As seringas e a frieza genocida de Bolsonaro
Publicado
06/01/2021 22:52
Do Portal Vermelho.
O presidente da
República, Jair Bolsonaro, sempre se supera quando o assunto é a
irresponsabilidade na condução do país. A mais recente postura nesse sentido
foi o anúncio de que o governo suspendeu a aquisição de seringas para a
vacinação contra Covid-19 “até que os preços voltem à normalidade”. Como é de
seu feitio, o anúncio se deu sem maiores detalhes, além de alegar que estados e
municípios têm estoques do material para o início da imunização.
A compra de
seringas vem sendo postergada há algum tempo, o que leva à suposição de que
esse anúncio é mais um pretexto para o prolongamento do seu descaso diante da
tragédia que já ceifou quase 200 mil vidas de brasileiros. A frieza com que
Bolsonaro trata a questão choca primeiro porque é um descaso com a vida. Seus
pronunciamentos são gélidos do ponto de vista da empatia, da comoção que
deveria estar presente quando se fala dessa cifra. Choca também porque essa
frieza denota indiferença diante da perspectiva de que o elevado número de
mortes tende a prosseguir por tempo indefinido.
Só uma pessoa
desprovida de sentimento humano, incapaz de se empenhar para aliviar a dor e o
temor de tantos concidadãos, pode ter esse comportamento. Bolsonaro age como
outros genocidas da história que, em nome do ideal da extrema direita,
promoveram grandes tragédias ao longo da história.
É evidente que a
suspensão da compra das seringas não se deve à anormalidade dos preços. Mas se
é verdade que existe algum percalço nesse sentido ele se deve exatamente ao
traço fundamental do governo: irresponsabilidade. Alguém com um mínimo de
responsabilidade, investido de poderes de presidente da República, teria feito
um planejamento para enfrentar eventuais obstáculos, inclusive a majoração de
preços dos insumos necessários para enfrentar a pandemia.
E outra: a
prioridade das prioridades, para quem age de forma racional e lógica, é
providenciar as condições para a imunização da população mesmo pagando o preço
desses imprevistos. Mas não se deve esperar esse tipo de comportamento de
Bolsonaro. O país teria mil alternativas para contornar a situação se o
objetivo fosse o combate à pandemia. Como não é, qualquer obstáculo serve de
pretexto para a sua política de deixar o povo totalmente no abandono, entregue
à própria sorte.
Essa fala de
Bolsonaro não surpreende exatamente por conta da sua conhecida conduta. Choca
pela estupidez, mas não passa de reafirmação do seu descaso com a pandemia,
incitando sabotagem ao isolamento social, ao auxílio emergencial, à ajuda aos
estados e municípios e ao socorro às empresas vulneráveis aos efeitos
econômicos da pandemia. É a lógica escravista de tratar o povo como mero
reprodutor de capital, sem direitos trabalhistas e sociais e sem acesso aos
recursos do Estado que deveriam ser priorizados como investimentos na saúde pública.
Seu projeto
autoritário de poder se expressa também em condutas como essa, uma afronta ao
papel do Estado e às responsabilidades precípuas do cargo de presidente da
República, mais um atestado da sua inépcia e da sua incompatibilidade com a
função que ocupa. Suas ações se somam, cotidianamente, ao seu intento de semear
o caos para tentar colher mais poder, constatação cabal de que sua presença no
Palácio do Planalto é uma ameaça constante ao Estado Democrático de Direito.
O país não pode
ficar passivo diante de tanta desfaçatez. Urge a atenção para cada um de seus
passos com a compreensão de que eles devem ser contidos por meio de respostas
firmes, erguendo barreias amplas e consistentes, com a convicção de que a
institucionalidade democrática do país está em questão. A defesa da democracia
é a porta de entrada para as lutas por um novo rumo, capaz de combater esse
caos que se traduz na tragédia representada por essa assustadora escalada de
mortes.
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