Bolsonaro e o genocídio de 300 mil brasileiros
Publicado 25/03/2021 19:04
Ilustração: Laerte
Deve-se frisar que
esse dado, já extremamente alarmante, não dá conta de toda a extensão da
tragédia. É notória a subnotificação de casos e óbitos, a ponto de
especialistas – como os pesquisadores do Observatório Covid-19 – cogitarem que
mais de 415 mil brasileiros podem já ter morrido em decorrência direta da
pandemia.
Se por um lado há
divergências quanto ao número efetivo de vítimas da pandemia no Brasil, em
contrapartida é cada vez mais consensual que o presidente Jair Bolsonaro é o
principal responsável pelo genocídio em curso. Sua incompetência está por trás
de vários fracassos acumulados nos quase dois anos e três meses de seu governo.
Mas o que prevalece na crise sanitária não é o despreparo mas, sim, o descaso
atroz, a mentira contumaz, a criminosa negligência.
Na terça-feira
(23), dia em que o Brasil totalizou 12 milhões de casos confirmados, Bolsonaro
ousou fazer um pronunciamento de quatro minutos em cadeia nacional de rádio e
TV para manipular números e informações sobre o combate à pandemia. “Em nenhum
momento, o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o
coronavírus como para combater o caos na economia”, fantasiou o presidente.
“Somos incansáveis na luta contra o coronavírus”, emendou, em outro engodo.
Apesar da brevidade
da fala, diversos veículos e agências de checagem de notícias apontaram uma
série de erros, distorções, contradições e mentiras – só a Folha de São Paulo
viu “11 diferenças entre a realidade da pandemia e pronunciamento”. Tamanho
cinismo foi repudiado de imediato, com panelaços populares em todo o País – o
que se repetirá, em dimensões ainda maiores, a cada novo pronunciamento. É o
reflexo do crescente percentual de brasileiros que veem como ruim ou péssima a
forma como Bolsonaro enfrenta a crise da Covid, elevando, por tabela, a
rejeição ao próprio governo genocida.
Diferentemente de
outros líderes mundiais preocupados com a vida e o destino da população de seus
países, Bolsonaro sabotou todos os esforços que podiam mitigar os efeitos da
pandemia e acelerar seu controle. Desqualificou permanentemente a gravidade da
doença e os métodos preventivos. Fez lobby para medicamentos e tratamentos sem comprovação
científica. Promoveu o negacionismo por meios da mídia oficial, de suas redes
sociais e de vergonhosas ações na Justiça, como a que tentava reverter medidas
restritivas em três estados.
Sob o falso dilema
de ter de escolher entre a vida das pessoas e a economia do País, o presidente
eleito com 57 milhões de votos deixou uma e outra à deriva, traiu o juramento
presidencial e condenou a população a um cotidiano de barbáries. Não bastassem
as 300 mil perdas humanas – que põe o Brasil na condição de novo epicentro da
pandemia –, a economia sofreu a pior recessão da série histórica e caiu três
posições no ranking mundial dos maiores PIBs.
A parceira
Bolsonaro e pandemia, fez a nação brasileira regredir. As mais básicas noções e
práticas civilizatórias foram afrontadas. O desprezo à aflição do povo,
notadamente das famílias mais pobres, desnudou a faceta desumana do governo.
Mesmo com o desemprego recorde e a inflação dos alimentos e do gás de cozinha,
o auxílio emergencial foi suspenso e desfigurado. Começam a faltar insumos e
leitos de UTI (Unidades de Terapia Intensiva) para Covid na maioria dos
estados. Tampouco há vacinas para todos – tudo indica que a imunização deve se
estender até 2022.
As 300 mil mortes
por Covid-19 simbolizam esse estado deprimente de coisas e reforçam o
isolamento de Bolsonaro. Ainda que mantenha o apoio de cerca de 30% do
eleitorado – a crer nas últimas pesquisas –, o bolsonarismo é confrontado por
governadores, prefeitos e parlamentares, setores do judiciário e da grande mídia,
acadêmicos e especialistas, instituições de referência e entidades dos
movimentos social, sindical e estudantil. A todos eles se somam, agora,
economistas e até banqueiros, cientes de que nem mesmo o mercado tem algo a
ganhar com um governo tão vil e irresponsável.
É preciso deter a
pandemia e o bolsonarismo, antes que o número de vítimas da Covid-19 e do
desgoverno dobre ou triplique. As vozes em defesa da vacina já para todos e do
auxílio emergencial de R$ 600 falam cada vez mais alto, têm ressonância e ecoam
Brasil afora. Não há perspectivas de avanços concretos com a permanência do
presidente no poder. Fora, Bolsonaro!
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