Por Francisco Costa
Ontem dei mais uma entevista na rádio, depois digitada e
postada.
Ficou longa, já que falando o tempo transcorre muito mais
rápido que lendo, mas aconselho aos companheiros que a leiam, não
necessariamente porque eu seja o dono da verdade, mas porque há muita matéria
para reflexão política e existencial.
O momento em que mais comovi os ouvintes, os entrevistadores
e, pelos comentários na Net, os leitores, foi quando me referi a Lula, e
transcrevo:
“Lula está velho, debilitado por um câncer que ainda é um
fantasma para ele, caluniado de todas as maneiras, tendo que se defender,
desviando energias da luta coletiva para a luta pessoal, assustado.
No evento da ABI, aqui no Rio, eu estive a pouco mais de
dois metros do Lula e é evidente a preocupação dele, procurando sair
rapidamente do meio da multidão, com os olhos percorrendo todos os cantos, como
se procurasse francos atiradores, como se amarrado pelos inimigos,...”
Acredito que ninguém neste país tenha sofrido uma tão
impiedosa e cruel tortura psicológica, pública, quanto Lula.
Talvez quem mais tenha se aproximado foi Luis Carlos
Prestes, mas teve a alternativa de se afastar, indo para a Rússia, ao contrário
de Lula, que aqui resiste, bravamente.
Desde a ditadura militar Lula é investigado, tem a vida
esmiuçada, fuçada, virada ao avesso, na busca de ilícitos, com uma única
prisão, logo relaxada, na ditadura, por subversão, incitação à desordem
pública, quando sindicalista. Nada previsto no Código Penal, capaz de
caracterizar crime comum, desonestidade.
Candidato contra Collor, o que se viu foi ser atribuído a
ele os mesmos pecados do adversário, com a mídia omitindo, escondendo os do
adversário.
No debate final, na tevê, a Globo entregou sinopses, no ar,
ao vivo, aos dois candidatos. A de Collor, altamente detalhada, com informações
capazes de desestabilizar eleitoralmente o adversário. A de Lula, folhas de
papel em branco, sem nada escrito.
Nas eleições seguintes, as mesmas histórias, as mesmas
mentiras, as mesmas calúnias, com o adversário blindado pela mídia, com os seus
crimes e pecados sob o tapete.
Finalmente Lula foi eleito e, contrariando prognósticos,
chegou a ter mais de 80% da confiança do povo brasileiro, nos tirando da
condição de devedor para credor, expandindo o mercado interno, fortalecendo o
parque industrial do país, a rede de comércio varejista e atacadista,
multiplicando o PIB e as reservas cambiais, tudo com justiça social, aumentando
a fatia dos até então deserdados, através de aumentos reais nos salários e
programas sociais, um tiro nos conservadores, na burguesia, na classe
dominante, que se julga proprietária desse país.
Talvez tenha sido o único mandatário, em toda a História
Universal, a fazer o seu país saltar de décima sexta economia do planeta para
oitava, em oito anos, superando um país por ano, na média.
Foi preciso desconstruí-lo, destruí-lo, desmoralizá-lo,
arrancá-lo dos corações e mentes dos brasileiros, e começou a covardia, o ódio
cego e animalesco, e nasceu o processo do Mensalão.
Joaquim Barbosa, inteligentíssimo, pertinaz, determinado,
fazendo o seu próprio códido de leis e processo penal, tinha objetivo único:
acabar com a carreira de Lula.
Omitiu documentos, alterou textos nos autos do processo,
invalidou depoimentos... Fez o que os bandidos fazem nos morros cariocas, ao
justiçarem os das facções rivais.
Atingiu a tudo e a todos, aos mais próximos de Lula, sem
conseguir sequer indícios que incriminassem o presidente.
Para mais dessesperar o fascismo pátrio, Lula fez a sua
sucessora, o bastante para tornar-se dono da Friboi, da Esalq, uma universidade
pública, de mega empresas e latifúndios espalhados por todo esse país, com os
filhos proprietários de jatinhos, iates, mansões... Só existentes na mídia, nas
passeatas financiadas no exterior e nas cabeças de inocentes úteis e
assalariados da infâmia.
Foi pouco, a dimensão de Lula sobrepôs-se, e veio a Lava
Jato, e todo o bilionário patrimônio da família Lula da Silva reduziu-se a um
modesto sítio e um apartamento, triplex, em uma praia.
Sérgio Fernando Moro, um arremedo de Joaquim Barbosa
piorado, porque de primeira instância e não ministro do STF, como se supõe, com
muito menos inteligência e escrúpulos, reteve documentos, desqualificou
testemunhas chave, direcionou depoimentos, fez alardes midiáticos, com
prestimosa ajuda da banda fétida, deteriorada, corrompida, do Ministério
público, e o máximo que conseguiram foi “convicções”, alguma coisa ligada às
religiões, às crendices, menos à inteligência e à jurisprudência.
Impossibilitados de imputar culpas em território nacional, a
Lula, a Polícia Federal e os serviços de inteligência norte-americanos e suíços
debruçaram-se sobre o submundo da corrupção e da roubalheira internacionais, em
busca de contas secretas de Lula, de empresas fantasmas, de Lula, em paraísos
fiscais, e quanto mais vasculharam mais esterco dos seus encontraram, e de
Lula, nada.
Por fim, chegaram na Odebrecht, quartel general da
corrupção, segundo a nazijustiça brasileira, e nas planilhas, dossiês e
borderôs toda a direita brasileira, todos os golpistas brasileiros, todos os
norte-americanos casualmente nascidos no Brasil figurando como beneficiários de
roubos, a começar pelo atual e ilegítimo presidente, passando por boa parte dos
seus ministros, arrastando boa parte do
Legislativo e até coroadas cabeças do judiciário, mas sobre Lula... Que torce
para o Corinthians.
Das onze testemunhas de acusação, das falcatruas, desmandos
e opróbrios cometidos por Lula, onze depoimentos inocentando-o, “não sei,
excelência”, “não tive conhecimento, excelência”, “não acredito, excelência”...
Com a excelência, funcionária dos serviços de inteligência norte-americanos,
nadando nas pedras.
Esgotado todo o repertório, um insígne e desconhecido
deputado apresentou uma PEC alterando a Constituição, impedindo que a
Presidência da República seja exercida por uma mesma pessoa por mais de duas
vezes, consecutivas ou não, lei que apropriadamente já está sendo chamada de
“Barra Lula”, e para qualquer um que tenha pelo menos resquícios de miúda e
limitada inteligência está tudo muito claro: “usando as leis, burlando as leis,
adaptando as leis não conseguimos acabar com o cara. É preciso criarmos leis novas,
destinadas exclusivamente a acabar com ele”.
Tudo isto seria maravilhoso numa peça de ficção, num romance
ou filme de perseguição implacável, com todas as nuances da sordidez de que é
capaz a maldade humana, mas aconteceu e está acontecendo na vida real, com um
senhor, já idoso, com netos, um ser humano como eu e você.
Lula não tem paz, imagino que já não consiga dormir direito,
com ideia única, atormentando-o: defender-se, pois sabe que esta famigerada PEC
Barra Lula é a penúltima tentativa de neutralizá-lo.
A última poderá ser um tiro.
Francisco Costa
Rio, 09/01/2017.
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