Por Altamiro Borges
O “pastor” Silas Malafaia está endiabrado. Após ser
humilhado ao vivo pelo apresentador Ricardo Boechat – “Malafaia, vai procurar
uma rola. Não me encha o saco. Você é um idiota, um paspalhão, um pilantra,
tomador de grana de fiel, explorador da fé alheia” –, ele agora ameaça
processar o jornalista e pedir sua cabeça ao “meu amigo Johnny”, o avarento
dono da Band. É certo que o “pastor” tem muita grana e poder para infernizar a
vida de um simples mortal. Mas ele terá dificuldade para convencer algum juiz honesto
de que não é homofóbico – a principal acusação real do jornalista, tirando os
adjetivos. O desabafo de Ricardo Boechat ocorreu quando ele comentava a cruel
agressão à menina Kailane Campos, de 11 anos, apedrejada por usar roupas
brancas do candomblé.
A jovem foi atacada no domingo passado (14), no Rio de
Janeiro, por fanáticos que se apresentaram como evangélicos. Segundo reportagem
de Isabel Vieira, na Agência Brasil, Kailane Campos não sofreu ferimentos
graves, mas “a pedra arremessada por intolerância religiosa pode ter deixado
marcas para toda sua vida. A opinião é da avó da menina, Kátia Marinho, que
presenciou a agressão, e disse que, por medo, a neta quer evitar roupas
brancas... ‘Ela está bem de saúde, só que não quer mais sair de branco’, disse
a avó... A família está empenhada em fazer da agressão um símbolo da luta
contra o preconceito religioso, lembrando que a cor branca, usada pelos
praticantes do candomblé e da umbanda, também é a cor que simboliza a paz”.
O Rio de Janeiro, principal palco das pregações homofóbicas
de Silas Malafaia, é o Estado com o maior número de seguidores de religiões
afro no país (1,61%), segundo a Fundação Getúlio Vargas, e também o que lidera
as denúncias de discriminação. Pesquisa da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República (SDH) de 2014 registrou 39 ligações para o Disque 100
denunciando a intolerância. São Paulo, em segundo lugar no ranking,
contabilizou 29 casos. Segundo a professora Denise Fonseca, da PUC-RJ, algumas
seitas neopentecostais fazem o “aliciamento de pessoas em estado de
vulnerabilidade emocional ou material. Ao satanizar e trazer para dentro de
suas igrejas, oferecendo o que chamam de ‘libertação’, nada mais estão fazendo
do que roubando adeptos”.
A pesquisadora aposentada coordenou um estudo sobre os
templos de religiões de matriz africana no Rio de Janeiro. “Ela acredita que
por trás das agressões aos praticantes de candomblé e umbanda está a
necessidade de religiões neopentecostais criarem um inimigo a ser combatido,
para depois cooptar fiéis. Na pesquisa, entre 2008 e 2011, foram mapeados 900
templos religiosos de matriz africana no Rio e 450 queixas de intolerância.
‘São casos que começam com as agressões verbais – ‘filha do demônio’ e ‘vai
para o inferno’, ou seja, a satanização – e passam por agressões às casas
religiosas, com pichações e depredações e até agressões físicas’, revelou
Denise Fonseca”, conforme a reportagem da Agência Brasil.
Esta postura preconceituosa e de estímulo ao
ódio é o que explica a barbárie cometida contra a jovem Kailane Campos, entre
tantas outras vítimas. Com afirma Marcelo Zorzanelli, em excelente artigo
publicado no blog Diário do Centro do Mundo, não dá para esconder “a mão dos
malafaias e felicianos na agressão da menina que sai de uma festa do
candomblé”. Para ele, estas práticas “psicopatas” de discriminação são
criminosas e deveriam ser duramente punidas. “O que dá o direito a este grupo
de pessoas de jogar uma pedra na cabeça de uma criança de 11 anos? A Lei,
certamente, não é. Em vigor desde 5 de janeiro de 1989, a lei nº 7.716
considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões no
país”. Ao processar o jornalista Ricardo Boechat, o “pilantra” Silas Malafaia é
quem
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