“O Brasil é prisioneiro do rentismo, um país onde
deliberou-se que o lucro com juros deve ser sempre e muito maior que o com
produção”
O Conversa Afiada reproduz texto de Fernando Brito, extraído
do Tijolaço:
POR QUE NA EUROPA SE
COMBATE CRISE COM MENOS ARROCHO E AQUI SE FAZ O CONTRÁRIO?
O Banco Central Europeu dobrou as resistências da Alemanha –
a “China” da Europa – e resolveu injetar dinheiro na economia estagnada do
continente, tal como fizeram os EUA no pós-crise.
Os mais apressados vão responder à pergunta do título
dizendo que, por lá, a austeridade eliminou o déficit públicoe os Estados
gastam menos do que arrecadam.
Não é verdade.
Os países da zona do euro reduziram, de fato, em 2013 o seu déficit público a 3% do Produto
Interno Bruto (PIB), 0,7% menos que no ano anterior.
Mas é um déficit que aqui, daria “fuzilamento” nas páginas
de jornal.
E aqui, como se sabe, temos superavit, não déficit.
Mas estariam os países da Europa menos endividados que nós?
Absolutamente, não.
Nem se fale dos países em que a dívida explodiu, como Grécia
e Itália. As poderosas França e Alemanha nos superam fácil, na proporção dívida
pública/PIB com bastante folga (a lista completa pode ser consultada aqui).
Verdade que, nos países em desenvolvimento, com mercados
mais instáveis, as taxas de remuneração do capital querem ser maiores.
Mas nada justifica que precisemos aqui estar no mesmo
patamar da Rússia pós-crise do petróleo.
O quadro abaixo é um escândalo, embora, para sermos justos,
já tenha sido um escândalo maior ainda, em tempos tucanos:
E o mais curioso é que não se pode atribuir, apenas, a
dificuldades momentâneas a taxa de juros altíssima da economia brasileira o que
acontece no país.
Tirando breves momentos ela sempre andou pelas alturas,
tivesse ou não o país problemas de caixa.
O Brasil é prisioneiro do rentismo, um país onde
deliberou-se que o lucro com juros deve ser sempre e muito maior que o com
produção.
Um refém devidamente guardado por um mercado e sua mídia que
“patrulha” e faz fracassar qualquer coisa que se assemelhe ao um capitalismo de
empreendimento e risco. E, claro, qualquer indução ao desenvolvimento que se
faça – e aqui só se faz assim – com financiamentos públicos.
O pior, portanto, não é sermos reféns do capital financeiro.
O pior é termos aqui, aquela famosa “Sindrome de Estocolmo”.
Onde o sequestrado apaixona-se pelo sequestrador e só
raciocina pelas razões de seu captor.
Uma mórbida paixão que se espalha até por quem se diz de
esquerda.
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