Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
Caro Eduardo Jorge
Em 1998, eu votei em você para deputado federal, pelo PT.
Conhecia uma de suas filhas, da USP (já tinha ido até em festas na sua casa, na
Vila Mariana), e ela fez um apelo de última hora para que ajudássemos a eleger
um velho militante que não tinha recursos, e dependia do “voto de opinião”.
Segui o apelo de sua filha (não sei se ela lembra disso; mas
eu lembro bem). Na época, você era uma liderança do PT, já havia sido deputado
constituinte, tinha sido secretário municipal na gestão Erundina, e havia atuado
na zona leste de São Paulo na organização de movimentos populares.Por causa
desse perfil, dei meu voto a você.
Acompanhei depois sua lenta (mas decidida) aproximação com o
tucanato, e sua curiosa parceria com José Serra. Tenho amigos tucanos, e não
vejo isso como “crime”.
Mas estranhei que você tenha feito esse giro sem jamais
explicar o que achava das privatizações de FHC nos anos 90: a entrega da Vale,
da CSN, a tentativa de vender até a Petrobras (que seus, agora, amigos do PSDB
queriam transformar em “Petrobrax” – lembra?).Você era oposição a isso tudo em
98. No entanto, logo depois saiu do PT (alegando que o partido “abandonara seus
princípios”), e foi-se esbaldar com os cargos oferecidos justamente pelo PSDB
de Serra, ainda que atuando na sublegenda tucana do Partido Verde.Estranhei que
você jamais tenha-se perguntado por que o PSDB e Serra são blindados pela
imprensa paulista, e por isso jamais foram cobrados da mesma forma que petistas
no governo o são. Acho que pra você isso agora está ótimo. Você se tornou
“sócio” dessa turma e desse arranjo, não é?.
Não vou perguntar o que acha do Trensalão tucano (que a
mídia paulista chama de “cartel dos trens”, sem explicar que foram desviados
milhões de reais que deveriam ter sido investidos em transporte público), nem a
sua avaliação sobre a “gestão das águas” de Alckmin em São Paulo… Ambientalista
verde/tucano não deve ter tempo pra olhar o que se passa na Sabesp.
Não vou perguntar. Até porque eu tive já minha resposta
quando o vi, com um ar entre eufórico e abobalhado, de braços dados com Aécio
no segundo turno de 2014.
A imagem encheu-me de tristeza, mas relevei…
Só que agora, Eduardo Jorge, você atravessou o rubicão da
decência.
Vê-lo risonho, numa manifestação como a do último dia 16 de
agosto, em que a maior parte dos presentes manifestava ódio, em que se pedia
volta da ditadura, “morte a Dilma”, manifestação essa que era a clara expressão
do pior conservadorismo paulistano, vê-lo ali foi demais para meu estômago.
Erundina saiu do PT. E manteve a compostura. Plinio saiu do
PT. E manteve a compostura. Você se entregou a esse abraço com o que há de mais
nojento na história recente do Brasil.
Você ali, Eduardo Jorge, era um “enfeite” exótico para um
conservadorismo que leva até torturadores pra discursar em carros de som.
Sei que não é fascista, nem pessoalmente conservador. Mas
ninguém pode ir a uma manifestação daquela e ingenuamente declarar: “ah, eu não
prego o ódio, minha parada é outra”. Sabe por que? Porque eu, seu antigo
eleitor, não poderia estar na Paulista se quisesse usar uma camisa vermelha, ou
se quisesse pedir combate à corrupção de todos os partidos (e não apenas do
PT). Seria chutado, agredido, como tantos estão sendo agredidos Brasil afora
nessa onda de ódio à qual você empresta sua triste figura.
Você, Eduardo Jorge, tornou-se um lamentável oportunista
procurando cabalar votos no mercado da direita. Sabe qual resultado disso?
Ficará sem votos (porque a direita o acha ridículo), sem respeito da esquerda
(a velha e a nova), e apagará sua história.
Meu voto de 1998, sei que não terei de volta. Mas queria que
soubesse: simbolicamente, eu o rasgo aqui!
Eu o rasgo, da mesma forma que Brizola rasgou a folha de
papel onde se lia “P-T-B” – legenda que a ditadura roubou dele.
Você roubou meu voto de 1998, Eduardo Jorge.
Não me arrependo de já ter votado no Plínio de Arruda
Sampaio, no Chico Whitaker, na Erundina – todos eles rompidos com o PT. Não me
arrependo, nem mesmo, de ter votado no Fleury (para derrotar Maluf, em 1990),
ou no Covas (para derrotar o mesmo Maluf, em 1998).
Mas me arrependo, profundamente, de ter dado meu voto para
um oportunista risonho como você.
Boa sorte em sua triste aventura.
Rodrigo Vianna – jornalista, blogueiro e seu ex-eleitor
*****
P.S.: o ex-Eduardo Jorge explicou, numa nota curta, que não
sabia o que estava escrito no cartaz carregado pelo rapaz da foto que abre esse
texto – clique aqui para saber mais.
Como se o problema fosse o cartaz.
Mises não é problema tão grave.
O grave mesmo é aderir a um movimento com toques de fascismo
e intolerância.
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