domingo, 29 de maio de 2016

TABIRA, 67 ANOS: UM BREVE OLHAR PARA A ESQUERDA

 REFLEXÃO DA SEMANA Nº 61

Por Dedé Rodrigues
Bom  dia meus amigos e minhas amigas ouvintes do Programa Tabira em Tempo. O município de Tabira está completando 67 anos. Muito teria que escrever sobre a sua história, as suas realizações e a contribuição que cada pessoa, os poderes públicos e cada autoridade  deu para ela tornar-se o que é hoje. Seus avanços e recuos, seus acertos e erros etc. Porém nessa curta reflexão, extraída exclusivamente da minha memória, portanto carente de complementos,  pretendo expor parte da  contribuição das forças progressistas, especialmente das forças mais à esquerda de Tabira, desde os anos 60 até os dias atuais na história de Tabira.

Tabira,  tornou-se  conhecida como uma cidade rebelde,  o que contrasta, em certa medida,  com boa parte dos seus governantes desse período. Porém eu penso que o surgimento das correntes mais à esquerda se deve à contribuição do Bispo progressista de Afogados da Ingazeira, Dom Francisco, que tinha um Programa na Rádio Pajeú daquela cidade que conscientizava o povo da Região do Pajeú dos seus direitos. Contava meu pai, João Elias, que era “militante fervoroso” da Teologia da Libertação da Igreja Católica, que Dom Francisco lhe convenceu, em plena Ditadura Militar, a iniciar uma campanha pela fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tabira. Não é por menos, que ele e outros companheiros,  como Zé Lopes me lembrou recentemente, que por pouco  não foram presos pelo delegado local na época, em Frente a Igreja matriz,  quando faziam campanha pela fundação daquela entidade no dia da feira. Meu pai contou que peitou o delegado dizendo:  “foi Dom Francisco que mandou e nós não vamos desistir”.    
Nos início dos anos 80, liderados pelo Advogado e militante do PMDB Roberto Pires, um grupo de jovens, no qual me incluo,  fazia discursos inflamados nas reuniões das comunidades rurais de Tabira contra a Ditadura Militar que se encontrava agonizante. Três acontecimentos mudaria a vida desses jovens: um encontro com grande líder comunista Gregório Bezerra que nos relator as torturas que sofreu da ditadura . Outro  encontro com um membro do PCB do Recife chamado Zelaia que  previu a criação do partidão em Tabira e o contato com a literatura Marxista,  por intermédio dos livros do nosso amigo “Beto Pires”,  como carinhosamente o conhecíamos.   Acho que Tabira deveria se orgulhar desses jovens da época que ajudaram a sepultar a Ditadura Militar que estava agonizante. Aquela ditadura foi um regime tirano que torturou,  como fez com a nossa querida poetisa e militante socialista Celeste Vidal, exilou pessoas  e assassinou muita gente de bem nesse país.
Ainda no início dos anos 80, na seca terrível que durou 3 anos, os trabalhadores saquearam feiras e  milhares deles, dirigidos pelos Sindicato Rurais e pela a FETAPE, fizeram passeatas em Tabira e região cobrando as chamadas frentes de emergências para combater os efeitos da seca. Nós da esquerda, correntes e lideranças ligadas na época ao PSB, ao  PT e ao PC do B,  estávamos no comando dessas lutas. 
Nessa mesma década eu viajei para São Paulo, onde, como operário,  entrei no Partido Comunista do Brasil e participei de grandes greves no Sindicato dos vidreiros. Mesmo residindo lá orientei alguns companheiros a criar o partido aqui em Tabira. Quando retornei a Tabira, no final dos anos 80, fundamos o primeiro Grêmio Estudantil do Pajeú,  na Escola Arnaldo Alves Cavalcanti. Por volta dessa época surgiu também o PT (Partido dos Trabalhadores). Nessa época o saudoso Roberto Pires que fazia  um  Programa na Rádio Pajeú de Afogados da lngazeira, chamado Tabira em Tempo, me passou o comando do programa em 1988 para comunicar à população e denunciar as injustiças, cujo programa, durou até o  ano 2000.
