O sentimento comum na força-tarefa hoje é
de que eles foram usados para derrubar a presidente Dilma Rousseff e, agora que
o impeachment está quase consolidado, estão sendo descartados. “Éramos lindos
até o impeachment ser irreversível. Agora que já nos usaram, dizem chega”
Por Jornal GGN
Sob anonimato, um procurador da Operação Lava Jato disse à jornalista
Natuza Nery, responsável pelo Painel da Folha desta
quarta (24), que o sentimento comum na força-tarefa hoje é de que eles foram
usados para derrubar a presidente Dilma Rousseff e, agora que o impeachment
está quase consolidado, estão sendo descartados. “Éramos lindos até o
impeachment ser irreversível. Agora que já nos usaram, dizem chega”, disse o
procurador.
Conforme o GGN mostrou semanas atrás, a Lava Jato bateu
recorde de aparecimento nas manchetes de jornais durante o mês
de março de 2016, criando o clima favorável ao impeachment de Dilma Rousseff na
Câmara. Mais de um terço das capas da Folha foram dedicadas à operação e a
outras investigações contra Lula. O próprio Datafolha nunca usou as
pedaladas fiscais para questionar à população se Dilma merecia
o impeachment. A pergunta feita era se as “revelações” da Lava Jato deveriam
render o seu afastamento.
A fala do
procurador ocorre após o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes
reagir ao vazamento de suposta delação da OAS citando Dias Toffoli, membro da
Corte, apenas para criar constrangimentos. Segundo a colunista, “o Estado-maior
da Lava Jato é unânime: o avanço das investigações sobre setores do Judiciário
pode acabar se transformando em um freio na operação.”
Após o episódio,
Gilmar deu uma série de entrevistas sinalizando que a Lava Jato está se
comportando como um grupo de “heróis” sem limites e que deveria, ao invés
disso, “calçar as sandálias da humildade”. O ministro também disparou contra
uma das propostas defendida pelos membros da operação no Congresso, que trata
da permissão de usar provas obtidas de maneira irregular, desde que de boa-fé.
Chegou a dizer que isso é coisa de “cretino”.
Com a reação do
ministro do STF, o procurador-geral da República Rodrigo Janot veio à tona
defender a Lava Jato do vazamento. Disse que a responsabilidade pelo factóide
entregue à Veja era dos advogados da OAS, que estariam fazendo pressão para
fechar a delação de Leo Pinheiro. Ele também afirmou que não existe nenhuma
menção a Toffoli no depoimento. O PGR usou esse argumento para suspender as
negociações.
Histórico de abusos
A suspensão e a
pressão do Supremo para isso são atitudes inéditas na Lava Jato. Não é como se
a operação já não tivesse se envolvido em episódios polêmicos que colocaram em
xeque os limites de sua atuação.
A título de
exemplo, no caso do vazamento de um grampo presidencial, por exemplo, o máximo
que ocorreu foi o juiz federal Sergio Moro pedir desculpas a Teori Zavascki,
relator da Lava Jato no STF. Dilma Rousseff, que foi derrubada na Câmara dias
após esse vazamento, aponta que esse tipo de vazamento “é crime em qualquer
lugar do mundo”.
Além disso, foram mais de 13 delações vazadas para a imprensa, sem
nenhuma reação. O que levanta a pergunta: por que após dois anos e meio de Lava
Jato, só agora Janot
quer findar um acordo de cooperação por causa de um vazamento?
Hoje, o GGN aponta em artigo de Luis
Nassif que a suspensão da delação da OAS é um“empate
vitorioso” entre Gilmar e Janot, com um importante
desdobramento sobre a classe política: deve livrar a cara de José Serra e Aécio
Neves (PSDB) – além de alguns petistas – que, como já se sabia, eram citados
por Léo Pinheiro na delação.
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