O imperialismo norte-americano, o maior poder assassino e corruptor da história, decidiu organizar boicotar um evento acusando a China de genocídio contra o povo uigur. É simplesmente constrangedor um país que mata, prende e tortura muçulmanos fora de suas fronteiras mostrar esse falso apreço pelos muçulmanos de Xinjiang.
por Elias Jabbour
Publicado 15/12/2021 16:52
Estados Unidos tentam usar os Jogos de Inverno para aumentar a tensão
com a China
Nós brasileiros
temos a saudável tendência de diante de uma grande incoerência usar de um bom
senso de humor. Escrevo isso, pois diante do chamado boicote diplomático
anunciado pelos Estados Unidos a primeira reação só pode ser o acreditar que
estamos diante de uma piada de mal gosto. De uma grande piada diplomática.
Passado o momento de perplexidade somos obrigados a lidar com os fatos: sim, o
imperialismo norte-americano, o maior poder assassino e corruptor da história,
decidiu organizar boicotar um evento acusando a China de genocídio contra o
povo uigur. O assunto passa a ser mais sério na medida em que passamos a
compreender não somente a hipocrisia por detrás disso, mas dos interesses que o
cercam. Sombrios interesses.
Quem é o país que
está a se “solidarizar” contra um suposto genocídio? É interessante notar que
um país que propala o direito de si mesmo patentear a defesa da democracia e
dos direitos humanos ter a popularidade de seus presidentes medida a partir de
decisões de guerra. Ou seja, os dois presidentes de maior popularidade na
história recente dos Estados Unidos, Bush pai e Bush filho, atingiram quase 90%
de popularidade após as decisões de desencadear duas agressões ao Iraque (1991
e 2003). Abrindo parêntese, a maior parte das agressões imperialistas nas
últimas décadas são contra países e povos de cultura islâmica. A mesma
distinção que eles mostram com o povo uigur, eles não mostraram aos muçulmanos
do Iraque e de outras vítimas de suas agressões.
Os casos chocantes
de tortura física e violação do direito dos presos em praticarem livremente sua
fé religiosa nas prisões de Guantánamo e Abu Ghraib correram o mundo e deixaram
em choque todos os verdadeiros defensores dos direitos humanos. O saque ao
museu histórico de Bagdá por parte de tropas dos EUA em 2003 pode ser visto
como um dos maiores genocídios culturais da história. Evidente que todos esses
eventos devem ser vistos como parte de um todo que é a tentativa de imposição
de uma “ditadura militar global” utilizando-se de conceitos difusos para
enganar a opinião pública internacional.
A democracia
norte-americana é a maior fábrica de mentiras da história. Sábia foi a profecia
do líder comunista Georgi Dmitrov, em seu histórico julgamento por ocasião do
incêndio do Reichstag em 1933, vaticinou que o fascismo é um fenômeno típico do
capitalismo e que certamente a próxima vaga fascista “viria do outro lado do
atlântico”.
As acusações de
genocídio do Estado chinês contra os muçulmanos uigures são insustentáveis. O
mundo vive uma época caracterizada por novas formas de golpes de Estado e
tentativas de desestabilizar países e sociedades. Uma dessas formas é a chamada
“tempestade semiótica”. Ou seja, uma acusação é feita e em questão de segundos
milhares de notícias são espalhadas pelas agências ligadas aos interesses do
imperialismo até que se torne uma “verdade”. Os Estados Unidos não foram somente
um país cujo sistema de apartheid racial encantou os ideólogos do nazismo na
década de 1920 (é pública a admiração de Hitler e Himmler pela forma de
funcionamento da sociedade norte-americana), mas é o melhor espelho do fascismo
nos dias de hoje em matéria de fabricar mentiras.
Vou repetir o que
já escrevi aqui antes. Sobre o Xinjiang, uma simples pesquisa é suficiente para
demonstrar algumas falácias. Por exemplo, uma das acusações é de a China tem
uma política de esterilização em massa que tem levado à queda da população
Uigur de Xinjiang de 15,5 nascimentos por mil para 2,5 por mil. No entanto, de
acordo com o relatório do sétimo censo nacional, divulgado em maio deste ano, a
taxa de crescimento populacional da etnia Han foi de 4,93%, e a população das minorias
étnicas da China aumentou 10,26% em comparação com 2010. Nos últimos dez anos,
a população das minorias étnicas em Xinjiang cresceu 14,27%. Durante o mesmo
período, a taxa de aumento da população das minorias e da etnia Han foram de
10,26% e 4,93%, respectivamente. Por outro lado, bom lembrar que as minorias
étnicas chinesas ficavam fora da política de controle de natalidade
implementada no início dos anos de 1980.
Por fim, a chamada
“piada de diplomática”. Uma das características mais interessantes do
imperialismo e que chama a atenção para a sua clara decadência é o fato deles
terem perdido completamente o chamado “senso de ridículo”. É simplesmente
constrangedor um país que mata, prende e tortura muçulmanos fora de suas
fronteiras mostrar esse falso apreço pelos muçulmanos de Xinjiang. Um país que
acredita que as sociedades pautadas por crenças judaico-cristãs são superiores
não tem condições de demonstrar apreço por nenhum povo que seja branco, de
olhos azuis e de religião cristã. Esse senso de ridículo só pode ser comparado
com os piores momentos de Hitler e Mussolini. Ambos mestres em fazer grandes
piadas diplomáticas.
TAGS
CHINA, DIREITOS
HUMANOS, ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, JOGOS OLÍMPICOS DE INVERNO BEIJING
AUTOR
Professor dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Econômicas (PPGCE)
e em Relações Internacionais (PPGRI) da UERJ. Membro do Comitê Central do
PCdoB.
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