Por Dedé Rodrigues
O 3º Encontro promovido pelo SEBRAE ocorrido no dia 31 de outubro de 2017, no Polo de Educação a Distância em Tabira com a Socióloga Tânia Zapata, palestrante e coordenadora da oficina, me inspirou a escrever essa matéria tentando responder a seguinte questão: a cultura do território vivo aponta para o rompimento com o capitalismo? Essa não é um pergunta simples, mas eu arrisco dizer que para aqueles, como eu, que sonham e querem que o Brasil retome a sua normalidade democrática, se desenvolva e distribua renda, no rumo de um futuro socialista, “o território vivo” é um aliado importante, bem como, defendo que todo mundo dos municípios do Pajeú devia entrar no “bloco dos teimosos” , criado por Tânia Zapata.
O próprio objetivo do 3º encontro “ajudar ao nascimento de uma decisiva união de lideranças mobilizadas no território, aglutinando-as em torno de um futuro comum”, para mim já passa um indicativo que esse “futuro comum” não tem como ser construído sob o modo produção capitalista. A própria palestrante dar outros indicativos de rompimento com esse sistema predatório, pois segundo ela nesse paradigma, “um ser humano é estimulado a destruir o outro”, essa não deve ser a cultura que tenha futuro no mundo e muito menos no território vivo.
Para Tânia Zapata “o Brasil real não é mostrado pela mídia. Para ela o Brasil real se encontra no território vivo, mas os seus membros precisam caminhar juntos, estabelecer parcerias na elaboração de projetos, pois nesse mundo ninguém resolve os seus problemas sozinhos, defende ela. As pessoas nas comunidades não são problemas, são solução, mas para isso é preciso elas usarem a inteligência coletiva em benefício delas mesmas. Eu já vi muito dinheiro a fundo perdido, ser perdido mesmo, pois, ou foram desviados pela corrupção ou simplesmente foi clientelismo dos governos, que nunca investiram na libertação do homem, mas na sua dependência. Se dirigindo aos prefeitos presentes, Sebastião Dias de Tabira e Djalma de Solidão, ela disse: “Senhores prefeitos querem mudar essa realidade? No período das eleições tem que ser discutido projetos e não troca de favores”.
Abordando a crise atual Tania Zapata afirma que o “controle da inflação e a política cambial não são suficientes para combater a pobreza e reduzir as desigualdades. A crise política e econômica não vai ser resolvida com a nossa cultura, assistencialista e clientelista do século XIX. Daqui a 50 anos nos encontraremos com os mesmos problemas nos municípios”, afirmou ela aos presentes. E continuou dizendo: Nós somos “glocais” vivemos no local conectado com o século XXI, sem o território vivo funcionar de forma ideal, a nossa economia não será competitiva e não sairemos da crise. E eu acrescento: são os ajustes fiscais, a especulação financeira, as taxas de juros e a concentração de renda empecilhos aos chamados territórios vivos. É essa mesma política neoliberal macroeconômica que permite que 1% de ricaços no mundo tenha mais renda que os 99% restantes. No Brasil, 6 ricaços tem mais renda do que 100 milhões de pessoas. Penso que é preciso romper com o neoliberalismo, cultura individualista\capitalista, para o território vivo avançar.
Mas Tânia Zapata acredita que a esperança está na nova “geração Millennium”, particularmente na Europa, que não tem mais como prioridade a posse da riqueza privada: os grandes castelos da Idade Media e as grandes mansões da Idade Moderna e contemporânea. Essa geração já não prioriza o uso do carro individual, de grandes posses; “tudo o que ela tem individualmente cabe em uma mala”, afirmou ela. A geração Millennium está conectada com o mundo “glocal”, na hora que surgir uma oportunidade de trabalho, até no Japão, o indivíduo pode sair do “glocal” a qualquer momento, tem pouca coisa para levar. E cita como exemplo a ideia da posse individual de um carro para cada membro da família como cultura do mundo subdesenvolvido. Ela também afirmou que essa nova geração briga pelo usufruto dos bens de forma coletiva, como saúde, educação, transporte, lazer etc. Ela Já não briga mais pela posse dos bens de forma individual, afirmou ela.
Eu particularmente acredito que o maior empecilho para o êxito dos territórios vivos é a crise do modo de produção atual, que se arrasta desde 2008, concentrando renda, gerando exclusão social, desemprego etc. É da natureza do capitalismo o controle sobre o meios de produção, sobre as novas tecnologias, extraindo mais-valia, destruindo o meio ambiente. No mundo de hoje dissemina-se a cultura do extermínio, vivemos a época da ameaça nuclear. Surge com força, disseminando o ódio e conflitos, o neonazismo e o neofascismo, de conteúdo ideológico e práticas da ultra direita. Essas ideologias nefastas à humanidade são produtos da crise do capitalismo que impede qualquer avanço civilizacional. Penso que a humanidade precisa romper com essas ideologias de extrema direita para o território vivo avançar.
Cabe aqui uma opinião sobre a esperança do crescimento dos territórios vivos no Brasil. A experiência dos governos Lula Dilma, sem entrar aqui nos equívocos que precisam serem identificados e corrigidos, mostra que a esquerda é capaz de governar, distribuir renda e desenvolver o país. Quando o Estado é utilizado como indutor do desenvolvimento o país como um todo avança, tem inclusão social, as comunidades são melhor assistidas. Porém agora, com o desmonte implementado por Temer com as reformas ultraliberais, cortes de gastos sociais etc. O território vivo vai ter muita dificuldade para desenvolver-se. Mas acredito que onde as pessoas estão mais organizadas, têm mais conhecimento, a vida deve seguir se desenvolvendo, mesmo com dificuldades. Porém onde as pessoas sem organização, que vivem de forma individualista, mesmo que tenham recebidos recursos, individual ou coletivo, estão ficando mais pobres de forma rápida. Aliás, já são quase 3 milhões de excluídos no Brasil pós-golpe.
Eu defendo que o território vivo, além de ter projetos claros, atividades empreendedoras, uma cultura coletiva, deve ser também uma comunidade organizada, politizada, com lideranças marxistas e democratas, comprometidas com o avanço civilizacional. As lideranças, os trabalhadores, devem compreender o local, o país e o mundo de forma dialética. Daí porque ser necessário romper com o capitalismo predatório e com esse retrocesso no Brasil. Daí a necessidade, como defende o PC do B, da construção de uma frente ampla, com um núcleo de esquerda, para garantir eleições diretas o mais breve possível e aprovar um novo projeto de desenvolvimento sustentável para o Brasil, cujo projeto deve romper de vez com a “agenda perversa” ultraliberal de Temer, fazer as reformas estruturais progressistas e garantir o financiamento e desenvolvimento dos “territórios vivos”. Eu, como Tânia Zapata, acredito que o “Bloco dos Teimosos” vencerá!
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