Rene Marcio Ruschel
A Globo construiu
seu império midiático pela subserviência. Em troca do beneplácito, gozou de
favores e benefícios dos governos da ditadura
A Rede Globo completa, em 2015, 50 anos. Num país onde,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 45%
das empresas não sobrevivem ao segundo ano de existência, meio século de vida é
uma quase eternidade. Para comemorar essa façanha, a programação da Vênus
Platinada tem mostrado toda sua grandiosidade.
O poder midiático da empresa comandada pela família Marinho
é incontestável. Diariamente, cerca de 150 milhões de brasileiros assistem sua
programação. Há 46 anos o Jornal Nacional mostra sua "verdade" na
tentativa de pautar a história do Brasil. As novelas tornaram-se produtos
genuinamente nacional, com direito a exportação para mais de 100 países. Aqui
em Pindorama, dita a moda, usos e costumes.
O enredo começa em 1965, quando o governo militar, recém
instalado no Brasil, precisava de aliados na mídia para se sustentar e propagar
o medo. O comunismo foi eleito como o grande verdugo. Nos porões dos quartéis,
a ditadura instalou uma espécie de governo operacional, onde o arbítrio, a
tortura e a prepotência dos gorilas de plantão não tinham limites.
Enquanto isso, o conglomerado da família Marinho - rádio,
jornal e televisão – não só se calou como apoiou ostensivamente o regime de
arbítrio mostrando apenas o "Brasil grande" fruto do "milagre
brasileiro". A Globo foi conivente com o terror em troca de apoio
financeiro para gerir aquela que viria a ser, 50 anos depois, um dos maiores
conglomerados midiáticos do planeta.
No plano político, além do apoio à ditadura, tentou fraudar
o resultado das eleições para governador no Rio de Janeiro, em 1982. Manipulou
informações e a edição do debate final nas eleições de 1989 a fim de eleger seu
ungido. O resultado foi o processo de impeachment que o destituiu do cargo.
Acobertou, quando convinha, fatos que não eram de interesse da ditadura a quem
servia, como a explosão de uma bomba no colo de dois militares no Riocentro ou
a campanha pelas eleições diretas no Brasil. O patrono, Roberto Marinho,
nomeava ministros segundo suas preferências pessoais. Ou acusava de malversação
do erário público aqueles considerados "persona-non-grata".
Em agosto de 2014, em editorial publicado no jornal O Globo
e depois divulgado no Jornal Nacional, o clã reconheceu que "o apoio ao
golpe de 64 foi um erro". Concluiu que a decisão de tornar pública essa
avaliação "vem de discussões internas de anos, em que as Organizações
Globo concluíram que, à luz da história, o apoio se constituiu um
equívoco".
Por mais que esse gesto possa parecer uma tentativa de
remissão com a sociedade, as mazelas, as dores e os medos impregnados na
memória dos milhares de brasileiros vítimas da brutalidade insana não serão
excluídos pelo sensacionalismo levado ao ar nas últimas noites. O mea-culpa e a
propaganda não absolvem a emissora da conivência com a ditadura e de todas as
tragédias dela advinda.
A Globo construiu seu império midiático pela subserviência.
Em troca do beneplácito, gozou de favores e benefícios dos governos da
ditadura. Um desses escândalos foi um vínculo com grupo norte-americano, Time
Life, de quem recebeu milhões de dólares em ajuda financeira apesar do acordo
ser vedado pela Constituição brasileira. Segundo a revista "Forbes",
em 2014, a família Marinho foi considerada a mais rica do Brasil. Juntos, os
três irmãos têm uma fortuna estimada em US$ 29 bilhões.
A maioria da população brasileira, especialmente as novas
gerações, não conhece essa história. O ideal é que, num momento que o País quer
ser passado a limpo, o tema seja enredo na novela das oito. Mas nesse caso, a
arte não imita a vida.
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