Publicado
10/03/2022 12:15 | Editado 10/03/2022 12:20
Nasceu a
primeira federação partidária da esquerda brasileira. Na noite de quarta-feira
(9), PT, PCdoB e PV anunciaram que vão se federar formalmente,
criando um importante polo para as disputas políticas e eleitorais dos próximos
quatro anos. Outras legendas ainda podem se somar à iniciativa.
É grande, em
especial, a expectativa de que o PSB se integre ao bloco. Além de ter sediado a
reunião entre os quatro partidos – que culminou no anúncio da federação –, o
PSB já declarou que seu objetivo central em 2022 é o mesmo: derrotar Jair
Bolsonaro (PL) e garantir a vitória, nas eleições de outubro, do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva – que concorrerá a um terceiro mandato no Planalto.
“As quatro
agremiações, PT, PSB, PCdoB e PV têm unidade na construção de uma frente para
enfrentar Bolsonaro e reconstruir o Brasil, unidos na candidatura Lula
presidente”, apontaram os quatro partidos, em nota. “Estamos convictos que a
decisão é um marco histórico e um passo decisivo para trilharmos a vitória
eleitoral nas eleições de 2022, construir uma nova maioria que possa devolver a
esperança a nosso povo.”
Para a
presidenta nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos,
este 9 de março é “um dia pra entrar na história”. Como outros dirigentes
envolvidos nas negociações, Luciana enfatizou que as conversas continuam, já
que a formação definitiva da federação pode ser ajustada até 31 de maio.
“Continuaremos a dialogar com o PSB, para que tenhamos também sua participação.
Os quatro partidos estarão juntos de qualquer forma – unidos para derrotar
Bolsonaro e reconstruir o Brasil, de mãos dadas para devolver a esperança para
nosso povo!”
Sentimento igual
foi manifestado por Lula, em entrevista nesta quinta-feira (10) a uma emissora
de rádio de Minas Gerais. “O fato de o PT ter feito a federação com PV e o
PCdoB é uma coisa muito importante. Eu ainda trabalho com a ideia de que o PSB
possa entrar nessa federação”, declarou o ex-presidente. PT e PSB – vale
lembrar – já estiveram juntos em apoio a Lula nas eleições presidenciais de
1989, 1994 e 1998.
Embora sejam um
instrumento democrático à disposição de qualquer partido político, as
experiências mais bem-sucedidas de federações partidárias, pelo mundo, mostram
que o campo popular e progressista tende a se fortalecer ainda mais quando seus
partidos se articulam em bloco. Essas formações se revelam particularmente
potentes em cenários que demandam união de forças contra governos conservadores
e regimes autoritários.
No Chile,
a Concertación de Partidos por la Democracia – que reunia
quatro partidos de centro-esquerda – foi decisiva para derrotar a ditadura de
Augusto Pinochet (1973-1990), promover a transição democrática e governar o
país de 1990 a 2010. Posteriormente, no segundo governo Michelle Bachelet
(2014-2018), formou-se a Nueva Mayoria, a qual, além das siglas integrantes da
antiga Concertación, reuniu também o Partido Comunista e outras legendas de
esquerda.
Um caso mais
recente e igualmente vitorioso foi a Geringonça – uma aliança de partidos de
esquerda e centro-esquerda em Portugal, viabilizada nas eleições legislativas
de 2015. Pela primeira vez em quase 40 anos, o Partido Socialista, o Bloco de
Esquerda e o Partido Comunista superaram suas diferenças históricas e marcharam
juntos, garantindo governabilidade à gestão do primeiro-ministro António Costa.
A unidade programática dessas forças – que se estendeu até 2021 – levou à
reversão de medidas neoliberais que haviam dominado a política portuguesa no
início daquela década, entre outros avanços.
No caso do
Brasil, a sete meses das eleições presidenciais, a mãe de todas as batalhas é
vencer Bolsonaro e sepultar, de vez, seu governo de extrema-direita e de
destruição nacional. A federação partidária entre PT, PCdoB e PV faz avançar
essa luta, na medida em que antecipa o debate sobre o projeto de que o País
precisa para retomar o crescimento econômico e o desenvolvimento nacional.
Diferentemente
das coligações eleitorais – que, formalmente, se extinguem logo após o pleito
–, as federações no
Brasil implicarão um vínculo de longo prazo, com penalidades para os partidos
que não seguirem o programa comum ou que renunciem à união. É um
estímulo para um ambiente político menos pragmático e mais programático,
baseado mais em ideias e princípios, menos em interesses pontuais.
Conforme apontou
o PCdoB em novembro, durante seu 15º Congresso Nacional, as federações “abrem
caminho para construções políticas de nível superior, no âmbito das forças
patrióticas, populares e progressistas, amparadas na unidade popular. É a
bandeira de esperança, da ampla maioria dos brasileiros, para a construção de
saídas para a crise que o Brasil vive”.
0 comentários :
Postar um comentário