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Por Altair Freitas
Tava ali no messenger com um amigo facebookiano que lá pelas tantas me perguntou sobre a aceitação das ideias reacionárias por muita gente, como é possível esse tipo de coisa, etc. Não é difícil de entender e a história ajuda na compreensão. Ideias reacionárias são aceitas porque são simplórias, propõem "soluções" simples para problemas complexos e geralmente são focadas em meia dúzia de formulações que não se sustentam sob quaisquer análises críticas, mas são muito fáceis de serem compreendidas pelo “homem comum do povo” e setores da classe média.
Premidos por crises, desesperança e ausência de uma educação de qualidade e fortemente embasada em uma formação humanística, fica fácil se sentirem atraídos por “salvadores da pátria portadores das verdades e soluções”. No mundo cristão ocidental isso tem um nome: messianismo! Serve para políticos e pregadores da “verdadeira fé”. Quem entre nós nunca ouviu a seguinte conversa: “O Brasil precisa de um homem que mude as coisas”? Como se a vontade de quem quer que seja mudasse alguma coisa. Como as coisas, os problemas que assolam a sociedade, pudessem ser mudadas sem alterações profundas nas relações de produção e nas relações sociais que dela brotam. Mas o simplismo do pensamento tem força. E muita!
Apenas um exemplo: para o problema da segurança pública, é muito mais fácil o sujeito achar que "bandido bom é bandido morto", que leis mais duras e polícia nas ruas matando a vontade resolvem, do que raciocinar em termos globais sobre as causas da violência e da criminalidade, invariavelmente ligadas à pobreza/miséria em larga escala e acumulação de riquezas em pequena escala. Contudo, vítima, assustado com a violência, o "homem comum do povo" é facilmente atraído para propostas assim que não resolvem nada, ao contrário, mas soam como respostas imediatas para um problema real. Quantos de nós já não ouviram que “o ideal seria jogar bombas nas cadeias para matar todos os presos”? Geralmente as pessoas não se dão contam de que o nosso sistema de acumulação de riqueza cria ladrões, traficantes e assassinos em escala industrial.
O simplismo das respostas - que geralmente são desprovidas de verdade e consistência científica - galvanizaram e galvanizam multidões ao longo do tempo. O exemplo mais recente é o nazifascismo dos anos 20 e 30 do século XX. Qualquer observação minimamente adequada para suas respostas aos problemas vivenciados pelos povos que adotaram aquelas ideologias - e para os modernos nazifascitas, disfarçados ou explícitos como os supremacistas raciais na Europa e EUA ou boçalidades infantis como o bolsonarismo entre nós - revela o apelo para o uso da força, da violência como resolução dos problemas, da agressão aos diferentes (às minorias, se quiserem, muitas vezes nem tão minorias assim), da imposição da “ordem absoluta” pelo Estado, chefiado por um líder supremo – que se transforma ou transformaria no único detentor da verdade e da vontade coletiva – ao lado da propagação de um misticismo sobre supostas missões divinas concedidas a esse ou aquele povo.
Entre nós, o reacionarismo, a simplificação absurda do entendimento dos fenômenos sociais, políticos e econômicos tem longa data, remonta ao período colonial e ao catolicismo reacionário produzido na Idade Média europeia e que se arrastou por séculos a fio. Um catolicismo que abençoou a escravidão dos africanos e deu base teológica para considerar o negro como inferior e naturalmente apto à submissão completa da escravidão. Esse reacionarismo chega até nós, do século XXI, após ser reciclado diversas vezes na história brasileira, especialmente durante a ditadura militar (1964-85) que além da disseminação em massa de ideias atrasadas para manter o povo longe de ideias “comunistas” e sob controle, o que funcionou bem até o final dos anos 70 quando a crise econômica cobrou o preço político dos ditadores militares e civis que apoiavam o regime. Um reacionarismo que eliminou das universidades, por exemplo, a maior parte da formação humanística nas carreiras técnicas gerando a formação de bons profissionais nas suas tecnologias especificas mas profundamente ignorantes sobre a efetiva dinâmica da sociedade brasileira.
Esse reacionarismo está SEMPRE a serviço da manutenção do sistema de acumulação de riqueza e poder. Sempre, invariavelmente. E por servir a tal propósito, ele é disseminado cotidianamente, às vezes de modo sutil, às vezes escancaradamente, por grandes meios de comunicação de massa, geralmente mega empresas capitalistas cujos proprietários são famílias bilionárias, sócias diretas ou indiretas de outros gigantescos grupos empresariais privados, e que querem a todo custo manter o sistema em pleno funcionamento porque isso as beneficia intensamente.
No período que estamos vivendo, o reacionarismo disseminou a ideia – de novo simplória – de que os problemas do Brasil estavam ligados à corrupção e que os partidos de esquerda, genericamente taxados de “petistas ou comunistas” saquearam o país e que isso resultou na crise econômica que atingiu o país a partir de 2013/14. Ora, se o problema era a corrupção e o “petismo-comunismo” ou “lulo-petismo”, a resposta era simples: destruam tudo relacionado a isso, derrubem o governo deles, prendam os corruptos e tudo estará resolvido. Ideias marteladas dia a pós dia, 24 horas por dia pelos jornais, rádios, tvs, portais de internet. E como vimos, de novo, o simplismo da resposta para os problemas levou o país à hecatombe. Porque é sempre assim. Mas é assim também que as classes dominantes vão mantendo seu controle. E é importante frisar que TODAS (repito, todas!) as ideias reacionárias hoje em moda estavam presentes na Alemanha de Hitler, na Itália de Mussolini, na Espanha de Franco, em Portugal de Salazar. Basta consultar a História para conferir. E se você concorda com elas, levante o braço e saúde seu líder. Como diria Mano Brown, "Adolf Hitler sorri no inferno". Sieg Heil!
Fonte: Facebook de ALTAIR FREITAS
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