Autor: Miguel do Rosário
Um dos problemas de escrever sobre política é nos obrigar,
de vez em quando, a afirmar coisas idiotamente óbvias.
Por exemplo, uma corrupção não justifica outra. Se o PSDB é
corrupto, isso não justifica, obviamente, defender a corrupção no PT.
Digo isso também porque entendo que há setores interessados
em jogar lama sobre toda a política.
Ora, a política é podre no mundo inteiro.
É podre nos EUA, na Europa e na Ásia.
Talvez seja um pouquinho melhor na Suécia, mas demorou
alguns milhares de anos para chegar lá, e o país teve que conquistar antes um
nível de igualdade e justiça social que está anos-luz do resto do mundo.
Entretanto, mesmo com todos os seus defeitos, a política é o
único anteparo que nos salva da barbárie e do caos.
A obra-prima de Costa-Gravas, o filme Z, mostra uma
manifestação fascista contra políticos de centro-esquerda da Grécia que não
queriam a instalação de uma base de ataque nuclear norte-americana no país.
Os fascistas, tentando impedir um comício pacifista
organizado pela esquerda grega, gritavam:
“Políticos, todos corruptos! Políticos, todos corruptos!”
O filme de Gravas, baseado no romance do escritor grego
Vassilis Vassilikos, é baseado em fatos reais da história da Grécia.
Um político de esquerda foi assassinado, e o
Procurador-Geral da República, mancomunado com um punhado de golpistas, tentava
de tudo para manipular a investigação, com objetivo de desqualificar a esquerda
e seus representantes.
Tentava-se dar o golpe por dentro da democracia.
Até que, por fim, não foi possível dar o golpe por dentro da
democracia, por conta de um juiz de instrução que não aceitou entrar no jogo.
Foram obrigados a apelar para a velha fórmula do golpe
militar básico. Com ajuda do governo americano, claro.
Muito parecido com que aconteceu no Brasil, na mesma época,
os anos 60.
No Brasil, isso parece não ser o problema. Os juízes entram
no jogo alegremente. Aliás, até lideram as armações. Vide o caso dos
ex-presidentes do STF, Ayres Brito e Joaquim Barbosa.
Ayres Brito estreiou este fim de semana como colunista do
Estadão, detonando a esquerda e louvando o conservadorismo midiático.
Nada como uma sinecura da Globo para mudar a cabeça de um
cidadão!
Joaquim Barbosa, após empregar seu filho no programa do
Luciano Huck, na Globo, e comprar seu apartamentozinho em Miami (para o qual
abriu a Assas JB Corporation, que tem seu apartamento funcional de Brasília
como sede), também aderiu à onda global.
Sobretudo, temos uma imprensa alquímica, que consegue a
proeza de transformar algumas delações premiadas em verdade, outras em mentira.
Por exemplo, o presidente do DEM, Agripino Maia, foi
denunciado por um “delator” por ter recebido mais de R$ 1 milhão em propina.
Mesmo depois disso, aparece no Jornal Nacional fazendo
ataques “éticos” ao governo.
Nunca houve um editorial, uma campanha midiática, contra
Agripino Maia.
Ele integra o rol dos “intocáveis” da mídia.
O post abaixo, do colega blogueiro Daniel Dantas Lemos,
explica melhor o caso.
*
Sinal Fechado: Delações contra Agripino valem menos que
contra o PT?
postado por Daniel Dantas, no blog Carta Potiguar.
Abril de 2012. O empresário paulista Alcides Barbosa está
preso, em São José do Rio Preto, desde a deflagração da Operação Sinal Fechado
em novembro de 2011.
Assistido por advogados pagos pelos demais envolvidos,
Alcides percebe que a sua defesa, na verdade, não o defende e seu objetivo é
mantê-lo encarcerado para garantir o seu silêncio.
Ciente disso e sabedor de que tem coisas a dizer que
implicariam parte considerável da classe política do RN e alguns nomes de São
Paulo, Alcides topa fazer um acordo de colaboração premiada com o Ministério
Público.
No seu depoimento, confirma algo dito pelo empreiteiro
Gilmar da Montana no dia de sua prisão: o líder do esquema, George Olímpio, deu
um milhão de reais de propina para o senador José Agripino Maia, presidente
nacional do Democratas. E detalha a história: o encontro se deu no apartamento
do senador em Natal. O empresário José Bezerra de Araújo Júnior, o Ximbica, emprestou
quatro cheques de R$ 250 mil para a transação. O objetivo era tentar garantir a
manutenção do negócio de inspeção veicular para o grupo de George no futuro
governo Rosalba.
Como o objetivo não foi alcançado e temendo a repercussão do
caso, Agripino recebeu George e Alcides em sua casa em Brasília no início de
2010 e devolveu metade dos cheques que ainda não tinham sido descontados.
Alcides não sabia se Agripino devolvera os outros quinhentos mil reais.
Pano rápido.
Segundo semestre de 2014. Foi a vez do advogado George
Olímpio, apontado como líder do esquema, realizar um acordo de delação premiada
com o MP. A partir do seu depoimento, confirmando o que disse Alcides, o
Procurador Geral de Justiça ofereceu denúncia contra o presidente da Assembleia
Legislativa, Ezequiel Ferreira de Souza. Os dois disseram, e posteriormente o
MP confirmou, que Ezequiel recebeu R$ 300 mil de George para aprovação da lei
que autorizava o governo do Estado a contratar o serviço de inspeção veicular
obrigatória.
Os depoimentos de George Olímpio também implicaram o senador
democrata José Agripino – o MP confirmou em entrevista que remeteu à
Procuradoria Geral da República informações acerca do envolvimento de políticos
com foro privilegiado. Cabe à PGR investigar e denunciar senadores da
República.
Pano rápido.
Operação Lava Jato. Dentre os vários delatores que já
fizeram acordo para colaboração premiada com o Ministério Público Federal e a
Justiça Federal, Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras que confessou receber propinas
desde 1997, estimou que o PT teria recebido US$ 200 milhões decorrente de
propinas das empreiteiras.
Pano rápido.
Diante dos dois fatos citados, é comum vermos duas posturas
diferenciadas. Soube de um jornalista potiguar, com programa de grande audiência
no rádio, que teria dito sobre as delações contra o PT: “Ninguém vai fazer uma
delação premiada e mentir. Aí tem coisa”. Aí, diante das denúncias contra
Agripino e Ezequiel, o mesmo personagem afirmou que “são apenas depoimentos.
Não há nenhuma prova e os dois têm uma vida limpa”.
Qual motivo existe para que, na opinião não apenas desse
jornalista, o depoimento de Pedro Barusco sobre o PT ter poder de verdade,
enquanto as falas de George e Alcides sobre Agripino serem considerados apenas
depoimentos sem prova? Como ele poderia explicar isso – se é que poderia?
Há outro depoimento sob delação premiada na Operação Sinal
Fechado. Trata-se de Marcus Vinicius Furtado da Cunha, que foi procurador do
Detran. Comenta-se que tanto Marcus como George haviam gravado encontros e
guardado documentos com os fins de se protegerem. Esse material, se existente,
foi repassado ao Ministério Público no âmbito da delação de ambos.
As barbas de Agripino e de seus defensores deveriam ficar de
molho.
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