Por Miguel do Rosário
Ontem, um coordenador de comunicação da campanha de Marina
Silva, Edson Barbosa, publicou um artigo na Folha que deveria provocar calafrios de terror e
indignação em todos os brasileiros com um mínimo de esclarecimento científico.
Barbosa respondia a um artigo, publicado no dia anterior, de
Rogério Cezar de Cerqueira Leite, famoso físico brasileiro, que termina com uma
declaração de anti-voto: “espero que Marina não ganhe esta eleição.”
O marinista rebate: “Marina acredita que o ser humano é uma
criação de Deus; o professor Rogério Cezar e outros, idênticos a ele, acreditam
que os seres vivos vieram de uma ameba, de uma gosma, da seleção natural (…)”
Como é que é?
A campanha de Marina irá ridicularizar a teoria da evolução
das espécies de Charles Darwin, a maior conquista da ciência em milênios? Que
permitiu salvar milhões, quiçá bilhões de vidas, e transformou o pensamento
humano?
Todos os remédios produzidos no mundo, que salvam milhões de
vidas diariamente; todos os estudos agronômicos, que permitem a produção
agrícola em larga escala, matando a fome de bilhões de seres vivos; todos os
avanços da ciência, da cultura e da tecnologia que vemos hoje derivam, de uma
forma ou outra, de alguns pilares científicos que sustentam a vida humana em
nosso planeta.
Um desses pilares é a teoria da evolução das espécies, de
Charles Darwin, hoje comprovada por inúmeros estudos e pesquisas arqueológicas.
Aliás, vou comprar um exemplar da obra-prima de Charles
Darwin, porque pelo jeito precisaremos dela nessa campanha.
A lenda de Adão e Eva é uma ficção literária. Linda,
metafórica. O texto bíblico tem poesia, lições morais e profunda espiritualidade.
Sou um leitor voraz e apaixonado do Velho Testamento.
Mas daí a acreditar no criacionismo, há uma diferença tão
grande como rir de um desenho do Pica Pau e acreditar que seja um documentário.
A própria Marina Silva tem sido deliberadamente ambígua quando
trata do creacionismo. A “nova política” não rasga votos, e Marina tem força
junto a fieis de igrejas fundamentalistas.
Aliás, Marina só ganha de Dilma entre os evangélicos. Entre
católicos, na espontânea do Ibope divulgado ontem, Dilma tem 34% dos votos,
contra 22% de Marina, no primeiro turno. No segundo turno, as duas estão
empatadas entre os católicos, com 43% cada.
Em seu site, Marina tenta responder à pergunta sobre
creacionismo. Em suas próprias palavras:
“Um jovem me perguntou o que eu achava de as escolas
adventistas ensinarem o criacionismo. Respondi que, desde que ensine também a
teoria da evolução, não vejo problema.”
Ela não faz qualquer defesa da teoria da evolução das
espécies. E quando afirma que não é criacionista, faz apenas uma ressalva
“técnica”. Mas não toma posição em favor da ciência.
Ora, a gente até entende que candidatos majoritários fujam
da questão do aborto com evasivas.
Mas ser evasivo quanto ao criacionismo, aí já é demais.
Uma coisa é acreditar em Deus. Uma coisa é acreditar que
Deus criou a vida. Muitos cientistas acreditam. Outra é negar a evolução das
espécies. Isso me parece inadmissível.
Será que Marina vai propor um “plebiscito” para o país
decidir se viemos ou não de Adão e Eva?
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