Fonte: Miguel do Rosário
O penalista argentino, Raul Zaffaroni, estava certo: a Lava
Jato não pode ser comparada a Operação Mãos Limpas, porque a Lava Jato é uma
operação de golpe de Estado.
A Lava Jato pegou corruptos de verdade, e poderia ser usada
para o bem, mas usou as delações de maneira criminosa, direcionando-as para um
lado, manipulando-as, em alguns casos até mesmo distorcendo as palavras dos
bandidos, e, sobretudo, promovendo vazamentos criteriosamente seletivos para os
órgãos de imprensa histericamente partidários, como Veja, Estadão, Folha e
Globo.
Até agora não foi explicado porque, às vésperas das eleições
do ano passado, aconteceram apenas os vazamentos (inclusive vazamentos
mentirosos, nos quais se distorceu as palavras dos delatores) que prejudicavam
Dilma Rousseff, e todos os vazamentos que poderiam afetar Aécio Neves foram
rigorosamente escondidos.
Os advogados dos delatores são indicados pelos próprios
procuradores, o que é notoriamente um vício.
Primeiro foi aquela Beatriz Catta Preta, advogada de vários
delatores, outra irregularidade.
O mesmo advogado para vários delatores aumenta
exponencialmente o risco de delações forjadas, armadas, combinadas, em conluio
com os próprios procuradores.
Depois do estranhíssimo caso de Catta Preta, que resolveu
abandonar seus clientes e fugir para Miami, onde criou uma empresa, temos o
caso de outro advogado suspeito.
O novo "campeão das delações premiadas", Marlus
Arns, foi indicado pelos próprios procuradores e igualmente advogado de vários
réus.
Trecho de reportagem publicada há alguns dias, na Folha,
sobre a Lava Jato:
"Cria-se um relacionamento de confiança. Não tenho
dúvida de que os próprios procuradores indicam advogados para fazer
delação", afirmou um criminalista que também atua na Lava Jato."
Mais grave ainda: esse novo campeão das delações é parente
do vice-governador do Paraná, que é do PSDB.
Conforme a Lava Jato avança, seus métodos se revelam cada
vez mais ilegais.
O seu caráter linchatório e seletivo, em cumplicidade com
uma mídia profundamente partidária, se acentua cada vez mais. Analisando um
artigo de Joaquim Falcão, jurista do FGV que se tornou o novo ventríloquo da
mídia, Luis Nassif destrincha outra série de irregularidades na operação
conduzida pelos procuradores do Paraná.
O blogueiro menciona ainda, en passant, que os procuradores
decidiram atacar o setor elétrico e nuclear logo após voltarem de uma
estranhíssima viagem aos Estados Unidos, onde foram pedir às autoridades
americanas apoio em sua cruzada contra empresas brasileiras.
Além de ser golpe de Estado, a Lava Jato ainda tem esse lado
sinistro, de exalar um cheiro fortíssimo de intervenção imperialista.
Debilitou-se as grandes empresas nacionais de engenharia,
para abrir espaço às estrangeiras, e Othon Pinheiro, o maior cientista nuclear
brasileiro, um idoso de 77 anos, está sendo mantido preso sem provas, sob o
peso de acusações absolutamente ridículas.
A última patacoada de Sergio Moro foi encontrar uma página
na internet, e usar isso como motivo para manter encarcerado, ilegalmente, um
heroi nacional.
O cheiro de golpe e conspiração emanando da Lava Jato fica
cada vez mais forte. Um cheiro tão pútrido que o maior penalista das Américas,
Raúl Zaffaroni, se recusou sequer a comparar a Lava Jato com a Operação Mãos Limpas,
na Itália.
A Operação Mãos Limpas, disse Zaffaroni, não foi tentativa
de golpe de Estado, como é a Lava Jato.
***
No Jornal GGN.
De como a Lava Jato cometeu crime de imprensa com a Veja
SEG, 03/08/2015 - 20:06
Por Luis Nassif, em seu blog.
Procuradores repassaram a Veja trechos da delação de Ricardo
Pessoa antes de conferir sua veracidade.
O artigo na página de Opinião da Folha foi consagrador.
“Lava Jato muda a Justiça e a advocacia”, de Joaquim Falcão
(http://migre.me/r1khz).
O autor é professor de direito na FGV Direito e
umbilicalmente ligado às Organizações Globo. Foi presidente da Fundação Roberto
Marinho e um dos autores de uma biografia laudatória a Roberto Marinho.
