Por André Barrocal, na revista CartaCapital:
A presidenciável Marina Silva (PSB) lançou seu programa de
governo nesta sexta-feira 29 com uma política econômica igual à defendida pelo
PSDB nesta eleição e em anteriores. Marina propõe diminuir o tamanho do Estado
com o corte de ministérios e gastos públicos, medidas facilitadoras dos lucros
empresariais, reduzir a ação dos bancos estatais para que os privados possam
fazer mais negócios e a busca de uma reaproximação comercial com os Estados
Unidos, entre outras coisas.
Ao contrário dos tucanos, porém, Marina comprometeu-se a com
uma ideia polêmica: “Assegurar a independência do Banco Central o mais
rapidamente possível, de forma institucional, para que ele possa praticar a
política monetária necessária ao controle da inflação”.
Caso uma lei como a proposta por Marina seja aprovada, o BC
não terá mais de se subordinar ao presidente da República ou ao ministro da
Fazenda. Terá liberdade para tomar decisões sobre, por exemplo, as taxas de
juros. Era uma bandeira de Eduardo Campos, morto em 13 de agosto. Quando Campos
e Marina se uniram e começaram a desenhar o programa de governo do PSB, ela
discordava da ideia, segundo Maria Alice Setúbal, amiga da ex-ministra,
herdeira do banco Itaú e uma das responsáveis pelo programa. Marina acabou,
porém, se convencendo a defender a proposta.
Roberto Amaral, presidente do partido pelo qual Marina
concorre à Presidência, é contra a proposta. Já tinha essa posição quando o
candidato do PSB ainda era Campos, mas foi derrotado em debates internos, pois
o falecido ex-governador era o então dirigente máximo da sigla. Amaral também
discorda das posições econômicas liberal-conservadoras dos dois principais
assessores de Marina no tema, André Lara Resende, um dos idealizadores do Plano
Real, e Eduardo Giannetti da Fonseca.
Com a promessa de independência ao BC, Marina tenta
conquistar o apoio do sistema financeiro e do alto empresariado, especialmente
o paulista. Os dois grupos não querem a reeleição de Dilma Rousseff (PT), mas
hesitam em aderir à campanha marinista. Não sabem ao certo que tipo de governo
ela faria. Preferiam apoiar o candidato Aécio Neves, do PSDB, partido com quem
têm mais afinidade. A entrada de Marina na eleição, contudo, mostrou que ela
tem mais chances de vencer Dilma - ao menos conforme se vê nas mais recentes
pesquisas.
Na terça-feira 26, assessores marinistas reuniram-se com
banqueiros e investidores estrangeiros em São Paulo para tentar mostrar como
seria um governo Marina. O encontro foi promovido por Maria Alice, conhecida
como Neca, e pelo Itaú BBA, um dos braços do banco Itaú.
Ao encampar a política econômica tucana, Marina forçou Aécio
Neves a defender mais abertamente a agenda histórica do PSDB. Desde o início da
campanha, o senador mineiro tinha evitado se expor tão abertamente, por receio
da propaganda petista. A comparação entre os dados de emprego e renda nos
governos Dilma e Lula com os oito anos da gestão Fernando Henrique era o centro
da estratégia dilmista. Uma proposta de lei de independência do BC está em
discussão no Senado por iniciativa de um tio de Aécio, o senador Francisco
Dornelles, do PP do Rio. O tucano preferiu, contudo, evitar o tema, com medo da
propaganda do PT, segundo a qual a independência do BC dará mais poder os
banqueiros para aumentar os juros e estimular o desemprego.
Principal assessor econômico de Aécio, Armínio Fraga,
presidente do BC na gestão FHC, andava sumido desde o início da eleição, em 6
de julho. Com a ameaça representada por Marina a sua candidatura, Aécio liberou
Armínio para voltar à cena. Esperava convencer o sistema financeiro e o alto
empresariado de que o PSDB ainda seria a melhor aposta contra o PT. Nos últimos
dias, Fraga deu entrevista à revista Veja e publicou artigo no jornal Folha de
S. Paulo. Ao participar do primeiro debate televisivo entre os presidenciáveis,
na terça-feira 26, na Band, Aécio anunciou que Fraga será seu ministro da
Fazenda, caso ele seja eleito.
O programa de governo de Marina também propõe uma
reaproximação comercial com os Estados Unidos, a exemplo do que consta da
agenda econômica do PSDB. A filosofia é a mesma que vinha sendo defendida por
Campos. Enquanto esteve na campanha, o falecido candidato dizia defender
“negociações maduras” com o governo norte-americano. A relação entre os dois
países está em marcha lenta desde a descoberta da espionagem praticada pelos
EUA contra Dilma, cidadãos e empresas brasileiros. Quando Campos morreu, a Casa
Branca divulgou uma nota lamentando o fato.
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