sábado, 21 de julho de 2018

PCdoB faz chamado a PT, PDT e PSB à unidade


Ante à coesão que se desenha do campo político da direita, a presidenta nacional do PCdoB, deputada federal Luciana Santos (PE), na intervenção que fez na abertura da reunião do Comitê Central do PCdoB, que segue até domingo (22), em São Paulo, afirmou que aumenta a responsabilidade das forças progressistas, nomeadamente do PCdoB, do PT, do PDT e do PSB, de buscarem a unidade eleitoral, como caminho para vencer as eleições. 

Clécio de Almeida
Luciana Santos, presidenta do PCdoB, durante a intervenção na reunião do Comitê Central do partido nesta sexta-feira (20).Luciana Santos, presidenta do PCdoB, durante a intervenção na reunião do Comitê Central do partido nesta sexta-feira (20).
A pré-candidatura de Manuela D´Ávila seguirá ativa contribuindo para que se alcance a vitória deste campo.      

Na abertura da reunião do Comitê Central, a presidenta do PCdoB analisou o quadro estratégico para as eleições de outubro, em que o elenco das principais forças conservadoras e o poder econômico e financeiro avançam para tentar eleger o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), mesmo com suas debilidades, isolando o expoente da extrema direita deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), enquanto atua para dividir o campo progressista. 

As últimas horas produziram mais novidades no cenário político, do que os últimos meses. Com esta constatação, Luciana observa que a disputa eleitoral, que se aproxima, revela-se o centro da acirrada luta de classes em que o país está mergulhado desde 2014. Com isso, a coalizão que se desenha da direita e centro-direita em torno da candidatura de Alckmin mostra que as forças que entronizaram e respaldam o fracassado governo Temer buscam criar as condições para vencer a disputa presidencial. 

“Este é o pleito eleitoral mais complexo desde a redemocratização. Não é por menos, trata-se de uma mudança de ciclo político, de recomposição de forças e alianças”, analisa a presidente do PCdoB. “Neste quadro, o que nos orienta é vencer as eleições e derrotar a agenda neoliberal e neocolonial que busca ganhar a legitimidade das urnas. Somados a esse objetivo maior, estão os objetivos diretos de nosso projeto eleitoral nesta disputa”, disse ela, mencionando as metas do Partido de seguir avante com pré-candidatura de Manuela D´Ávila à Presidência da República, garantir uma bancada forte no Congresso Nacional, reeleger o governador Flávio Dino e a senadora Vanessa Grazziotin (AM) e outras candidaturas ao Senado Federal e a Vice-governador, passando pela superação da cláusula de desempenho de 1,5% de votos em nível nacional, e 1% de votos em pelo menos nove estados ou a eleição de deputados nesses nove estados.

A reunião do Comitê Central ocorre num período de início das decisões e de intensas movimentações, enquanto o campo da esquerda permanece inconclusivo, obrigando o PCdoB ao esforço de ampliar a análise sobre os cenários, e estabelecer conversações com vistas a atingir seus objetivos, notadamente uma ampla unidade progressista para vencer a eleição. “Até o dia 5 de agosto, muita água vai rolar, e buscaremos, com a flexibilidade tática e a firmeza de princípios que nos caracterizam, adotar a melhor decisão aos interesses da Nação e do nosso partido”, afirmou. 

O fracasso do governo Temer

Luciana analisou as condições em que o governo do golpe fracassou, que se resumem ao não cumprimento de nenhuma das metas que propunha de melhoria da vida dos brasileiros, ao passo que avança com medidas de desmonte dos direitos sociais, das políticas públicas conquistadas, com privatizações e entrega do patrimônio nacional, culminando com a greve de caminhoneiros que expôs essa incapacidade do Governo Temer e agravou a capacidade de recuperação econômica do país. 

A guerra comercial desencadeada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, diminui ainda mais as possibilidades do Brasil se recuperar, pelo modo como Temer “apequena” o país internacionalmente. “Há quem avalie que esta guerra comercial estimula que o Brasil retroceda para a produção de matérias-primas, que impactam ainda mais na desindustrialização brasileira”, alertou. Para a deputada e dirigente partidária, a sedução das elites brasileiras, por este receituário neoliberal, “levará a manutenção da economia brasileira a uma situação de semi-estagnação, de desindustrialização e desnacionalização, ampliando a gravidade social, e se tornando terreno fértil para a emergência de forças de extrema-direita”.

