REFLEXÃO DA SEMANA Nº 61
Por
Dedé Rodrigues
Bom
dia meus amigos e minhas amigas ouvintes do Programa Tabira em Tempo. O
município de Tabira está completando 67 anos. Muito teria que escrever sobre a
sua história, as suas realizações e a contribuição que cada pessoa, os poderes
públicos e cada autoridade deu para ela tornar-se o que é hoje. Seus
avanços e recuos, seus acertos e erros etc. Porém nessa curta reflexão,
extraída exclusivamente da minha memória, portanto carente de
complementos, pretendo expor parte da contribuição das forças
progressistas, especialmente das forças mais à esquerda de Tabira, desde
os anos 60 até os dias atuais na história de Tabira.
Tabira,
tornou-se conhecida como uma cidade rebelde, o que contrasta, em
certa medida, com boa parte dos seus governantes desse período. Porém eu
penso que o surgimento das correntes mais à esquerda se deve à contribuição do
Bispo progressista de Afogados da Ingazeira, Dom Francisco, que tinha um Programa
na Rádio Pajeú daquela cidade que conscientizava o povo da Região do Pajeú dos
seus direitos. Contava meu pai, João Elias, que era “militante fervoroso” da
Teologia da Libertação da Igreja Católica, que Dom Francisco lhe convenceu, em
plena Ditadura Militar, a iniciar uma campanha pela fundação do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Tabira. Não é por menos, que ele e outros companheiros,
como Zé Lopes me lembrou recentemente, que por pouco não foram
presos pelo delegado local na época, em Frente a Igreja matriz, quando
faziam campanha pela fundação daquela entidade no dia da feira. Meu pai contou
que peitou o delegado dizendo: “foi Dom Francisco que mandou e nós não
vamos desistir”.
Nos
início dos anos 80, liderados pelo Advogado e militante do PMDB Roberto Pires,
um grupo de jovens, no qual me incluo, fazia discursos inflamados nas
reuniões das comunidades rurais de Tabira contra a Ditadura Militar que se
encontrava agonizante. Três acontecimentos mudaria a vida desses jovens: um
encontro com grande líder comunista Gregório Bezerra que nos relator as
torturas que sofreu da ditadura . Outro encontro com um membro do PCB do
Recife chamado Zelaia que previu a criação do partidão em Tabira e o
contato com a literatura Marxista, por intermédio dos livros do nosso
amigo “Beto Pires”, como carinhosamente o conhecíamos. Acho
que Tabira deveria se orgulhar desses jovens da época que ajudaram a sepultar a
Ditadura Militar que estava agonizante. Aquela ditadura foi um regime tirano que
torturou, como fez com a nossa querida poetisa e militante socialista
Celeste Vidal, exilou pessoas e assassinou muita gente de bem nesse país.
Ainda
no início dos anos 80, na seca terrível que durou 3 anos, os trabalhadores
saquearam feiras e milhares deles, dirigidos pelos Sindicato Rurais e
pela a FETAPE, fizeram passeatas em Tabira e região cobrando as chamadas
frentes de emergências para combater os efeitos da seca. Nós da esquerda,
correntes e lideranças ligadas na época ao PSB, ao PT e ao PC do B,
estávamos no comando dessas lutas.
Nessa
mesma década eu viajei para São Paulo, onde, como operário, entrei no
Partido Comunista do Brasil e participei de grandes greves no Sindicato dos
vidreiros. Mesmo residindo lá orientei alguns companheiros a criar o partido aqui
em Tabira. Quando retornei a Tabira, no final dos anos 80, fundamos o primeiro
Grêmio Estudantil do Pajeú, na Escola Arnaldo Alves Cavalcanti. Por volta
dessa época surgiu também o PT (Partido dos Trabalhadores). Nessa época o
saudoso Roberto Pires que fazia um Programa na Rádio Pajeú de
Afogados da lngazeira, chamado Tabira em Tempo, me passou o comando do programa
em 1988 para comunicar à população e denunciar as injustiças, cujo programa,
durou até o ano 2000.
