Por Bepe Damasco, em seu blog:
Estatura moral e política não se compra na esquina. E nada
melhor do que uma reles expectativa de poder, por mais ilegítima que seja, para
se conhecer os meandros da alma de um político. Septuagenário e professor de
direito constitucional, o vice-presidente da República tinha a obrigação de
saber que fica feio criar pretextos pueris para justificar a ruptura da ordem
constitucional.
Primeiro o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, ligado
a Temer, deixa o governo, em clara sinalização de que o vice flertava
fortemente com o movimento pela destruição da democracia. Na sequência, Temer
dá início a um périplo de conversas com tucanos de alta plumagem visando,
pasmem, traçar planos para um eventual governo seu.
Se tivesse apreço pela Constituição que jurou defender,
Temer não hesitaria em rechaçar o golpe logo que Eduardo Cunha, o maior
meliante do mundo político, acatou um dos pedidos de impeachment.
As coisas não podem se misturar. Temer tem todo o direito de
não gostar da presidenta, de não se sentir prestigiado por ela. Alimentar
mágoas provocadas pela convicção de que não goza da confiança de Dilma também é
natural e, sobretudo, humano. Contudo, nada disso justifica sua adesão à
aventura irresponsável do golpe.
Mais do que lealdade institucional à presidenta, o que se
exige de um vice-presidente da República é respeito às leis e ao regime
democrático. Como lhe falta coragem para assumir publicamente que conspira
junto com os verdugos da democracia, Temer apela para subterfúgios e platitudes
do tipo "espero quer o país sai pacificado disso tudo" ou "vou
me curvar à vontade da maioria do meu partido."
No melhor estilo camaleão, Temer troca uma conversa olhos
nos olhos com a presidenta por uma cartinha, cujo tom e conteúdo ficariam
melhor caso fossem da lavra de um colegial. E pior: no afã de alimentar uma
rede de intrigas que possa afastá-lo de qualquer compromisso com a presidenta,
reclama do vazamento do teor da missiva.
E ainda divulga a íntegra da carta para constranger Dilma e,
de quebra, tentar garimpar uns votinhos a favor do golpe entre seus
correligionários. Mas alto lá. Qualquer cidadão com mais de dois neurônios sabe
a quem interessa o vazamento.
Para os combatentes da causa democrática que se exasperam
com o papelão do vice, cabe uma lembrança: a pior fase do governo Dilma
coincide justamente com o período em que Temer era o responsável pela
articulação política junto ao Congresso Nacional. Após uma sucessão de derrotas
acachapantes, ele deixou o cargo. A verdade é que sua ascendência sobre deputados
e senadores do seu partido é pouco relevante.
Depois da derrota do impeachment, a Temer não restará outro
caminho que não seja a renúncia. Até lá quem sabe ele responda a Ciro Gomes,
que, além de apontá-lo como o "capitão do golpe", denunciou em
recente entrevista suas "estreitas" ligações com Eduardo Cunha.
0 comentários :
Postar um comentário