Se por um lado, eles tiveram vitórias importantes como a aprovação da Lei do Teto, e a realização a Reforma trabalhista, nós conseguimos paralisar a Reforma da Previdência e vários intentos de privatização, como é o caso da Eletrobrás”, lembrou ela. “O papel da nossa bancada, e do nosso líder Orlando Silva [deputado federal de São Paulo, líder da bancada do PCdoB] são um fator para ser registrado. Jogou um papel importante para uma saída e um pacto construído na Câmara entre os diversos setores envolvidos, em especial para barrar a privatização do setor de geração de energia.

Lula Livre

A prisão de Lula está sendo decisiva para o campo conservador impor as condições da disputa. “A prisão é o troféu da Lava Jato. Evitar que seja solto, restringir ao máximo os seus movimentos e mesmo sua voz, é parte da estratégia do campo conservador, excluindo-o da disputa eleitoral; somente assim, acreditam ter uma oportunidade de vencer as eleições”, avaliou Luciana. 

Os fins justificam os meios, parafraseou ela. “As ilegalidades, a partidarização e as manobras jurídicas são toleradas pelo establishment quando beneficiam seus interesses”, disse ela, citando vários episódios, como a reação da Procuradoria Geral da Republica de pedir a aposentadoria compulsória do desembargador Rogério Fraveto no episódio recente do habeas corpus a Lula. “É um indicador de que não se admite dissidências no seio desta operação, e quem o fizer merece ser castigado de modo exemplar”. 

No entanto, pondera Luciana, esses excessos têm um custo, e o uso deste poder conferido pela hegemonia política da mídia e das forças conservadoras possui um limite. “É cada dia mais visível, por parte da população, da situação de injustiça de que Lula está submetido e de que é perseguido pelo juiz Sérgio Moro. Isto se revela nas pesquisas de opinião pública. Há um processo de vitimização no imaginário popular do ex-presidente Lula, assim como o papel persecutório de Moro”, observa ela.

A estratégia da elite financeira

Luciana considera que é neste contexto que o establishment começa a atuar de modo “silencioso, acelerado e assertivo”. “A mão invisível do mercado recompôs seu time, o recolocando no jogo em condições de chegar a final”, declara ela. Este é o resultado desta semana, onde as forças do chamado centrão refluíram de negociações com o PDT e Ciro Gomes e dão sinais que irão agrupadas ao encontro da candidatura do PSDB. Um movimento que produz impactos em quase todas as candidaturas. No decorrer dessa análise destacou as qualidades de Ciro Gomes e a importância do candidato do PDT ter desfraldo um projeto de desenvolvimento soberano.

Luciana destacou a importância da pré-candidatura de Manuela D’Ávila protagonizando a “grande política” e ganhando realce em função de sua defesa da unidade da esquerda, e coloca o PCdoB num patamar diferente entre as forças de esquerda. “Não somos de lançar holofotes sobre nós mesmos, mas é importante realçar os 2% de intenções de voto em Manuela, alcançando um patamar acima das nossas expectativas”, afirmou Luciana. 

A dirigente do PCdoB apontou a disputa do apoio do Partido, tanto pelo PT, quanto pelo PDT. No entanto, a conjuntura vai se afunilando, com o “centrão” anunciando sua tendência em apoiar Alckmin, mesmo com o candidato não tendo decolado. “É a candidatura do establishment. 

O campo conservador 

As eleições e o voto continuam sendo o maior obstáculo para a continuidade do projeto neoliberal para o país, um projeto que candidato nenhum candidato consegue defender à luz do dia e precisa esconder do eleitor. Todavia, na opinião de Luciana, dão sinais de que desatam uma operação de grande envergadura com vistas a gerar condições de superar o crivo do voto popular. “Para isto, além de operar a unidade do seu campo, eles atuam para desidratar Bolsonaro e estabelecer uma divisão na esquerda”, analisou. 

Mesmo sendo farinha do mesmo saco, os tucanos tentam se descolar do governo Temer. A candidatura de Henrique Meirelles (MDB) serve a essa necessidade do PSDB, afirma Luciana. O mesmo grupo opera para isolar a extrema-direita de Bolsonaro, com seus 15% de intenção de voto, sem apoios ou tempo de tv. A pergunta que fica é se Bolsonaro nestas condições conseguirá manter a média das intenções de voto que vem angariando. A dirigente comunista foi alinhavando especulações sobre eventuais direções de candidaturas como a de Marina Silva (Rede) e Álvaro Dias (Podemos), após as sinalizações do “centrão”.

