terça-feira, 5 de setembro de 2017

A vida dos norte-coreanos que os meios de comunicação não mostram



"Pudessem, os coreanos prefeririam investir os escassos recursos do país em setores produtivos", afirma Ferreira. / Rafael Stedile
"Pudessem, os coreanos prefeririam investir os escassos recursos do país em setores produtivos", afirma Ferreira. / Rafael Stedile
O consultor  em Relações Internacionais, Rodrigo Ferreira visitou recentemente a República Democrática da Coréia (RPDC) devido a um convite da Embaixada da Coreia em Brasília, em articulação com o Ministério do Comércio da Coreia e com a Associação Coreana de Ciências Sociais. O objetivo de sua visita era a promoção dos laços comerciais (o Brasil é o oitavo parceiro comercial da Coreia).

Em uma entrevista para o “Brasil de Fato”, Ferreira desconstrói a imagem ocidental de que no país as condições de vida são ruins e que em relação a política externa a RPDC pretende incitar uma guerra nuclear. Para ele se “não tivesse a liderança coreana tomado este rumo (fazer testes nucleares), é muito possível que encontrassem a mesma sorte de Hussein e Gadaffi”. Para o consultor, o país preferiria investir seus escassos recursos (devido ao isolamento) em setores produtivos. Essa opção, no entanto, não é plausível já que “há dezenas de ogivas estacionadas ao outro lado da fronteira, pronto a serem disparadas”.
Ademais, a imagem de uma Coreia Popular potencialmente perigosa, é também formulada a partir de interesses estadunidenses na região da península coreana, ao estigmatizar a RPDC como um mal, as possíveis ações e proibições contra o país se tornam plausíveis “a visão que se tem no ocidente, de um estado beligerante, principalmente a partir da adoção explícita da política de Songun (priorização do setor militar) é bastante parcial. Não se comenta, ao menos suficientemente, que se trata de um território estratégico cobiçado pelos Estados Unidos desde o fim da Segunda Guerra Mundial, sobretudo pela sua capacidade de fechar o cerco à China, somando-se a bases já estabelecidas no Japão, Coreia do Sul, Guam, Taiwan, Singapura, para citar apenas algumas.
Episódios injustos ou violentos ocorrem em muitos países, inclusive os Estados Unidos são mestres no chamado “Terrorismo de Estado” e inclusive financiaram a Al Qaeda. No entanto, para Ferreira, na mídia tradicional “Não importa quantos vídeos de tortura aparecerem ou quantas denúncias surgirem de prisões ilegais, inclusive de menores, praticadas no ocidente, a mídia ocidental sempre dará mais destaques a denúncias contra países como a Coreia do Norte, ainda quando desacompanhada de evidências”. No mundo inteiro injustiças são cometidas, mas elas são tratadas nesse caso com dois pesos e duas medidas.
Sobre as condições de vida na Coreia popular, o internacionalista conta que o que viu na Coreia Popular foi muito positiva. Casais ao oficializarem sua relação, por exemplo, ganham uma casa do governo, “pedimos para parar o carro em uma pequena comunidade rural, à nossa escolha, a cerca de 200 km de Pyongyang, e não há dúvidas de que o que vimos estava bem além das condições de moradia em nosso meio rural não organizado e na quase totalidade da periferia de nossas cidades, pudemos constatar que não há, diferentemente do que se prega na contrapropaganda ocidental, um problema grave estrutural de fome e desabastecimento. Se houve logo após do desmembramento soviético ou em decorrência de grandes cheias no meados dos anos 90, hoje estes problemas parecem estar superados, ao menos nas regiões visitadas”.
Por fim, o especialista acredita que a unificação é um desejo iminente da RPDC, mas ele não pode ser realizado porque a Coreia do Sul se ocidentalizou muito e tornou essa questão mais complicada “gostariam muito de não ser ameaçados, de reunificar o país por meio de um processo de paz, mas todas as vezes em que se avançou nesse sentido o processo foi sabotado pelos Estados Unidos. Não apenas isso, as sanções impostas ao país, em resposta à única alternativa que lhes é dada de resguardo à soberania nacional, são sanções desumanas. Não levam em consideração a crise humanitária que causam. Não há distinção, por exemplo, se determinada limitação a importação de ferro se refere a ligas para a fabricação de mísseis ou do conteúdo de um medicamento ou equipamento hospitalar. Isso é cruel, pois atinge diretamente a população civil apenas”.




 *estagiária do Portal Vermelho

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