Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
Não era contra a corrupção. Era contra o PT.
Essa é uma das conclusões essenciais da campanha movida pela plutocracia em nome da “moralidade” da qual resultou o golpe.
Dirceu, condenado hoje por Moro a 23 anos de prisão, foi uma das vítimas dessa perversão de justiça.
Três líderes petistas tinham que ser destruídos para o golpe plutocrático funcionar. Lula, Dilma e ele, Dirceu.
O
primeiro da fila foi Dirceu. A imprensa, sobretudo a Veja, abandonou
qualquer fundamento jornalístico para assassinar sua reputação e
colocá-lo na prisão.
Transformaram-no no que ele definitivamente não é: um monstro. Esquarteje-se esse monstro.
Na
perseguição, a Justiça foi cúmplice da mídia. Primeiro foi Joaquim
Barbosa, durante o Mensalão. Barbosa sabia que quanto mais espezinhasse
Dirceu mais seria louvado pela imprensa.
Depois, Moro com a Lava
Jato completaria o serviço sujo. A condenação absurda de Dirceu a 23
anos é o fecho da obra de Moro contra um dos grandes arquitetos do PT.
Uma
sessão de interrogatório de Moro contra Dirceu é exemplar. Moro
revelou, ou fingiu, uma ignorância desumana em relação a atividades que
renderam dinheiro a Dirceu.
Com seus relacionamentos com líderes
internacionais, Dirceu era o consultor ideal para empresas interessadas
em fechar negócios em outros países.
É uma atividade comuníssima
no mundo globalizado e capitalista. A Ambev, para ficar num caso, tinha
uma pendência na Venezuela. Quem melhor que Dirceu, amigo de Chávez e de
Maduro, para auxiliar a Ambev nessa tarefa?
É um serviço sempre remunerado. Dependendo dos valores em questão, muito bem remunerado.
Foi
constrangedor ouvir as questões de Moro, com sua voz fina tão
contranstante com a fantasia de super-heroi que a imprensa tentou lhe
por.
A única manifestação de decência, naquele interrogatório,
veio do interrogado. Pacientemente, Dirceu explicou ponto por ponto das
questões que Moro lhe fez. Num gesto de altivez e lealdade, quando lhe
foi indagado se tinha algo a dizer a mais no final, afirmou que “o
presidente Lula” jamais participara de nada que pudesse incriminá-lo.
O
real crime de Dirceu, neste país que deixa um psicopata ladrão como
Eduardo Cunha roubar durante décadas, é ser um inimigo da plutocracia.
O resto é encenação.
A
sentença de 23 anos lavrada por Moro é o ápice dessa antijustiça. É uma
coisa tão patética e abstrusa quanto os exercícios de “dosimetria” que
fixaram as penas do Mensalão.
Na Noruega, uma sociedade
imensamente mais avançada que o Brasil construído pelos plutocratas
predadores, 21 anos de cadeia foi a sentença de Anders Breivik, o
fanático de direita que matou dezenas de jovens de um partido para ele
complacente contra a “estratégia” de dominação muçulmana. Dois anos
menos que Dirceu, portanto.
Ou a Noruega está errada ou Moro e a
Justiça brasileira estão errados. Faça sua escolha. (Breivik, caso se
mostre perigoso ao fim da sentença, poderá ficar preso mais tempo.)
Mais que tudo, a decisão de Moro sobre Dirceu é uma evidência mais do que justiça parcial é ainda pior do que justiça nenhuma.
Na
justiça parcial, você autoriza determinado grupo – a plutocracia – a
esmagar o resto da sociedade. Na justiça igualmente falha, você
estabelece ao menos uma meritocracia darwiniana: vence quem melhor se
adapta às circunstâncias, não importa o dinheiro em jogo.
Moro vai passar para a história como um servo da plutocracia. Dirceu, como uma vítima dela.
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