domingo, 28 de janeiro de 2018

Pesquisa: 32% dos jovens da França defendem o comunismo


  


Hoje, parece que o sonho do fim da história se impõe, e consagra o liberalismo. Isso não é verdade, como mostra o estudo da Viavoice feito para a Fundação Gabriel-Péri, publicado na terça-feira (23). Perguntado sobre a relevância das idéias comunistas "no mundo de hoje", 41% dos entrevistados responderam que elas "não têm mais" importância, mas 35% consideram, ao contrário, que elas "permanecem relevantes", uma proporção que sobe para 65% entre os simpatizantes da esquerda. 

O último capítulo pode ainda não ter sido escrito para os franceses. "No conjunto da população, uma minoria mantém boas imagens do comunismo e do marxismo. Mas os cerca de 20% das opiniões estão muito além dos resultados eleitorais dos partidos que as defendem claramente", disse Aurélien Preud'homme, diretor de estudos políticos da Viavoice. 

O capitalismo e o liberalismo não têm uma boa impressão entre os entrevistados, e respectivamente 56% e 47% tem opinião negativa sobre esses sistemas.

Enquanto os ativistas do Partido Comunista Francês se interrogaram, em seu último congresso, realizado em novembro, sobre a percepção do comunismo, 62% dos entrevistados acreditam que é "velho, desatualizado". 

Então, está descartada a categoria do "antigo mundo"? Nem tanto, aos olhos das novas gerações. Se 72% dos idosos (com 65 anos ou mais) acreditam que o comunismo é "desatualizado", contra metade (50%) dos jovens (entre 18 e 24 anos). Entre eles, 32% não compartilham aquela opinião, e 18% se manifestaram, e somente 28% dessa faixa etária rejeita as ideias comunistas, enquanto entre os idosos 57% pensam assim. "Pode-se pensar que estamos enfrentando um declínio, mas essa divisão geracional sugere que estamos ao contrário, vendo o retorno dessas idéias", analisa Aurélien Preud'homme. "Apesar da implacabilidade, quer dizer, pior do que o colapso do comunismo, ou para apagá-lo do horizonte, é impressionante ver que isso não ocorre na geração mais nova", observa Guillaume Roubaud-Quashie, comentando a reflexão do PCF sobre "o significado da luta comunista". "Parece que a associação entre comunismo e regimes totalitários está desaparecendo", diz o presidente da Fundação Gabriel-Péri, Alain Obadia. Entre os entrevistados, uma maioria relativa (44%) compartilha a idéia de que "os regimes totalitários não têm nada a ver com o pensamento comunista ou marxista inicial".

O estudo também revela uma "clivagem social". "Enquanto 70% dos mais ricos consideram que o comunismo é ‘antigo e desatualizado’, essa opinião é compartilhada por apenas 52% das categorias populares", diz a pesquisa. Quanto ao capitalismo, ele é apoiado por 31% dos "empresários, executivos e profissões intermediárias", contra 15% de "funcionários e trabalhadores". "Desde a crise financeira de 2008, questionamos o consenso de que o capitalismo e o liberalismo trarão a democracia e reduzirão as desigualdades. Este fato é acentuado pelos escândalos como os papéis do Panamá ", explica Aurélien Preud'homme.

Se apenas 17% dos entrevistados manifestaram opinião positiva sobre o pensamento de Karl Marx (26% entre os jovens), um dos seus conceitos centrais não parece obsoleto para a maioria dos franceses: para 56% dos entrevistados, a luta de classes ainda é relevante. E 76% acreditam que as classes sociais ainda existem.

No entanto, as idéias comunistas e marxistas são mais úteis para denunciar os excessos do capitalismo (36% dos entrevistados, 62% entre os simpatizantes de esquerda) e compreender o mundo (35%, 53% à esquerda) do que como uma "alternativa acreditável como o sistema econômico atual (18%, 32% restantes). "Às vezes, há o sentimento de que a batalha ideológica está perdida; na verdade, a situação é mais complexa com pontos de apoio, apesar de décadas durante as quais a idéia de nenhuma alternativa ao liberalismo foi acentuada. Algumas das questões sobre as quais nos mobilizamos têm um eco muito importante", diz Guillaume Roubaud-Quashie, cujo partido (o PCF) teve recebeu 13% de opiniões positivas. 

Emprego (61%), poder de compra (47%) e sistema de saúde (39%) são os três principais problemas, de acordo com a pesquisa, enquanto a melhoria "dos setores industriais franceses" e a luta "contra a evasão fiscal" são duas medidas defendidas por cerca de 90% dos entrevistados. Quanto à noção de "bens comuns", que aparece entre "as palavras intimamente ligadas ao comunismo", ele seria bem visto, particularmente em termos de patrimônio cultural, recursos ou áreas naturais, e serviços públicos (educação 72 %, 65% de transporte, 64% de sistema de saúde). "Para uma grande maioria, os bens comuns devem ser acessíveis a todos e ser propriedade exclusiva da comunidade e, finalmente, serem operados ou administrados por empresas públicas", diz também o estudo. "A questão que é colocada pelo PCF, sublinha Guillaume Roubaud-Quashie, é como, a partir dessas idéias, passar de uma força potencial para uma força real, e combinar esses desafios e aspirações."




Fonte: L´Humanitè
Tradução: José Carlos Ruy, para o Portal Vermelho

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