Já
nos anos 90 participamos da campanha contra o impeachment de Collor,
encabeçamos greves municipais pela educação e, o povo de Tabira
orientado por nós, votou majoritariamente nos candidatos da esquerda para
presidente da República e governador, Lula, Jarbas e Arraes. É também
nessa década que o PT e o PC do B elegeram os seus primeiros vereadores para o
Legislativo local e passaram a dirigir o Sindicato dos Trabalhadores rurais de
Tabira. Inicialmente, numa disputa acirrada e equilibrada entre a
Corrente Sindical Classista e Articulação da CUT, Central Única dos
Trabalhadores, a primeira encabeçada por mim e a segunda por Arististides
Santos. Depois eu mudei de categoria e de Sindicato e a Articulação da
CUT administra o Sindicato Rural até os dias de hoje.
O
século XXI, meus amigos, começa bem a nível federal, pois vencemos
em Tabira, com Lula e Dilma, as quatro eleições que houveram para
presidente da República do Brasil. A nível municipal o PT mantém o
Vereador e o PC do B elege outro Vereador, Aldo Santana e um Vice-Prefeito Joel
Mariano, hoje os dois não pertencem mais ao partido.
A
nível estadual também Ganhamos boa parte das eleições com o PSB, (Partido
Socialista Brasileiro) encabeçadas por Eduardo Campos e Paulo
Câmara. Á nível municipal e estadual o PT não se incluiu na aliança do
PSB com o PC do B.
Agora,
na segunda década do século XXI, existe uma nova rearrumação
das forças políticas no Brasil e no Estado. O PSB e o PT se separam a nível
nacional e estadual, parte do PSB caminha para posições mais conservadoras,
chegando até a assumir ministério no governo interino de Michel Temer do PMDB,
este partido que um dia prestou um grande serviço à nação e a democracia, hoje é considerado pelas forças de esquerda, um partido que dirige
um governo golpista, traidor, de direita, neoliberal e entreguista.
Nesse
início de século XXI, além da nossa participação no comando das últimas
greves da educação no município, greves estaduais dirigidas pelo SINTEPE,
temos um fato novo que é o golpe contra Dilma em pleno andamento. Pela primeira
vez amplia-se a aliança de esquerda no município, nessa luta
política, se juntam o PTB, PT, PT do B e o PC do B, com apoio do Sindicato
Rural, da CUT e da FETAPE, criam a Frente Brasil Popular no município de Tabira
e o Comitê contra o Golpe, faltando ainda o lançamento oficial dele. Essa
aliança de lutas já realizou três atos de peso contra o golpe no município. No
primeiro, que foi municipal, nós lotamos a Câmara de Vereadores. Os dois
outros, foram atos regionais, nos quais reunimos mais de mil pessoas
contra o golpe aqui em Tabira.
Para
concluir meus amigos, o município de Tabira apesar das suas particularidades e
de está circunscrito a um pequeno espaço geográfico do país e do mundo, a sua
história política e de luta de classes tem os mesmos aspectos gerais de outras
regiões. Aqui existe aquelas lideranças políticas que perderam o norte que
defenderam um dia, traíram seus próprios ideais por interesses menores. Aqui se
projetou também muitas lideranças que falam no povo, mas pensam mais em si. Mas
aqui também, embora ainda em menor número, nasceu e cresceu lideranças de
esquerda que não abriram mão de seus partidos, das suas utopias, de seus
ideais e da nossa democracia. É só o povo observar, na sua infinita sabedoria, quem está contra o golpe de Estado de direita que já prejudica o país e o povo
trabalhador e quem está a favor desse impeachment fraudulento contra a
presidenta Dilma, contra a lava jato, contra as liberdades e contra os
direitos sociais.
Parabéns
Tabira pelos seus 67 anos!
Vivam
os tabirenses que lutam contra o golpe e pela democracia!
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