Brasil “quebrado” é mais uma falácia de
Bolsonaro
Do Portal Vermelho
Orçamento de 2021 e reforma do serviço público: Estado mínimo de Bolsonaro e Guedes - Foto: Reprodução
Publicado 05/01/2021 22:38
O pretexto do
presidente Jair Bolsonaro de que o Brasil está quebrado para tentar justificar
por que não consegue governar é um desatino. Para uma economia que ostenta um
Produto Interno Bruto (PIB) superior a R$ 7 trilhões, com uma industrialização
média e um enorme potencial produtivo, falar em quebra é uma é uma tentativa de
fugir da realidade e de suas responsabilidades, uma manobra para justificar
fracassos injustificáveis.
Bolsonaro não pode
se esconder em sua confessa ignorância sobre o assunto, até porque o Estado
brasileiro tem instrumentos que podem municiá-lo diariamente sobre a realidade
do país. Ademais, há uma profusão de estudos mostrando que a penúria da
economia brasileira tem a ver essencialmente com uma opção de administração do
Estado que não prioriza a dinâmica produtiva.
A crise que se
arrasta há mais de meia década decorre da opção de restabelecer a ordem
neoliberal, que tantos males causou ao país e ao povo na década de 1990, agora
com uma agressiva política entreguista, um neocolonialismo radicalizado e
escudado na gestão macroeconômica ultraliberal do ministro da Economia, Paulo
Guedes. Tudo isso embalado pela demagogia de que uma vez feita a “lição de
casa” os capitais fluiriam para cá na forma de investimentos maciços.
Esse pensamento é a
nata da visão da elite brasileira, aquilo que o escritor Lima Barreto chamou de
síndrome de Robinsons – um sentimento de que algum navio venha salvar o país da
ilha a que um náufrago o atirou. No caso de Guedes, seria uma “avalanche” de
investimentos de capitalistas que viriam para cá atraídos pela austeridade
fiscal e pelo absoluto controle do orçamento segundo os cânones do mercado
financeiro.
Essa é uma tese
antiga dos liberais e neoliberais brasileiros. Reflete o desinteresse da elite
sem compromisso com o país e com o povo. Quase na virada para o século XX –
apenas há pouco mais de 100 anos, portanto –, o Brasil era monarquista e
escravocrata. Desde então, o que houve de desenvolvimento e progresso social
veio pelas mãos do Estado. É possível dizer que se o país tivesse dependido
unicamente do capital privado, provavelmente teria demorado muito mais tempo
para superar a fase meramente agropastoril.
Os números mostram
a falácia de Bolsonaro e o papel nefasto desse programa ultraliberal e
neocolonial de Guedes. O Brasil gastou relativamente pouco no enfrentamento à
Covid-19, de acordo com um levantamento do Bank of America Merryll Lynch (BofA)
que comparou a combinação de estímulos fiscais e monetários em 97 países, em
2020. Foram mobilizados o equivalente a 11,2% do PIB, o percentual mais baixo
entre as dez maiores economias do mundo; nas economias mais ricas, os estímulos
totais somam no mínimo 37,5% do PIB.
Há ainda a falta de
perspectiva de retomada de crescimento – uma decorrência da síndrome de
Robinsons de Paulo Guedes – e a má distribuição da renda nacional. Um relatório
macroeconômico da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) estima que enquanto o PIB
deve cair 4,7%, a fatia de cada um dos brasileiros nas riquezas totais
produzidas encolherá 6,3%. Para atingir a renda per capita de 2013 (melhor
resultado das últimas duas décadas), o Brasil levará, no ritmo atual, ao menos
dez anos.
Esse pronunciamento
de Bolsonaro se insere no seu já conhecido rol de irresponsabilidades. Obcecado
pelo projeto de poder autoritário, ele se mostra, a cada manifestação sobre os
problemas do país e do povo, incapaz de formular raciocínios inteligíveis, que
possam apontar perspectivas de enfrentamento à crise de saúde por conta da
Covid-19 e, consequentemente, aos graves problemas da economia. Na verdade, ele
apenas deu mais um motivo para os movimentos de soma de forças para isolá-lo e
derrotá-lo.
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