. A Receita
somou multa e juros.
R$ 18 bilhões é muito dinheiro. É difícil imaginar que a
Receita tirou um valor desse tamanho do nada. É difícil imaginar uma empresa
pagando uma multa que seja um terço disso. Mas embora o economista-chefe do
Itaú esteja hoje no jornal dizendo que o Brasil viveu um primeiro semestre de
“estagnação”, o Itaú Unibanco lucrou R$ 4,9 bilhões no segundo trimestre de
2014, uma alta de 36,7%. No primeiro semestre, o lucro líquido atingiu R$ 9,318
bilhões, um aumento de 32,1% em relação ao primeiro semestre de 2013. O
Unibanco vai muitíssimo bem. E gera, sim, lucro para pagar os impostos e multa
devidos – ainda que em prestações.
A autuação da Receita foi confirmada em 30 de janeiro de
2014 pela Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento. O Itaú informou
que iria recorrer desta decisão junto ao Conselho Administrativo de Recursos
fiscais. Na época da autuação, e novamente em janeiro, o Itaú informou que
considerava “remota” a hipótese de ter
de pagar os impostos devidos e a multa. Mandei um email hoje para a área de
comunicação do Itaú Unibanco perguntando se o banco está questionando
legalmente a autuação, e pedindo detalhes da situação. A resposta foi: “Não
vamos comentar.”
O programa de governo de Marina Silva, que leva a assinatura
de Maria Alice Setúbal, merece uma leitura muito atenta, à luz de sua
participação acionária no Itaú. Um ano atrás, em entrevista ao Valor, Neca
Setúbal foi perguntada se participaria de um eventual governo de Marina. Sua
resposta: “Supondo que Marina ganhe, eu estarei junto, mas não sei como. Talvez
eu preferisse não estar em um cargo formal, mas em algo que eu tivesse um pouco
mais de flexibilidade.”
Formal ou informal, é muito forte a relação entre Neca e
Marina. Uma presidenta não tem poder para simplesmente anular uma autuação da
Receita. Mas tem influência. E quem tem influência sobre a presidenta, tem
muito poder também. Neca Setúbal já nasceu com muito poder econômico, que
continua exercendo. Agora, pode ter muito poder político. É um caso de conflito
de interesses? Essa é a pergunta que vale R$ 18,7 bilhões de reais.
PS do Viomundo: Êta Brasil velho de guerra. A candidata do
Partido Socialista Brasileiro (PSB) se junta com a banqueira que, em entrevista
à Folha, prega autonomia do Banco Central, ou seja, que o Banco Central
responda a banqueiros como ela e não à soberania popular, que é a base da ideia
socialista. Falta inventar alguma coisa na política brasileira?
Clique aqui para ler “Esqueça o Aécio. E mira em Neca e Bláblá”
E aqui para “Itaúuu assume controle de ações da Bláblá”
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