sábado, 9 de dezembro de 2017

Aumento do gás de cozinha abala orçamento das famílias da periferia


Foto: Thinkstock
 
 


Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (8), mostrou que para 67% dos brasileiros, os preços do botijão comprometem e muito o orçamento da família brasileira. Em várias cidades, pipocam histórias de pessoas usando lenha ou galhos secos de árvores para cozinhar. 

Desde agosto o preço do gás de cozinha não para de subir e os reajustes mensais estão bem acima da inflação. O último aumento foi anunciado pela Petrobras na última segunda-feira (04) e entrou em vigor no dia seguinte. O reajuste foi de 8,8% no preço do botijão de gás.

Só neste ano o reajuste chegou a 67, 8% - o valor médio do botijão saltou de R$ 55, 74 na primeira semana de janeiro, para R$ 65, 64 no início de dezembro. Mas, esse preço não é o preço fixo. São os distribuidores que decidem quanto do aumento vão repassar para os consumidores.

Além da dignidade humana, esses aumentos precarizam ainda mais as condições de vida dos brasileiros e das brasileiras, denuncia Jandyra Uehara, secretária nacional de Políticas Sociais da CUT.

“Chegar ao ponto de faltar gás na casa das pessoas fere a dignidade humana. Não é só um problema de reajuste, não é só um problema econômico, é uma violação grave das condições mínimas que uma família precisa”, denunciou a dirigente.

Para a especialista em direito do consumidor e diretora do Procon-SP, Ana Paula Moraes Sattheki, “este aumento surreal do gás de cozinha representa um impacto enorme no bolso da família brasileira porque é um produto que faz parte das necessidades básicas das pessoas”.

Na avaliação da diretora do Procon-SP, o Brasil “não tem necessidade de reajustar o gás todo mês. Temos o pré-sal com petróleo jorrando em todo canto. Temos boa condição de exploração. É algo inexplicável que só acontece neste país”. “As entidades de classe têm que demonstrar sua revolta com a política de preço que a cada dia é exagerada ao extremo”, diz Ana Paula. 

A secretária nacional de Políticas Sociais da CUT concorda com a ex-procuradora. Segundo Jandyra, é preciso fortalecer o trabalho de base para barrar os retrocessos do governo usurpador. “Um trabalho de base muito articulado para debater estas questões, e ver o que é preciso fazer contra essas medidas golpistas. Uma articulação de base necessária para ocuparmos as ruas”.

Precisamos deixar a posição de reféns das medidas cruéis do governo Temer e reagir, alerta a diretora do Procon-SP. 

“O governo está demonstrando uma realidade onde somos reféns, são coisas que não conseguimos modificar na condição de usuários. Quem poderia fazer alguma coisa pelo povo era o próprio Congresso e, infelizmente, não podemos contar”, alerta.

Orçamento abalado

Há uma nítida revolta da população com o anúncio do aumento do gás de cozinha e também gasolina. Esses números são reforçados pela pesquisa Datafolha.

A pesquisa mostrou que 80% das pessoas que ganham dois salários mínimos estão com os orçamentos comprometidos. Já entre os ricos, 36% disseram que não há comprometimento algum, e que nem o preço da gasolina escapa da indignação das pessoas. Para 82%, o preço também aumentou muito nos últimos meses – para 68%, o atual preço compromete muito o orçamento familiar.

Um botijão de gás não dura em média um mês na residência de muitos trabalhadores e trabalhadoras das periferias das grandes capitais. Como é o caso da dona Vânia Maria de Jesus, 54, que tem uma família de 11 pessoas, com uma renda de R$ 1000, o aumento do gás vai pesar no orçamento.

Revoltada, Vânia conta que sofre com a crise e o aumento desses produtos básicos porque é algo que ela não pode deixar de usar. “Nesta crise quem sofre mais somos nós que ganhamos pouco, não consigo comprar nada no mercado com R$100, nosso salário no acompanha”.

“Compro gás e uso menos de dois meses, hoje está muito difícil. Não tenho micro-ondas e tudo que eu faço é no fogão”, afirmou a dona de casa.

Falta de gás leva ao fogão a lenha

Se a situação está difícil para quem ganha na faixa de um a dois salários mínimos, para quem anda desempregado o caso é pior ainda. Isso tem levado famílias das periferias ao fogão a lenha. Este o caso da Germínia Pereira de Moraes, 54, moradora de Parelheiros, extremo Sul de São Paulo, que busca galhos velhos no quintal para fazer comida no fogão de lenha.

A desempregada contou ao jornal Folha de S. Paulo que precisa se abaixar para preparar o jantar de dez pessoas que vivem em sua casa. "Aqui é assim. Se chove, tem que tampar as panelas", diz dona Germínia. 



CUT

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