Falcão discorre sobre os avanços ocorridos na cooperação
internacional e tece loas á mudança de estilo das investigações. Diz que a nova
geração de juízes, procuradores e delegados dá mais prioridade aos fatos que às
doutrinas; têm mais pragmatismo e menos bacharelismo. E “valorizam a força das
imagens que entram via Internet, televisão, lares e ruas, nos autos e
tribunais” - seja lá o que a frase signifique.
Faz uma enfática defesa da “liberdade de imprensa” e afirma
que os procuradores sabem se valer bem dela.
Falcão é um intimorato defensor da voz das ruas
influenciando julgamentos.
A quais “doutrinas” bacharelescas Falcão se refere?
Talvez ao Artigo 20 do Código Civil:
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à
administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de
escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a
utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e
sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou
a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. (Vide ADIN 4815).
Talvez o artigo 21:
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o
juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir
ou fazer cessar ato contrário a esta norma. (Vide ADIN 4815)
Ou talvez o artigo 138 do Código Penal:
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato
definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a
imputação, a propala ou divulga.
Provavelmente o Artigo 201 paragrafo 6 do Código de Processo
Penal:
§ 6 - O juiz tomará as providências necessárias à
preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo,
inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e
outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua
exposição a meios de comunicação.
Mas, segundo Joaquim Falcão, submeter-se às doutrinas pode
ser sinal de falta de pragmatismo e excesso de bacharelismo.
Vamos analisar as belas palavras de Joaquim Falcão à luz de
alguns fatos recentes, do assassinato de reputação de Valter Cardeal.
O técnico que é amigo de Dilma
Valter Cardeal tem 45 anos de setor elétrico, 30 como
diretor, os últimos 13 como executivo do governo federal. Trouxe na biografia a
participação no governo Alceu Collares, quando Dilma Rousseff era Secretária de
Energia.
Essa ligação custou-lhe 13 anos de marcação cerrada, na qual
levantaram apenas dois episódios contra ele. Mas deu-lhe o mérito de
desenvolver um dos mais importantes programas sociais da era Lula, o programa
Luz Para Todos.
O primeiro episódio, de um suposto envolvimento em
escândalos na Eletrobras em 2010. A Polícia Federal captou uma escuta que, fora
a linguagem coloquial, não tinha um indício sequer de atos irregulares. O caso
acabou arquivado pelo Ministério Público Federal depois que o próprio TCU
constatou a lisura do processo.
Outro caso foi de um diretor da Eletrobras que respondia a
uma ação de improbidade. O problema não foi detectado nem pela Abin (Agência
Brasileira de Inteligência) e nem pela Polícia Federal. A ficha vinda da
Justiça omitia a informação. Pelo fato de sua assinatura estar no processo de
contratação, o Ministério Público Federal abriu uma ação contra ele. O sujeito
que sofreu a ação de improbidade nada sofreu. Cardeal responde à ação até hoje.
As contratações no setor elétrico
Cardeal não trabalha em Angra 3, não integra sequer o
conselho da Eletronuclear. Em princípio nada tem a ver com as obras de Angra 3.
Na condição de diretor de geração da Eletrobras, tem a responsabilidade de
acompanhar indiretamente o avanço financeiro e físico .com.com obra, já que a Eletronuclear
é uma subsidiária.
O modelo de contratação do setor elétrico é totalmente
diferente.com.com.com.com daquele que vigorava na Petrobras.
Fernando Henrique Cardoso tirou as amarras da Petrobras da
Lei das Licitações, mas a empresa não desenvolveu normas de compliance para
monitorar os processos decisórios. Diretores tinham autonomia para contratar
até R$ 2 bilhões. Um diretor podia convocar as empresas, acertar o preço e
contratar.
Na Eletrobras as contratações são submetidas à Lei 8666.
Na hora de licitar uma usina, a Eletrobras procede ao estudo
de licenciamento ambiental, componente indígenas, questão social, o EVTE
(Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica). Analisa o CAPEX (o total de
investimentos) e o OPEX (o total a ser gasto na operação) para chegar ao preço
da energia.
Esses estudos são apresentados à EPE (Empresa de
Planejamento Energético) que analisa e faz ajustes pontuais. Ai vai para o TCU
(Tribunal de Contas da União) que ajuda a estabelecer o preço final.
