O jogo da Baleia Azul é uma série de 50 desafios que podem ir do simples ato de desenhar uma baleia num papel até o desafio final de tirar a própria vida.
Diego Santos*
Pintura de Cândido Portinari
O grande pintor brasileiro abordou as brincadeiras de rua em sua obra
O início do jogo mortal foi na Rússia, em 2015, quando investigações apontaram o suicídio de duas adolescentes sem um motivo claro e num curto intervalo de dias. Desde então, o jogo se alastrou mundialmente e chegou a fatídica marca de 130 suicídios supostamente vinculados ao jogo através de comunidades virtuais chamadas de “grupos da morte”. No Brasil começam a aparecer os primeiros casos de automutilação e suicídio juvenil supostamente associados ao jogo.
O que leva um jovem a enfrentar desafios até o limite de tirar a própria vida? Professores, famílias, policiais e psicólogos buscam entender as motivações.
A adolescência é um período permeado de descobertas, transições e inseguranças. Todo o leque de novidades pode significar euforia ao mesmo tempo que pode despertar o terror do desconhecido.
Para se sentir estimulado, o jovem busca se sentir desafiado, busca ir além do ponto até onde já teria ido. Há um sentimento de que todos os limites são transponíveis e a falsa sensação de que tudo está sob controle.
E onde esta juventude se sente desafiada ?
Para os jovens de classe média ou mais alta a diversão agora está sob estruturas e ambientes controlados. Onde antes havia o jogo de futebol no meio da rua, descalço, com camisa e sem camisa, agora há partidas devidamente paramentadas com chuteira society, caneleira, campo gradeado e grama artificial.
Onde antes acontecia a brincadeira de subir em árvore para roubar frutas, pular muros e correr de cachorros ou vizinhos mal humorados, agora acontece dentro de condomínios ou na área social de prédios devidamente protegidos por cercas elétricas ou até com porcelanato e ar condicionado nas áreas de lazer.
Os locais de encontro que antes eram a pracinha, a rua e os quintais, cada vez mais são substituídos por shopping centers e a solidão de computadores e smartphones conectados virtualmente a um mundo de amigos.
Os ambientes estão cada vez mais controlados. Os amigos cada vez mais distantes, mesmo com a ilusão da conexão virtual. Falta toque, falta suor, falta o joelho ralado, o braço quebrado nas peripécias juvenis. Sobra solidão e melancolia.
Neste vazio é que surge a Baleia Azul desafiadora, provocativa, gritando “você pode ir além, vá” e acaba pescando jovens e mais jovens nesta rede perversa e criminosa.
*Diego Santos é produtor cultural, coordenador do Coletivo de Cultura de Pernambuco e membro da direção do PCdoB Recife.
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