Por Dedé Rodrigues
Nesse 20 de novembro, além de
movimentos sociais da região se encontrarem em Afogados da Ingazeira para gritar
o fora Bolsonaro e defender o combate ao racismo, tivemos nesse período anterior,
a Semana da Consciência Negra,
atividades virtuais na GRE e nas escolas da nossa região debatendo a temática do racismo
estrutural, reforçadas pelo projeto Letras Pretas que tem o objetivo de dar
mais visibilidade a literatura
produzida por pessoas de cor. É com base nesses eventos que escrevo este breve
artigo para tecer algumas reflexões e aprofundar o debate sobre um tema tão
caro a nossa democracia, o racismo estrutural.
As mesas de debates ou lives
produzidas pela GRE com a coordenação da professora Elizângela e a participação
de escolas e dos professores Rogério, Edson
e da poetisa Francisca Araújo, apesar das limitações técnicas e da falta de uma participação
online mais ampla, levantaram alguns questionamentos importantes que pretendemos aprofundar aqui.
Sabemos que o racismo chega ao
Brasil por intermédio dos navios negreiros,
conforme o Poeta Castro Alves retrata bem em um dos seus versos com esse título.
Porém, por mais de 300 anos, essa prática foi legal no Brasil, daí porque esse
vocábulo só passa a ser discutido e
reconhecido como uma herança nefasta da escravidão no século XX. Mas eu senti a
falta nesses debates até agora de aprofundamento científico com números sobre a
temática, pois morrem em torno de 42 mil negros assassinados por ano no Brasil,
além de 18 mil brancos, segundo dados debatidos por lideranças da UNEGRO. Esses
números e, tantos outros que não citei aqui, são importantes, pois eles mostram e provam as
consequências perversas do racismo em nossa sociedade.
Um breve histórico sobre o
racismo mostra que algumas teorias ou fenômenos sociais deram sustentação ao
modo de produção escravista, precussor do capitalismo em nosso continente: o
Darwinismo social, o etnocentrismo, o eurocentrismo, a meritocracia, o racismo “científico”
e a democracia racial. Essas formulações, quando investigamos o conteúdo delas,
compreendemos que tentam justificar, naturalizar ou esconder a real situação dos
negros, dos pobres e, enfim, dos excluídos no modo de produção capitalista
atual.
Uma questão que mereceu também
atenção nesses debates foi a pouca indignação das pessoas em relação ao
problema do racismo e ao fato de um negro racista, Sérgio Camargo, ter sido colocado na Presidência da Fundação
Cultural Palmares que tem justamente o objetivo de combater o racismo. Porém
isso é resultado de uma série de fatores que escondem ou naturalizam o racismo
no Brasil. As instituições, a exceção da família, são compostas, quase que exclusivamente por
brancos, inclusive as escolas e universidades. É dessa forma que o racismo se apresenta nas
instâncias de poder, com a presença majoritária de brancos. É uma herança do
escravismo que temos que enfrentar. O racismo está presente nas instituições de forma camuflada, a medida que elas não puxam ou pouco apoiam esses eventos de combate ao racismo. Como lembrou a professora Márcia, "não basta dizer que não é racista, é preciso ser antirracista". Em outras palavras, ajudar a combater o racismo em todas as instituições.
Por fim, falar do racismo estrutural e estruturante, é falar da essência do capitalismo, dos valores, da origem e da formatação desse modo de produção atual. Não é só falar da crise do sistema, que agrava as relações sociais e raciais, em particular da mulher negra, a mais afetada pela lógica do mercado no capitalismo. Mas falar, sobretudo, de uma nova alternativa de poder que supere as contradições do capitalismo. Falar do racismo é falar de frentes amplas contra a extrema direita, que atualmente governa o Brasil, inimiga do progresso, da democracia, da civilização, dos negros e das "maiorias minorizadas". O povo precisa ir às ruas, de forma ampla nesse 20 de novembro, pelo impeachment de Bolsonaro. Falar do fim do racismo é juntar todo mundo que não gosta de Bolsonaro para salvar a democracia. É importante, mas não basta só levar as ruas os movimentos sociais organizados. Sem isso, a questão do racismo tende a piorar, pois ele é estrutural e estruturante. A redução e o fim do racismo passa pela substituição desse poder extremado no Brasil e pela implantação de um novo projeto nacional de desenvolvimento, que inclua as "maiorias minorizadas" historicamente com o objetivo de acabar com toda forma de preconceito e discriminação, para que um dia se implante nessa pátria a justiça racial e social.

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