Terminado o processo, abre-se a licitação e a Eletrobras
disputa o leilão de energia com outras empresas. Vencendo pelo critério do
menor preço, o contrato é homologado pela ANEEL ou pelo poder concedente. E aí
começa a correr o prazo.
A energia tem que ser entregue na data acertada em contrato.
Tem que se calcular o período de construção, o da licença prévia, mais um
período de licença de instalação de operação e, então, o início da geração
comercial. Para entrar na licitação, a Eletrobras precisa assinar um
pré-contrato com a empreiteira, para poder dar o lance final.
Há um embate permanente entre contratantes e contratados.
Se não entregar a energia no prazo combinado, a empresa terá
que a adquirir no mercado à vista, a preços exorbitantes desde que a seca
produziu desequilíbrios hidrológicos relevantes.
Sabendo disso, os empreiteiros fazem um jogo permanente. Mal
começa a obra apelam aos chamados "claims" (cálculos de perdas em
desvios contratuais). Contratam empresas especialistas para calcular perdas. Se
uma fatura é atrasada por mais de 90 dias, têm direito de parar a obra. Se o
contrato é por PU (Preço Unitário), aumentam a quantidade de unidades. Se Preço
Global, sempre tratarão de identificar riscos geológicos maiores que os previstos.
Começa um trabalho de procrastinar enquanto o calendário vai correndo.
As rixas com Ricardo Pessoa
Foi nesses embates que Cardeal conquistou um inimigo,
Ricardo Pessoa, da UTC, apontado como coordenador informal do cartel de
empreiteiras. Até governo FHC o cartel envolvia 13 empresas. Com a explosão de
obras no governo Lula, passou a contar com 26.
Os trabalhos de Angra 3 são complexos. É uma usina antiga,
totalmente analógica e teria que se terminar a construção com sistemas digitais
modernos. Para tanto, teriam que contratar montagem eletromecânica.
O contrato estava andando quando, de repente, os preços
originais de R$ 2,9 bilhões foram reajustados para R$ 3,3 bilhões.
Cardeal já tinha mais de 30 usinas nas costas e percebeu que
o valor ficou alto demais. Com 1.450 MW, Belo Monte é maior que Itaipu e, para
ela, a montagem foi contratada por R$ 1,2 bilhão.
A própria UTC integrava o consórcio contratado para Belo
Monte e caiu fora porque não aceitou baixar o preço. Quando saiu do consórcio,
foi admitida outra empresa e fechado o valor final de R$ 1,2 bilhão.
Logo em seguida a UTC apareceu em Angra 3 integrando um
consórcio com a Camargo Correia e a Odebrechet. O preço já tinha sido
adjudicado para o vencedor e publicado no Diário Oficial de forma relâmpago,
com a aprovação da comissão de licitação.
Na hora de assinar o contrato, Cardeal recusou julgando o
valor excessivo. O presidente da Eletronuclear, Almirante Othon Luiz Pinheiro
da Silva temeu pelo atraso e alegou que nada poderiam fazer já que o orçamento
havia sido aprovado no TCU e publicado no Diário Oficial.
Cardeal insistiu, estudou os contratos e descobriu uma
cláusula que permitia uma redução de até 6% no valor da obra – que representava
R$ 200 milhões – em caso de gestão compartilhada dos consórcios.
Pessoa alegou que a cláusula era opcional. Cardeal rebateu
que poderia ser opcional para as empreiteiras, não para a Eletrobras. E
solicitou que abrissem todos os custos. Vieram com os custos abertos e a
proposta de redução de 3,94%. Cardeal bateu o pé nos 6% e venceu. Tentou
ampliar mais, mas o contrato não permitia.
A vingança de Pessoa
Aí entra a Lava Jato.
Após a visita aos Estados Unidos, a força tarefa da Lava
Jato decidir focar o setor elétrico. Pessoa foi pressionado a ampliar a delação
para além da Petrobrás. E viu a oportunidade de enredar Cardeal em sua delação.
Antes de confirmar qualquer dado, o procurador Dalton
Dalagnol liberou as declarações de Pessoa criminalizando Cardeal para a revista
Veja, mesmo estando protegidas por sigilo.
A versão era de um amplo non sense.
Segundo a matéria fornecida a Veja, a Eletrobras teria
pedido um desconto de 10% no valor cobrado pelo consórcio. Este teria aceitado
um abatimento de 6%. Segundo o jornalismo de baixo nível da revista, “a
diferença não resultou em economia para os cofres públicos” porque a diferença
deveria ser doada para o PT.
