Há poucos dias a Justiça Federal do Paraná disse que os
depoimentos da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa
estavam em segredo de Justiça, criptografados e guardados em um cofre. Foi
negado ao Congresso Nacional, à Presidência da República, à Petrobrás, o acesso
aos depoimentos sigilosos.
Até acho correto que se mantivesse em sigilo total enquanto
não concluísse as investigações, enquanto não executasse todos os mandados de
busca e apreensão, para quem for delatado não destruir provas, não fugir, e
também para não divulgar precipitademente informações que possam ser falsas.
Delação premiada, quem faz não é por crise de consciência, é
para obter vantagem de redução da pena, com orientação de advogados, e cada
palavra é calculada. Para ter valor, as informações delatadas precisam levar à
obtenção de provas que possam ser confirmadas, como movimentações bancárias,
documentos, etc.
Hoje está em toda a imprensa vídeos e áudios do depoimento
de Paulo Roberto e de Alberto Yousseff.
Há veículos dizendo que a própria Justiça Federal liberou.
Espero que essa informação seja falsa e que tenha havido vazamento.
Toda a imprensa está divulgando trechos onde ambos falam que
"ouviram falar" que "o PT" e o PMDB recebiam tantos por
cento sobre contratos. Segundo noticiado, os dois não podem citar nomes de quem
tem foro privilegiado, o que só piora as coisas, pois dá margem a colocar todo
mundo sob suspeita.
Ainda não ouvi tudo que foi divulgado, mas até agora, pelo
que vi, a única coisa que os dois testemunham sobre fatos ilegais que
presenciaram é sobre o PP, partido a que ambos eram ligados. Quanto ao PT,
"ouviram falar".
Ok, que a Justiça ouça tudo e investigue a fundo, até o fim,
mesmo o que "ouviu falar". Mas a própria Justiça divulgar às vésperas
de um segundo turno acusações de cunho eleitoral na base do "ouvi
falar", antes de confirmar se é verdade, é simplesmente absurdo.
Não acuso a Justiça de querer interferir de propósito, mas o
resultado é semelhante ao que a Globo e a Folha fizeram em 2010, colocando um
ex-presidiário, Rubney Quícoli, para fazer acusações mirabolantes, que depois
de passadas as eleições, desmentiu e pediu desculpas em juízo quando foi
processado pelo PT.
A história do Brasil é recheada de dossiês, denúncias às vésperas
de eleições que não se comprovam, de "balas de prata" e todo tipo de
golpe eleitoral. O Poder Judiciário, mesmo sem querer e sem ter a intenção, não
poderia jamais alimentar esse tipo de coisa.
Um teste de hipótese
Deixa eu desenhar um suposto golpe eleitoral maquiavélico.
O PP é uma sigla que não tem mais uma marca a preservar.
Como o antigo PFL pode mudar de nome, pode se fundir com outro partido, ou seus
membros podem ir para outra sigla.
Esperaram o primeiro turno passar, e quem era candidato pelo
PP que tinha que ser eleito, já foi. Quem perdeu, já perdeu. Então agora não
importa mais queimar a própria sigla, pois pode mudar de nome ou fundir a outro
partido.
Observe que corruptos do PP se davam bem no governo do PSDB
e se ferraram no governo do PT. Esse grupo tem horror a Dilma continuar no
governo. Preferem a volta do PSDB com Aécio e preferem o jeito tucano do
governo FHC.
Só para lembrar, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) é
primo de Aécio e o apoia no Rio de Janeiro. Foi presidente do partido durante
um bom tempo em que Paulo Roberto Costa foi diretor. Aliás, Dornelles foi quem
nomeou Aécio (aos 25 anos) para Diretor da Caixa no governo Sarney.
O atual governador de Minas, Alberto Pinto Coelho, também é
do PP, aliado de Aécio.
Aécio tem aliados do PP em outros estados que o querem
eleito.
Não acuso ninguém do PP, nem poderia sem provas e nem todo
mundo é desonesto. Mas, em tese, alguém interessado na vitória de Aécio que
tinha bom relacionamento com Paulo Roberto e Youssef poderia perfeitamente
combinar através de emissários, advogados, de incentivá-los a incluir em seus
depoimentos frases bombásticas de efeito eleitoral contra o PT de Dilma.
Note que ouvir falar não os incrimina por perjúrio, nem
precisa ser provado, porque apenas disseram que ouviram boatos, rumores. Boatos
podem até ter existido. No judiciário eles não tem nenhum valor se não passarem
de boatos mesmo.
Mas este "ouvi falar" na boca de Costa e Yousseff,
no âmbito de uma delação premiada, ganha ares de verdade absoluta no noticiário
estampado em capas de jornais e revistas, em matérias gigantescas no Jornal
Nacional diariamente, e que serão repetidas no horário eleitoral de Aécio se
ele precisar de munição contra Dilma.
Vale a pena ler também no Tijolaço, "A Justiça em
campanha".
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