Publicado
29/03/2021 21:23
Bolsonaro e
ministro das Relações Exteriores - Reprodução da Internet
A crise política que resultou na
queda do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo – no bojo da mudança
de seis integrantes do ministério – é mais um sintoma do desastre representado
pelo governo Bolsonaro. Não é possível dissociar as irresponsabilidades do
ex-comandante do Itamaraty da política global bolsonarista. Ernesto Araújo
apenas seguiu à risca o fanatismo da extrema direita que governa o Brasil,
negando os mais elementares princípios da ciência e do bom senso para enfrentar
a grave crise econômica e sanitária que castiga o país.
O seguidismo cego ao terraplanismo,
que tem no ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump o seu mais destacado
representante político em âmbito mundial, traduz a ideia que guia o
bolsonarismo. O governo Trump chegou ao fim, mas a ideologia dessa extrema
direita segue como a sua principal referência política para Bolsonaro e sua
equipe.
As consequências são trágicas, como
pode ser visto nos números e cenas de brasileiros lutando pela vida e contra
fome. No primeiro caso, o negacionismo bolsonarista em relação à pandemia da
Covid-19 deixou o país sem acesso a vacinas, sobretudo de origem chinesa. O
sectarismo ideológico da extrema direita levou os brasileiros a perder
oportunidades preciosas para uma rápida imunização em massa, como vem ocorrendo
em outros país, com destaque para os Estados Unidos.
Essa obtusidade tem reflexos internos
também na utilização do potencial tecnológico e de conhecimento científico para
a produção de vacinas. Um intercâmbio sem censura ideológico com outros países
poderia trazer para o país tecnologia para impulsionar a produção brasileira de
imunizantes. Nos dois casos, uma política externa ativa do governo, capitaneada
pelo Itamaraty, poderia ter evitado a dimensão da tragédia sanitária que
assombra o país.
Outro efeito grave das ideias de
Bolsonaro e Ernesto Araújo é a forma de lidar com a crise econômica. O Brasil
desenvolveu uma política externa altiva e ativa, como foi chamada nos governos
dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que possibilitou
uma produtiva relação geopolítica e geoeconômica, sobretudo pelas alianças
regionais e pelo protagonismo no BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África
do Sul). Os frutos dessa política foram fundamentais para o país combater os
efeitos da crise econômica global, que teve mais um pico grave em 2007-2008.
Bolsonaro e Ernesto Araújo romperam
com essa política para seguir, cegamente, os brados da Casa Branca. Como parte
desse obscurantismo, de inegável sentido criminoso contra a humanidade, o
Itamaraty, seguindo os ditames de Bolsonaro, passou a agir para sabotar as
relações econômicas sobretudo com a China. O caso mais emblemático é o leilão
da tecnologia 5G. A submissão de Bolsonaro ao trumpismo levou à tentativa de
sabotagem a Huawei, a maior companhia do mundo de equipamentos para redes e
comunicações, assunto que voltou à baila com as grosserias de Ernesto Araújo
contra a senadora Kátia Abreu, presidente da Comissão de Relações Exteriores do
Senado.
O conjunto da obra envolve também o
ministro da Economia, Paulo Guedes, sabidamente um sabotador de investimentos
fora dos cânones fiscais do circuito financeiro internacional. Com essa
premissa, o Brasil perde importantes oportunidades para se integrar ao polo
mais dinâmico da economia mundial atualmente. A soma desses fanatismos
neoliberal e terraplanista resulta nessa tragédia pela qual passa o país, que
precisa urgentemente ser contida.
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