Por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual:
Em mais uma fase da Operação Lava Jato foi preso
preventivamente o pecuarista José Carlos Bumlai, na manhã de ontem (24). O
Ministério Público afirma que as delações premiadas justificam a prisão. A
defesa de Bumlai afirma que o empresário tem como provar com documentos que os
delatores mentiram no caso dele.
As manchetes da imprensa tradicional usaram e abusaram da
expressão "amigo de Lula" para se referir ao empresário preso, numa
tentativa de mais uma vez associar o ex-presidente a denúncias de corrupção. Se
depender da leitura das manchetes o pecuarista está preso por ser "amigo
de Lula", tamanha a ênfase dada. Apesar disso, os próprios procuradores da
força-tarefa que prenderam o pecuarista afirmaram claramente, em entrevista
coletiva, que não há nenhuma prova contra o ex-presidente.
O que existe é o "uso indevido do nome e da autoridade
do ex-presidente da República, que, mesmo não mais no cargo, ainda é uma das
pessoas mais poderosas do país", segundo despacho do próprio Sergio Moro,
o juiz que encabeça as investigações e sobre o qual pairam inúmeras denúncias
de seletividade e parcialidade de sua condução.
De acordo com as notícias publicada na imprensa, Bumlai só
foi apresentado a Lula em 2002, quando já era um dos maiores criadores de gado
do Brasil. Fez o mesmo que outros grandes empresários dispostos ao diálogo,
considerando que, à época, muitos hostilizavam ou temiam um governo petista.
Mas, convenhamos, se "ser amigo" já é
criminalizado pela imprensa tradicional, como deveriam tratar "ser sócio"?
Pois o narrador esportivo da TV Globo Galvão Bueno foi sócio
de Bumlai na rede de fast food Burger King no Brasil, numa composição
empresarial que tinha ainda o ex-prefeito de Santos e atual deputado federal
Beto Mansur (ex-PSDB, ex-PP e atualmente no PRB) e do piloto de Fórmula Indy
Hélio Castro Neves.
João Carlos Saad, dono da TV Bandeirantes, foi sócio de
Bumlai na TV Terraviva, dedicada ao agronegócio, que também teve como sócio o
também empresário Jovelino Mineiro, que por sua vez, foi sócio do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso na fazenda Córrego da Ponte, no município mineiro de
Buritis.
O pecuarista José Carlos Bumlai tem muitos outros amigos
políticos, alguns deles graúdos empresários da bancada ruralista. O
ex-governador de Mato Grosso e atual senador Blairo Maggi (PMDB-MT), o
presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Jorge Picciani
(PMDB-RJ), criador de gado; Jonas Barcelos (ex-dono de freeshops em aeroportos
e ligado ao ex-senador Jorge Bornhausen (PSD-SC), também criador de gado. E se
aproximou de petistas matogrossenses antes de Lula chegar à presidência, no
período em que o PT governou Mato Grosso.
É óbvio que ninguém pode ser criminalizado por atos de
terceiros, apenas por ser sócio, parente, amigo, colega de trabalho ou o quer
que seja, se não participou de atos ilegais.
Mas é óbvio também que há muito cinismo dos veículos de
comunicação que tiveram negócios com Bumlai, em apresentá-lo ao distinto
público apenas como se fosse "amigo" exclusivamente de Lula.
Entrevista de Bumlai em 2009 à revista IstoÉ Dinheiro Rural
mostra a trajetória do então queridinho da mídia: "Nascido em Corumbá, sua
família o mandou para estudar em São Paulo em um colégio católico frequentado
pela elite paulistana. Foi colega de aula de Luiz Fernando Furlan (ex-dono da
Sadia e ex-ministro no primeiro governo Lula) e do ex-presidente da Nestlé,
Ivan Zurita. Depois estudou engenharia na Universidade Mackenzie nos anos 1960,
frequentada pela elite na época.
Trabalhou 30 anos com o "rei da soja" Olacyr de
Moraes, boa parte do tempo em cargos de direção do Grupo Itamaraty, que tinha a
empreiteira Constran e o extinto Banco Itamaraty. Com Olacyr, Bumlay introduziu
o cultivo de cana em Mato Grosso do Sul e produção de etanol.
Ele também fez parte da diretoria de associações patronais
ligadas ao agronegócio. É óbvio que, com um currículo destes, Bumlai deva ter
conhecido muitos políticos e autoridades desde o tempo da ditadura – de alguns
pode ter virado amigo e de outros, sócio e parceiro.
Em 2002 conheceu o ex-presidente Lula, e foi um dos
empresários de grande porte do agronegócio que abriu canais de diálogo com o
governo petista, quando o setor tinha um diálogo difícil com o PT. Integrou o
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), fórum criado no governo
Lula para empresários, trabalhadores e outros agentes da sociedade debaterem
ideias e pactuarem soluções e políticas públicas para o desenvolvimento.
Se Bumlai se meteu em alguma falcatrua, ou se usou o nome do
ex-presidente indevidamente (ele nega), ainda está para ser esclarecido. Se o
Ministério Público vai provar algo realmente ilícito contra o pecuarista, ou se
ele está preso apenas por ser "amigo de Lula", como insinuam as
manchetes, também veremos.
Afinal na fase anterior da Operação Lava Jato, o Ministério
Público Federal escreveu com todas as letras que Gregório Marin Preciado –
ex-sócio e muito ligado e parente do senador José Serra (PSDB-SP) – foi o
operador de uma propina de US$ 15 milhões na compra da refinaria de Pasadena,
nos Estados Unidos, mas nenhuma prisão preventiva foi pedida, muito menos
nenhum mandato de busca e apreensão em seus endereços foi feito.
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