sábado, 20 de novembro de 2021

AVANÇA O DEBATE SOBRE A CONSCIÊNCIA NEGRA NO PAJEÚ, MAS A CAMINHADA AINDA É MUITO LONGA

 Por Dedé Rodrigues

Nesse 20 de novembro, além de movimentos sociais da região se encontrarem em Afogados da Ingazeira para gritar o fora Bolsonaro e defender o combate ao racismo, tivemos nesse período anterior, a  Semana da Consciência Negra, atividades virtuais na GRE e nas escolas da nossa região debatendo a temática  do racismo estrutural, reforçadas pelo projeto Letras Pretas que tem o objetivo de dar  mais visibilidade a literatura produzida por pessoas de cor. É com base nesses eventos que escrevo este breve artigo para tecer algumas reflexões e aprofundar o debate sobre um tema tão caro a nossa democracia, o racismo estrutural.  

As mesas de debates ou lives produzidas pela GRE com a coordenação da professora Elizângela e a participação de escolas e  dos professores Rogério, Edson e da poetisa Francisca Araújo, apesar das limitações técnicas e da falta de uma participação online mais ampla, levantaram alguns questionamentos  importantes que pretendemos aprofundar aqui.

Sabemos que o racismo chega ao Brasil por intermédio dos navios negreiros, conforme o Poeta Castro Alves retrata bem em um dos seus versos com esse título. Porém, por mais de 300 anos, essa prática foi legal no Brasil, daí porque esse vocábulo só passa a ser  discutido e reconhecido como uma herança nefasta da escravidão no século XX. Mas eu senti a falta nesses debates até agora de aprofundamento científico com números sobre a temática, pois morrem em torno de 42 mil negros assassinados por ano no Brasil, além de 18 mil brancos, segundo dados debatidos por lideranças da UNEGRO. Esses números e, tantos outros que não citei aqui,  são importantes, pois eles mostram e provam as consequências perversas do racismo em nossa sociedade.  

Um breve histórico sobre o racismo mostra que algumas teorias ou fenômenos sociais deram sustentação ao modo de produção escravista, precussor do capitalismo em nosso continente: o Darwinismo social, o etnocentrismo, o eurocentrismo, a meritocracia, o racismo “científico” e a democracia racial. Essas formulações, quando investigamos o conteúdo delas, compreendemos que tentam justificar, naturalizar ou esconder a real situação dos negros, dos pobres e, enfim, dos excluídos no modo de produção capitalista atual.   

Uma questão que mereceu também atenção nesses debates foi a pouca indignação das pessoas em relação ao problema do racismo e ao fato de um negro racista, Sérgio Camargo,  ter sido colocado na Presidência da Fundação Cultural Palmares que tem justamente o objetivo de combater o racismo. Porém isso é resultado de uma série de fatores que escondem ou naturalizam o racismo no Brasil. As instituições, a exceção da família,  são compostas, quase que exclusivamente por brancos, inclusive as escolas e universidades.  É dessa forma que o racismo se apresenta nas instâncias de poder, com a presença majoritária de brancos. É uma herança do escravismo que temos que enfrentar. O racismo está presente nas instituições de forma camuflada, a medida que elas não puxam ou pouco apoiam esses eventos de combate ao racismo. Como lembrou a professora Márcia, "não basta dizer que não é racista, é preciso ser antirracista". Em outras palavras, ajudar a combater o racismo em todas as instituições.        

Por fim, falar do racismo estrutural e estruturante, é falar da essência do capitalismo, dos valores, da origem e da formatação desse modo de produção atual. Não é só falar da crise do sistema, que agrava as relações sociais e raciais, em particular da mulher negra, a mais afetada pela lógica do mercado no capitalismo. Mas falar,  sobretudo, de uma nova alternativa de poder que supere as contradições do capitalismo. Falar do racismo é falar de frentes amplas contra a extrema direita, que atualmente governa o Brasil,  inimiga do progresso, da democracia,  da civilização, dos negros e das "maiorias minorizadas". O povo precisa ir às ruas, de forma ampla nesse 20 de novembro, pelo impeachment de Bolsonaro. Falar do fim do racismo é juntar todo mundo que não gosta de Bolsonaro para salvar a democracia. É importante, mas não basta só levar as ruas os movimentos sociais organizados. Sem isso, a questão do racismo tende a piorar, pois ele é estrutural e estruturante. A redução e o fim do racismo passa pela substituição desse poder extremado no Brasil e pela implantação de um novo projeto nacional de desenvolvimento, que inclua as "maiorias minorizadas" historicamente com o objetivo de acabar com toda forma de preconceito e discriminação, para que um dia se implante nessa pátria a justiça racial e social.

 










        

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