Em texto na Rede Brasil Atual, Helena Sthephanowitz diz que,
"se a Lava Jato tiver realmente interesse em investigar a fundo o ninho
tucano descobrirá a fortuna de Ronaldo Cézar Coelho na Ilhas Virgens
Britânicas, um paraíso fiscal"; amigo de longa data de Serra, o
ex-deputado e ex-banqueiro, um dos fundadores do PSDB nos anos 1980, também foi
citado na delação da Odebrecht, como um dos operadores dos R$ 23 milhões
repassados ao ministro pela empreiteira
29 DE OUTUBRO DE 2016 ÀS 10:01 // RECEBA O 247 NO TELEGRAM
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Por Helena Sthephanowitz, da Rede Brasil Atual- Segundo
reportagem da Folha de S.Paulo, a Odebrecht apontou dois nomes como operadores
de R$ 23 milhões repassados pela empreiteira, via caixa 2, à campanha
presidencial de José Serra, agora ministro no governo de Michel Temer, na
eleição de 2010 – corrigido pela inflação do período, o valor equivale a R$
34,5 milhões.
A empresa afirma que parte do dinheiro foi transferida por
meio de uma conta na Suíça, em um acerto com o ex-deputado federal Ronaldo
Cezar Coelho (PSD-RJ), ex-PSDB. Ronaldo fez parte da coordenação política da
campanha de Serra. Já o caixa dois operado no Brasil foi negociado com o
ex-deputado federal tucano Márcio Fortes (RJ), amigo de Serra.
Os repasses, ainda de acordo com a Folha, foram mencionados
por dois executivos da Odebrecht, durante negociações do acordo de delação
premiada da empreiteira com a Procuradoria-Geral da República, em Brasília, e
com a força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba. São eles Pedro Novis, presidente
do grupo entre 2002 e 2009 e atual membro do conselho administrativo da holding
Odebrecht S.A, e o diretor Carlos Armando Paschoal, conhecido como CAP, que
atuava no relacionamento com políticos de São Paulo e nas negociações de
doações para campanhas.
Novis e Serra são amigos de longa data. O tucano é chamado
de "vizinho" em documentos internos da empreiteira, por já ter
residido em endereço próximo ao amigo. Serra também era identificado como
"careca" em planilhas encontradas pela PF. O nome do atual chanceler
de Temer também aparece na lista de políticos encontrada na casa de Benedicto
Barbosa da Silva Júnior, o BJ, que é presidente de um dos braços da empreiteira
– a Odebrecht Infraestrutura – e que foi preso durante a 23ª fase da Operação
Lava Jato, batizada de Acarajé, em fevereiro deste ano.
Se a Lava Jato tiver realmente interesse em investigar a
fundo o ninho tucano descobrirá a fortuna de Ronaldo Cézar Coelho na Ilhas
Virgens Britânicas, um paraíso fiscal.
Ex-deputado e ex-banqueiro, Ronaldo foi um dos fundadores do
PSDB nos anos 1980, tendo presidido o partido no Rio de Janeiro. Em 2010, ele
foi tesoureiro informal da campanha de José Serra a quem emprestava jatinho e
helicóptero particulares para o então candidato a presidente fazer campanha
Brasil afora.
Também em 2010 Ronaldo foi primeiro suplente do candidato ao
Senado Cesar Maia (DEM-RJ), ocasião em que apresentou uma declaração de bens ao
TSE contendo algumas curiosidades:
Da fortuna declarada de mais de meio bilhão de reais, quase
a metade, R$ 228 milhões, estão no exterior, como dito acima, no paraíso fiscal
das Ilhas Virgens Britânicas. São pelo menos duas as razões para manter
dinheiro em paraísos fiscais: ocultar a origem do dinheiro, ou fugir do
pagamento de impostos no país do correntista. Ou seja, fortuna declarada, mas
origem desconhecida.
