Publicado 17/07/2020 21:19 | Editado 17/07/2020 21:24
O Brasil
ultrapassou a marca de dois milhões de infectados e de mais 77 mil mortos pelo
novo coronavírus. Nestes dois marcadores o país é o segundo do mundo em números
absolutos – só perde para os Estados Unidos –, de acordo com dados da Universidade
Johns Hopkins, e está na fase de alta transmissão, com forte letalidade.
O primeiro caso
registrado no país ocorreu em 26 de fevereiro, chegou a 500 mil em 31 de maio,
dobrou esse número em apenas 19 dias. O salto de um milhão para a atual marca de
mais de dois milhões se deu em apenas 27 dias. Há que considerar, ainda, o
número de mortos por cem mil habitantes, que atingiu a média de 36,7, enquanto
na vizinha Argentina a proporção é de 4,6.
O Brasil chegou a
essa situação em grande medida por conta da irresponsabilidade do governo
Bolsonaro. O presidente da República sempre negou a gravidade da pandemia e se
recusou a pôr o governo na defesa da nação. Não instituiu uma estratégia de
combate à doença, tampouco criou uma coordenação nacional para harmonizar as
ações com estados e municípios.
E mais: combateu o
distanciamento social – a principal orientação da Organização Mundial da Saúde
(OMS) – e não adotou a testagem, o rastreamento e o isolamento dos infectados
para baixar a transmissão. Num recente pronunciamento pela internet, voltou a
fazer propaganda da cloroquina e do vermífugo Anita, uma atitude que além de
boçal pode ser classificada como criminosa por induzir a automedicação e
utilização de medicamento sem comprovada eficácia.
Bolsonaro também se
ocupou em elogiar o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello,
segundo ele um bom soldado, do qual o Exército tem motivo para se orgulhar. Ou
seja: suga as Forças Armadas para a crise permanente do seu governo e para o
centro das irresponsabilidades diante da pandemia.
Depois de demitir
dois ministros da Saúde, Bolsonaro militarizou a pasta, adensada com mais de
duas dezenas de militares em postos-chaves. Mais 6 mil militares da reserva e
da ativa, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU) ocupam cargos civis no
governo federal.
A dupla Bolsonaro-Pazuello expurgou do Ministério profissionais gabaritados, gente com expertise no Sistema Único de Saúde (SUS) e no combate à pandemia para pôr leigos no lugar.
A dupla Bolsonaro-Pazuello expurgou do Ministério profissionais gabaritados, gente com expertise no Sistema Único de Saúde (SUS) e no combate à pandemia para pôr leigos no lugar.
Pazzuelo realizou o
sonho do chefe; baixou um protocolo indicando a cloroquina como medicamento a
ser prescrito desde início do tratamento no SUS, contrariando pareceres da OMS
e de pesquisadores. Com isso, Bolsonaro determinou que os laboratórios das
Forças Armadas produzissem o medicamento em massa, consumindo recursos públicos
que deveriam ser aplicados em outros insumos.
Ao mesmo tempo, o
governo adotou a prática de sonegar dados, negando à população o direito à
informação, e de reter recursos para o combate à pandemia. Enquanto o número de
mortos não para de crescer, apenas cerca de um terço do orçamento do Ministério
da Saúde foi utilizado. Daí resulta que o SUS não recebeu os aportes
necessários, daí que o estados e municípios não receberam ajuda necessária,
como insumos, entre eles, respiradores e kits de testes aos estados e
municípios. Com essas simples medidas, milhares de mortes poderiam ser
evitadas.
Diante desse
cenário, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes decidiu pôr
o dedo na ferida. Afirmou que não é admissível essa tragédia, com uma sequência
de mais mil mortes diariamente, sem ministro da Saúde condizente com a
realidade do país. E aconteceu o que Bolsonaro desejava.
O Ministério da
Defesa e as Forças Armadas reagiram de modo contundente. O ministro da Defesa
sacou contra o ministro Gilmar a Lei de Segurança Nacional um entulho
autoritário da época da ditadura, e até o Código Penal Milita. Diante do
contencioso, Bolsonaro saiu de “fininho”. Oportunisticamente, ficou quase em
silêncio, até porque um dos inquéritos que envolve seu filho – o senador Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ) – no STF é relatado por Gilmar Mendes.
Ele enfia a cabeça
no buraco, tenta se desvencilhar de suas responsabilidades e busca lançar a
montanha de mortos sobre ombros alheios, inclusive de Pazzuelo e das Forças
Armadas quando, em grande medida, ele é o responsável por essa tragédia
nacional. Em consequência dessa conduta criminosa, o Brasil está longe de
controlar a pandemia. É imperativo que os demais Poderes da República – o Judiciário
e o Legislativo –, os governadores e prefeitos, as entidades e instituições
sociedade civil sigam se desdobrando para deter essa escalada de mortes.
Do ponto de vista
técnico, respeitados pesquisadores (as) de nosso país indicam, apoiados
inclusive na experiência internacional relatada pela OMS que, no estágio atual
da pandemia, impõe-se testar largamente a população, rastrear contaminados e
isolá-los em quarentena. Mas não se vê, por parte do Ministério da Saúde, sob a
gestão de leigos, nenhuma iniciativa.
As amplas forças
democráticas e progressistas precisam convergir para ações capazes de pôr um
ponto final neste governo, em defesa da vida e para a preservação da
democracia. Ações que faça o Brasil sair da crise para voltar a crescer, a
produzir e gerar emprego, assegure renda aos mais necessitados, solução que
passa por um governo sem Bolsonaro na Presidência da República.
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