Já nos anos 90 participamos da campanha contra o impeachment de Collor, encabeçamos greves municipais pela educação  e,  o povo de Tabira orientado por nós,  votou majoritariamente nos candidatos da esquerda para presidente da República e governador, Lula, Jarbas e Arraes.  É também nessa década que o PT e o PC do B elegeram os seus primeiros vereadores para o Legislativo local e passaram a dirigir o Sindicato dos Trabalhadores rurais de Tabira. Inicialmente,  numa disputa acirrada e equilibrada entre a Corrente Sindical Classista e Articulação da CUT, Central Única dos Trabalhadores, a primeira encabeçada por mim e a segunda por Arististides Santos.  Depois eu mudei de categoria e de Sindicato e a Articulação da CUT administra o Sindicato Rural até os dias de hoje.   
O século XXI, meus amigos, começa bem a nível   federal, pois vencemos em Tabira, com Lula e Dilma,  as quatro eleições que houveram para presidente da República do Brasil. A  nível municipal o PT mantém o Vereador e o PC do B elege outro Vereador, Aldo Santana e um Vice-Prefeito Joel Mariano, hoje os dois não pertencem mais ao partido.   
A nível estadual também Ganhamos boa parte das eleições  com o PSB, (Partido Socialista Brasileiro) encabeçadas por  Eduardo Campos e Paulo Câmara.  Á nível municipal e estadual o PT não se incluiu na aliança do PSB com o PC do B.
Agora,  na segunda década do século XXI,  existe uma nova  rearrumação das forças políticas no Brasil e no Estado. O PSB e o PT se separam a nível nacional e estadual, parte do PSB caminha para posições mais conservadoras,  chegando até a assumir ministério no governo interino de Michel Temer do PMDB, este partido que um dia prestou um grande serviço à nação e a democracia,  hoje é considerado pelas forças de esquerda,  um partido que dirige um governo golpista, traidor, de direita, neoliberal e entreguista. 
Nesse início de século XXI,  além da nossa participação no comando das últimas greves da educação no município, greves estaduais  dirigidas pelo SINTEPE, temos um fato novo que é o golpe contra Dilma em pleno andamento. Pela primeira vez amplia-se a aliança de esquerda no município,  nessa luta política, se juntam o PTB, PT, PT do B e o PC do B, com apoio do Sindicato Rural, da CUT e da FETAPE, criam a Frente Brasil Popular no município de Tabira e o Comitê contra o Golpe, faltando ainda o lançamento oficial dele.  Essa aliança de lutas já realizou três atos de peso contra o golpe no município. No primeiro,  que foi municipal, nós lotamos a Câmara de Vereadores. Os dois outros, foram atos regionais,  nos quais reunimos mais de mil pessoas contra o golpe aqui em Tabira.
Para concluir meus amigos, o município de Tabira apesar das suas particularidades e de está circunscrito a um pequeno espaço geográfico do país e do mundo, a sua história política e de luta de classes tem os mesmos aspectos gerais de outras regiões. Aqui existe aquelas lideranças políticas que perderam o norte que defenderam um dia, traíram seus próprios ideais por interesses menores. Aqui se projetou também muitas lideranças que falam no povo, mas pensam mais em si. Mas aqui também, embora ainda em menor número,  nasceu e cresceu lideranças de esquerda que não abriram mão de seus partidos, das suas utopias, de seus ideais e da nossa democracia. É só o povo observar, na sua infinita sabedoria,  quem está contra o golpe de Estado de direita que já prejudica o país e o povo trabalhador e quem está a favor desse impeachment fraudulento contra a presidenta Dilma, contra a lava jato,  contra as liberdades e contra os  direitos sociais.
Parabéns Tabira pelos seus 67 anos!
Vivam os tabirenses que lutam contra o golpe e pela democracia!   


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