O patrimônio de Ronaldo Cezar Coelho subiu de R$ 28 milhões
em 1996 para R$ 565 milhões em 2010, crescimento de 1.937%, assim declarado: R$
28 milhões em 1996, R$ 69 milhões em 1997, R$ 298 milhões em 2001, R$ 493
milhões em 2006 e R$ 565 milhões em 2010.
Sua fortuna no exterior passou a ser declarada a partir de
2001 (R$ 134 milhões). Passou para R$ 204 milhões em 2006, e em 2010 era de R$
228 milhões.
Sangria
Ainda que a origem da fortuna seja totalmente legal (Ronaldo
foi dono do banco Multiplic e da financeira Losango), é – ou deveria ser –
questionável que um homem público se esforce para fugir de pagar impostos no
país onde vive. Em vez de contribuir para criar empregos e riquezas no Brasil,
porém, ele prefere aplicar metade da fortuna no exterior, evadindo capitais.
É gente como Ronaldo Cezar Coelho que quis colocar o tucano
José Serra no poder em 2010, e ter influência na política monetária do Banco
Central, além de influir no Ministério da Fazenda, do Planejamento, no BNDES,
lembrando ainda que ele era deputado federal à época.
Maia
Na eleição de 2006 Ronaldo também foi o maior financiador da
campanha de Rodrigo Maia (RJ), presidente do DEM, atualmente presidente da
Câmara. Também o financiaram outras instituições ligadas ao mercado financeiro.
Em troca, César Maia (pai de Rodrigo), que era o prefeito do Rio de Janeiro,
empossou Ronaldo Cezar Coelho na secretaria carioca de Saúde. Em sua gestão, os
hospitais municipais entraram em colapso, a ponto de sofrer intervenção do
governo federal para voltar a funcionar.
O amigo
Já Márcio Fortes é conhecido como "o cara da
arrecadação" entre o tucanato. Ele atuou nas campanhas de Fernando
Henrique Cardoso à Presidência, na década de 1990, na campanha de 2010 de Serra
e na de 2014 de Aécio Neves.
Fortes, integrante da direção nacional do PSDB e
ex-presidente do BNDES, é um dos mais de 8 mil brasileiros da lista de
correntistas do HSBC na Suíça vazada por um ex-funcionário do banco, no
escândalo conhecido como SwissLeaks, lá fora, e Suiçalão, no Brasil.
De suas três contas listadas no banco britânico, o tucano
abriu duas em 1991, quando presidia o Banerj, banco estatal fluminense. Elas
foram encerradas em 2003 e 2004, mas nenhuma foi incluída na declaração de bens
entregue ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) em 1998, quando Fortes se
elegeu deputado.
A terceira conta foi aberta em 2003 e tinha US$ 2,4 milhões
entre 2006 e 2007, período ao qual a lista do SwissLeaks faz menção. Essa conta
bancária também não estava na declaração entregue à autoridade eleitoral para a
campanha de 2006.
Fortes foi presidente do BNDES na gestão José Sarney, entre
1987 e 1989. Depois de ajudar a fundar o PSDB, assessorou o primeiro candidato
tucano à Presidência, Mário Covas. Em 1994, foi eleito deputado pela primeira
vez, com a maior votação do Rio.
Em 2008, a Polícia Federal instaurou inquérito para
investigar a empresa fantasma Gold Stone, emissora de notas fiscais frias para
o PSDB e para a campanha de Serra a presidente em 2002. O fisco encontrou, por
exemplo, depósitos na conta da Gold Stone, de 2000 a 2003, de R$ 6,87 milhões
sem origem comprovada, segundo relatório de auditoria concluída em 2006. Na
época, a Delegacia da Receita Federal de Brasília, suspendeu a imunidade
tributária do PSDB e o autuou em aproximadamente R$ 7 milhões.
Pois bem. Depois disso tudo, a Operação Lava Jato tem nas
mãos uma chance de mostrar que não tem bandeira partidária e que a lei é para
todos, independente do partido político. Moro, Polícia Federal e Ministério
Público já foram acusados de usarem a operação para investigar exclusivamente o
PT, ou, somente para prender petista.
É aguardar para ver.
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