O centrão reúne forças com perfil fisiológico, que buscam estritamente cotas de poder, e outras que possuem um viés mais ideológico, liberal e ultraliberal. Composto hoje por DEM, PP, SD, PRB e PSC, tem na figura do presidente da Câmara Rodrigo Maia seu principal expoente. “O DEM, que vinha flertando em ocupar um espaço que era do PSDB, se tornando um novo pivô do campo das elites, volta a se manter na esfera de influência dos tucanos, até por falta de alternativa mesmo”. 

O campo progressista 

A ampla coalizão que vem se gestando no campo da direita, apenas dá mais relevância à necessidade que o PCdoB tem afirmado de unidade do campo progressista. Os vários movimentos realizados nos últimos meses com o intuito de criar bases para uma convergência mais ampla do campo progressista e de esquerda tem sido, em grande parte, iniciativa do PCdoB e de sua Fundação Maurício Grabois. Luciana destaca avanços importantes em iniciativas programáticas, como foi o Manifesto pela Reconstrução Nacional e a ideia de construção de uma Frente Parlamentar lançada nas últimas semanas. “Isto tudo tem o peso da nossa construção política”, diz ela. 

“No entanto, paradoxalmente, temos tido grandes dificuldades para a convergência de um pacto eleitoral em torno de uma candidatura única com possibilidades reais de vitória”, diagnostica Luciana. Esta necessidade somente cresce no novo cenário. O PT e o PDT e mesmo PSB possuem grande responsabilidade diante desta situação, na opinião dela. “Se nos apresentarmos fragmentados, dispersos, isto nos será cobrado. Temos a obrigação de realizar esforços neste sentido. Manuela tem dito que não somos óbice para a unidade. Com a fragmentação, a candidatura se mantém”, enfatizou a dirigente comunista

O êxito da pré-candidatura de Manuela 

A presidenta do PCdoB avaliou como uma estratégia vitoriosa a condução da pré-candidatura de Manuela D’Ávila, pelo frescor no ambiente político, e como um excepcional instrumento de apresentação das bandeiras e posições do PCdoB, bem como sobre as saídas para a crise brasileira.

“Sua bravura e combatividade e assertividade sobre os desafios do Brasil lhe têm permitido ganhar apoio e consideração de setores amplos que transcendem, e muito, a área de influencia do PCdoB. Aparecer em pesquisas com 2% consolidados e em espontâneas com 1% é sinal do potencial da pré-candidatura”, acredita, mencionando a entrevista ao programa Roda Viva, em que ela conseguiu furar a bolha da comunicação e obter uma repercussão de grandes magnitudes. “Nossa campanha feita sob condições limitadas, sejam elas materiais ou humanas, ultrapassou todas as expectativas”, salientou. 

Projeto eleitoral dos comunistas

A construção do projeto eleitoral do PCdoB entra na última e mais decisiva fase: a das coligações que projetem a competitividade das candidaturas. “Nada fica definido em termos de resultados sem essa definição. Claro que se avançou bastante nos arranjos regionais, mas manda a experiência que até o final do jogo é preciso manter a concentração”, afirmou Luciana.

No que foi construído até agora, o PCdoB tem condições de manter em situação competitiva, nos termos dos objetivos traçados pelo Comitê Central, 17 estados, com um total de um governador, ao menos uma senadora, até 20 deputados(as) federais em 17 Estados e 37 a 45 deputadas(os) estaduais. Em meio a isso, foram colocados novos nomes em condições de disputa.
Em termos de candidaturas majoritárias outras estão em definição, como a própria Luciana para vice-governadora em Pernambuco, entre outras opções em Minas Gerais, Mato Groso, Rio Grande do Norte, Roraima, Espírito Santo, Paraíba, Rio de Janeiro e Pará.

Busca da unidade até o último minuto

Luciana Santos encerrou sua intervenção apontando indicativos de dar seguimento às conversações com PT, PDT, PSB nas quais o PCdoB insistirá sobre a necessidade um pacto eleitoral das forças progressistas visando a quinta vitória do povo nas eleições presidenciais de outubro. A Convenção Nacional do PCdoB que se realizará no dia 1º de agosto deverá delegar à Comissão Política Nacional as últimas definições sobre a posição do PCdoB. 

“Provavelmente, o cenário só vai evoluir nos pênaltis. Mas o que nos orienta é a busca pela vitória do nosso campo e pelo cumprimento dos objetivos do nosso projeto eleitoral. O que nos move é a unidade do nosso campo e lutaremos por ela até o último minuto e a nossa pré-candidata Manuela que segue sua campanha é o nosso grande trunfo para isso”, reafirmou. 




Do Portal Vermelho
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