Por Antonio Barbosa Filho
O Blog do Miro publicou excelente texto do blogueiro Bepe
Damasco, do qual ousarei discordar, ou melhor, ao qual oporei alguns reparos
que julgo pertinentes. Discordo de uma de suas premissas: “Bastou a presidenta
Dilma enfrentar pela primeira vez os golpistas na entrevista à Folha de S.
Paulo, para a atmosfera golpista ficar um pouco menos carregada”.
Penso, ao contrário, que a presidenta só resolveu apontar o
dedo para os inimigos do seu governo e, pela maneira de agirem contra o
processo democrático, muito depois que membros do PT, do PCdoB, intelectuais e
internautas já estavam no campo de batalha. Louvo que ela tenha começado a
falar a respeito, mas lamento dizer que deveria tê-lo feito muito antes. Na
verdade, esta dívida com o Brasil o PT tem desde o governo Lula, igualmente
condescendente com os discursos golpistas e de ódio. Os resultados que vemos
hoje, com grupelhos e indivíduos querendo agredir petistas e democratas nas
ruas ou ameaçando-os de morte pelas redes sociais, devem-se à inação e ao silêncio
covarde dos dois governos e do PT na questão da regulação da mídia.
A inoculação do veneno do ódio é processo lento, que poderia
ter sido inibido desde o início. Vejo suas origens bem lá atrás no tempo, mas
poderíamos citar a gritaria histérica de um Datena e seus imitadores,
relativizando a violência, criminalizando os pobres, aterrorizando a população
e estimulando a violência policial. São anos e anos desta pregação do terror,
que só resultou em mais e mais violência, de ambos os lados: marginais e
policiais. Enriqueceram-se os que promovem este festival na TV, e os que
realmente controlam o crime organizado, o tráfico, a corrupção policial, o
Judiciário tendencioso.
Nas pessoas que receberam este tratamento midiático,
especialmente os mais jovens, a violência incorporou-se ao mundo como algo
natural, e que violentos são os “outros”, os “diferentes” (cada um escolha os
seus: brancos, negros, homossexuais, ateus, petistas, etc). Sheherazade é
alunas de Datena, e acha o linchamento aldo “compreensível”. De fato, é.
Defendo todo o direito do Datena dizer as besteiras que
quiser, mas acho que um governo progressista deveria, ao menos, oferecer um
contraponto. Nunca houve. Experiências bem sucedidas de redução da
criminalidade pela prevenção, e pela inteligência policial, jamais aparecem na
TV, e os governos responsáveis não têm meios de divulgá-las.
Isso é, digamos, o caldo de cultura. Aí aparecem os radicais
de direita, os ministros pop-stars do tipo Joaquim Barbosa ou Sérgio Moro,
pastores das teologias estelionatárias da “prosperidade”, setores da Polícia
Federal, do Ministério Público e, óbvio, a mídia cartelizada e anti-nacional de
sempre, para completarem o serviço: “bandido merece apanhar e morrer” + “o PT
só tem bandidos, é uma ‘organização criminosa ”como repete a rádio Jovem Pan a
cada 15 minutos). Logo, eliminar o PT, como ensina Olavo de Carvalho à sua
seita de fanáticos, é uma necessidade social, uma limpeza igual a que Hitler
qualificou a extinção dos judeus, ou a Ku-Klux-Klan, aos negros.Olavo diz que
esquerdista é sub-humano – e penso em como se esmaga uma barata.
As falas da presidenta Dilma são essenciais, mas não bastam
se não forem seguidas do cumprimento rigoroso das leis que defendem a sociedade
e a Democracia. Ou seja; identificar, processar e denunciar publicamente os
autores de atos terroristas, das calúnias nas redes ao xingamento da presidenta
num hotel de Nova Iorque, dos que ameaçaram Jô Soares, Fernando Morais, Eduardo
Guimarães, aos que dizem que o filho de Lula é o homem mais rico do Brasil.
A ABIN deve ter (se não tiver é muito incompetente, no que
não creio) a “ficha” dos que pregam o ódio e a violência. A Polícia Federal não
precisa de ordem do ministro ( que diz não querer controlá-la, abdicando da
hierarquia que a lei estabelece) para prender em flagrante quem premedita ou
prega em qualquer espaço um magnicídio ou o assassinato de qualquer cidadão
brasileiro.
Antes da presidenta falar sobre o assunto, o ex-ministro
Guido Mantega já tomara a necessária attitude de processar um elemento (mais um
confessadamente da seita de Olavo de Carvalho, um olavete) pelos insultos que
recebeu num restaurante. O ex-presidente Lula também interpela na Justiça um
deputado que o chamou de ladrão.
Se houverem dezenas de processos como esses, ou seja, um
para cada acusação ou ameaça, talvez retornemos ao curso normal do Sistema
Democrático, no qual todos temos direitos, mas também limites e
responsabilidades.
Bepe conclui seu texto com uma frase que eu assinaria: “Se
quiserem derrotar os golpistas, governo e Dilma serão forçados a subir o tom,
dando nomes aos bois e denunciando para a população os atores envolvidos na
conspiração pelo rompimento da ordem constitucional do país. Não há outra
saída”.
* Antonio Barbosa Filho é jornalista de Taubaté-SP e
Delft-Holanda, e acaba de lançar seu quarto livro, “O Brasil na ‘era dos
imbecis’- o discurso de ódio da Direita”, pelo Clube de Autores.
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