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Agora, com a aproximação das vacinações, a preocupação continua, embora ele torça para que o Ministério da Saúde assuma suas prerrogativas nacionais nesse assunto. O governador falou das medidas tomadas no enfrentamento da pandemia no Maranhão.
por Cézar Xavier
Publicado 14/12/2020 23:39 | Editado 15/12/2020 00:11
Entrevista do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), aos
jornalistas do portal Vermelho.
Em entrevista à
equipe do portal Vermelho, o governador do Maranhão, Flávio
Dino (PCdoB), falou sobre o cenário nacional e as perspectivas do Brasil,
fazendo uma retrospectiva do ano de 2020 e seus desafios.
Sobre a atuação do
governo na pandemia, ele falou de sua preocupação com o “salve-se, quem puder”
instaurado em relação às medidas sanitárias de todos os tipos, que levaram os
governadores e prefeitos a fazerem “justiça com as próprias mãos”, sem poder
esperar por uma resposta do Governo Federal. Agora, com a aproximação das
vacinações, a preocupação continua, embora ele torça para que o Ministério da
Saúde assuma suas prerrogativas nacionais nesse assunto.
Para ele, Bolsonaro
pode ser criticado por quase tudo, “menos por ser uma pessoa incoerente na
insensatez”. Flávio o define como uma pessoa “coerente nos seus equívocos”, ou
seja, “ele começa errando e continua errando até o fim”. Para isso, ele pontuou
com os exemplos que se somam desde o início da pandemia. “É histeria, é
gripezinha, não é problema meu, não vale nada, não precisa de nada, coisa de
maricas, todo mundo vai morrer um dia, não sou coveiro, não estou nem aí para a
vacina”, citou ele, as falas mais famosas de Bolsonaro durante a crescente de
letalidade da doença.
Assim, ele observa
que há um fio condutor entre a primeira entrevista no exterior, quando o vírus
ainda não chegara no Brasil, e ele disse que era uma histeria, com a tragédia
atual, em que, mais uma vez, assiste-se o governo federal com dificuldade de
exercer o papel que lhe cabe, constitucional e legalmente, ou seja, o de
coordenação do pacto federativo para enfrentamento conjunto da pandemia.
“Estabeleceu-se um
salve-se quem puder no que se refere a luvas, máscaras, respiradores, medidas
preventivas, e, agora, o salve-se quem puder em relação às vacinas vai se
formando. Eu tenho lutado contra isso. Eu continuo defendendo o plano nacional
de imunização, porque isto é o certo. Não podemos fragmentar o Brasil.
Imaginemos criar migração de pessoas entre os estados em busca de vacinas… não
é desejável!”, indignou-se.
Como governador,
ele diz que tem feito dois movimentos: primeiro cobrar que o governo federal faça
o que tem que fazer, que é exercer o comando do plano nacional de imunização. A
lei 6259, de 1975, fixa as obrigações da União em gerenciar o plano nacional de
imunização. “São 45 anos em que ninguém nunca discutiu isso, mas o Bolsonaro é
espantoso! Como eu disse: coerente em sua insensatez. Ninguém nunca quis ficar
com as atribuições do Ministério da Saúde, porque o plano nacional é o
correto”.
Flávio lembra que
foi feito um pacto entre o governo federal e os governadores em 20 de outubro,
mas Bolsonaro rasgou o pacto e disse que quem mandava era ele, e desautorizou o
ministro da saúde. “A partir daí, cada um vai buscar um caminho. O [governador
de São Paulo, João] Dória tem dinheiro e o Butantã em São Paulo, uma
instituição do Brasil, mas pertencente administrativamente ao governo de São
Paulo. Fez um acordo, está comprando [vacinas] e vai ser condenado por isso. A
meu ver, não deve”, opinou.
No caso do
Maranhão, o governador entrou com ação judicial no Supremo Tribunal Federal,
para ter autorização de comprar vacina diretamente, inclusive do Butantã.
“Porque se o plano nacional de imunização não andar, temos uma espécie de plano
B. Este é o sentido da movimentação que fiz e de outras que temos feito para
garantir que possamos com nossos meios”.
“Se o governo
federal continuar nessa confusão sem fim, vai se instalar o salve-se quem
puder. Luto para que isso não ocorra, participo de reuniões com o governo
federal, converso sobre isso, mas vamos ver…”, diz ele, cauteloso.
Em sua opinião,
reina, nesse momento, uma grande insegurança quanto a isso. Ele pretende
continuar acompanhando o que acontecerá, inclusive no que refere a decisões do
Supremo e do Congresso Nacional. Se Bolsonaro não consegue coordenar seu
governo para comprar vacina, ele acredita continuar conseguindo nos outros
poderes, decisões que possam levar o Brasil a ter um plano nacional rápido e
eficiente. “Se não, vamos ter vários planos estaduais, inclusive do Maranhão”,
antecipou.
A baixa mortalidade
no Maranhão
Levantamento do
consórcio da imprensa observa que dos nove estados do Nordeste, só o Maranhão
não apresenta aceleração de mortes nos últimos dias. Ele apontou o que o
governo do Maranhão tem feito para garantir estes resultados e evitar uma
segunda onda de contágios e como tem funcionado a integração entre os governos
do Nordeste para reagir conjuntamente a uma nova crise intensa do coronavírus.
Ele contou que os
governos nordestinos continuam a conversar conjuntamente no âmbito do Consórcio
do Nordeste, assim como, em cada estado, há também comitês científicos. “Este
diálogo entre os profissionais da área e aqueles que têm a responsabilidade de
adotar os caminhos tem garantido boas decisões”, afirmou.
No caso do
Maranhão, observa ele, tem havido transparência e investimento em rede. Ele conta
que ampliou a rede de saúde, chegando a inaugurar 13 unidades de saúde em doze
semanas, no auge da pandemia. Aumentou em 30% a 40% dos gastos com saúde,
durante a pandemia. “Hoje, temos uma oferta de rede de atendimento bastante
ampla. Notamos uma melhoria da qualidade do manejo desses casos pelos
profissionais de saúde com a curva de aprendizado dessa situação nova”.
No hospital de
referência para Covid-19, Carlos Macieira, ele diz ter ouvido o diretor contar
que faz oito dias que não morria uma única pessoa desta doença. “Chegamos a ter
dez óbitos em um dia, neste hospital, o que mostra que há um aprimoramento e
qualificação dos profissionais”, analisa.
Mas ele diz que não
está acomodado com o que fez. Acabou de autorizar turnos ininterruptos de 24 horas
e sete dias na semana para inaugurar uma obra hospitalar em janeiro, em vez de
fevereiro. “Estou sendo prudente, porque se vejo que o mapa do Brasil está
ficando todo revelador de trajetória de crescimento, tenho que me preparar para
o pior. Nunca parei de inaugurar obra de saúde, desde abril”, garante o
governador maranhense.
Flávio Dino fez um
depoimento pessoal ao confessar o esforço para salvar vidas. “Deus é testemunha
do meu esforço desesperado, obstinado, noites e noites que fiquei sem dormir
atrás de leito, imaginando como requisitar hospital, como fazer parceira com
setor privado. Aluguei três UTIs aéreas para ficar voando, cortando o Maranhão,
transportando paciente de um lado para outro. Consegui UTIs móveis, ambulâncias
do setor privado. Conseguimos um resultado que não é perfeito, mas reconhecido
nacionalmente como sério”, declarou.
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