Era óbvia a falta de nexo da matéria – e dos procuradores
que passaram as informações.
Primeiro, o ineditismo de baixar o preço para cobrar
propina. Mesmo que a tese fosse correta, não poderia ignorar que houve a
redução de 6% na conta da Eletronuclear.
Além disso, pelas contas da Lava Jato, houve a transferência
de R$ 7,5 milhões para a campanha do PT pela UTC. Ora, 4% do contrato
equivaleriam a R$ 133 milhões. Como explicar essa desproporção entre a suposta
delação de Pessoa e os valores apurados?
Se a força tarefa da Lava Jato se dispusesse a analisar
documentos, antes de repassar a denúncia para revista Veja, poderia consultar a
Carta Eletronuclear à Eletrobras de 7 de abril de 2014 (clique aqui para baixar
os documentos de defsa de Cardeal).
Na carta informa-se de uma reunião de 25.02.2014 conduzida
pelo Diretor de Operações da Eletrobras (Valter Cardeal) na qual os consórcios
apresentaram proposta conjunta de desconto de 3,94%. “Declaram, entretanto,
concordar em elevar esse desconto para 6%, valor previsto no Edital para a
situação de acordo operacional entre os consórcios vencedores”.
Cardeal tentou ampliar o desconto, mas não conseguiu.
A ata é conclusiva: “A Eletrobras Eletronuclear entende como
louvável qualquer esforço na direção de conseguir menores preços para os
empreendimentos e não temos a menor dúvida que este mesmo entendimento vem
norteando a motivação do Dr. Valter Cardeal”.
Mesmo assim, apresentava 6 circunstâncias para concluir o
processo licitatório. Alegava que poucos processos licitatórios haviam sido tão
examinados como aquele. A postergação da assinatura dos contratos de montagem
impactava diretamente o cronograma de conclusão.
Outro documento, de 26 de março de 2014, comprova que o
consórcio propunha uma redução de apenas 3,94% no valor final do contrato.
No Estadão de ontem (http://migre.me/r1jJn), trechos de
e-mails recolhidos do consórcio tratam Cardeal como “Eclesiástico” e “Sua
Santidade” e informam que ele questionou a Eletronuclear sobre os preços
cobrados.
De que adiantou? O rosto de Cardeal e a pecha de criminoso
circularam por revistas do porte da Veja e , esta semana, da IstoÉ.
O excesso de pragmatismo
Voltemos à apologia de Joaquim Falcão aos métodos mais
afeitos aos fatos do que à doutrina, de procuradores que sabem aproveitar a
liberdade de imprensa.
Numa ponta tinha-se o líder de um cartel, Ricardo Pessoal,
réu confesso, e uma revista – a Veja – até recentemente associada a uma
organização criminosa, de Carlinhos Cachoeira. Veja participou ativamente das
manobras para anular a Operação Satiagraha, divulgando informações falsas,
promovendo assassinatos de reputação em troca de gordas verbas publicitárias do
grupo Opportunity.
Na outra, um técnico do setor com 45 anos de carreira sobre
a qual não pesa uma denúncia consistente sequer.
Se a doutrina tivesse sido seguida, Dallagnol não teria
passado as informações para Veja antes de apurar sua consistência. Cardeal
teria tido oportunidade de se defender e demonstrar sua inocência.
O preço dessa parceria midiática não se restringe aos
inocentes fuzilados pelo caminho. A conta é muito mais cara.
Entra na conta a blindagem conferida à Editora Abril, depois
das abundantes provas colhidas pela Operação Monte Carlo de envolvimento com
Carlinhos Cachoeira; a blindagem assegurada à Globo, envolvida até o pescoço
com os problemas da CBF e da FIFA; o prurido em divulgar qualquer informação
sobre as contas do HSBC; o temor do Procurador Geral em desarquivar o processo
contra Aécio Neves, por conta no paraíso fiscal de Lienchestein ou de aceitar a
denúncia minuciosa do doleiro Alberto Yousseff sobre propinas cobradas em
Furnas.
Ou seja, viva os novos métodos de investigação e a
cooperação internacional, viva os jovens procuradores e seu afã em limpar o
Brasil.
Mas não se venha com a hipocrisia de supor que a parceria
com a mídia é neutra. Essa parceria emulou o velho modelo da República Velha.
Quem estiver debaixo do guarda-chuva da mídia, estará a salvo. Para os demais,
que se virem.
Os documentos de defesa de Cardeal
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