O PCdoB avalia que os desafios da reconstrução do
Brasil são imensos e que o governo Lula representa uma travessia esperançosa,
num ambiente marcado por intensa luta de classes.
por Cezar Xavier
Publicado 30/05/2023 10:06 | Editado 31/05/2023
10:23
Lula e Luciana Santos | Foto: Marcelo
Camargo/Agência Brasil
Nesta segunda-feira (29) foi aprovada a resolução
da Comissão Política Nacional do PCdoB constando uma análise do quadro político
nacional e internacional, indicando linhas de ação política e institucional
para o fortalecimento partidário. O título da resolução é Lutar Pelo Êxito do
Governo Lula.
O texto traz 27 parágrafos divididos em cinco
subtítulos que abordam os temas que norteiam a discussão na resolução, o papel
do Brasil na conjuntura internacional, a estratégia para o sucesso do governo e
sua agenda programática, as responsabilidades do PCdoB no governo, e a
oportunidade que o Partido precisa aproveitar para se fortalecer entre suas
bases.
Leia a íntegra da resolução:
LUTAR PELO ÊXITO DO GOVERNO LULA
Reconstruir o país, impulsionar o
desenvolvimento soberano e fortalecer o PCdoB
1 – O Comitê Central do Partido Comunista do
Brasil analisou o quadro político nacional e internacional, frente aos desafios
que o Brasil e o governo Lula têm pela frente, e indica as linhas de ação
política e institucional, na luta social e de ideias, que orientam o
fortalecimento partidário.
2 – O centro da orientação política dos
comunistas consiste em lutar pelo êxito da missão do novo governo. O presidente
Lula, em seu terceiro mandato, tem o desafio de forjar o apoio de uma
expressiva maioria política e social no país, a fim de consolidar a normalidade
democrática e avançar na implementação do projeto vitorioso nas urnas pela “Reconstrução
e Transformação do Brasil”.
3 – Tal desafio se dá numa realidade nacional
degradada, em todas as dimensões, pela agenda ultraliberal e do governo de
extrema-direita: a sociedade dividida pela promoção do ódio e intolerância, a
economia estagnada, as estruturas do Estado nacional desmontadas, com imensas
perdas dos direitos sociais e civis dos brasileiros e brasileiras. De outra
parte, no plano internacional, o desafio se dá em contexto conturbado e
conflituoso, mas permite aproveitar as contradições para a maior afirmação
nacional.
4 – O PCdoB se revitaliza nessa grande jornada
pela reconstrução nacional. A legenda está no epicentro desse esforço nacional,
com a presidente Luciana Santos à frente do Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI), setor estratégico ao desenvolvimento soberano. O Comitê
Central indica, a todo o coletivo partidário, a perspectiva de alcançar maior
inserção social, persuadir, organizar e mobilizar a classe trabalhadora e o
povo em geral, como também entre as forças progressistas e democráticas;
tarefas que se dão num horizonte mais promissor para o seu protagonismo
político, vigor e força eleitoral.
O Brasil no mundo
5 – O PCdoB apoia o governo Lula em resgatar o
papel internacional do Brasil, amesquinhado e aviltado pelo desgoverno
anterior. O Brasil tem voz própria nos grandes temas da agenda internacional,
como a questão ambiental e transição energética e do conflito na Ucrânia. O
país integra o BRICS e indicou para a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento
a ex-presidente Dilma Rousseff; presidirá o G20 e o Mercado Comum do Sul
(Mercosul) no próximo ano e assume o compromisso com a integração regional sul
e latino-americana, expresso no regresso do país à Comunidade dos Estados
Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e no movimento de retomada da União de
Nações Sul-Americanas (Unasul).
6 – A inserção do Brasil no mundo se dá num
cenário de múltiplas crises, impactos do pós-pandemia e as consequências da
guerra na Ucrânia, que conformam quadro de baixo crescimento econômico e
inflação, expectativa de recessão; crises financeira, bancária e creditícia;
crise na cadeia de insumos e suprimentos; reconfiguração de cadeias de
produção, além das crises energética e climática. Soma-se a isto, do ponto de
vista político, a emergência ou persistência de forças da extrema-direita em
vários países do mundo – inclusive o nosso –, em ataque aos direitos do
trabalho, sociais e civilizatórios. A globalização neoliberal está em crise e
reconfiguração. No mundo em transição com a emergente multipolaridade, os
Estados nacionais – tendo a China e os EUA à frente – têm realizado intensa
competição pelo domínio da ponta tecnológica e nacionalizado empresas,
componentes e insumos. Reverte-se, pois, por disputas geopolíticas, a relocalização
de empresas e avançam as relações econômicas fora da esfera hegemônica da moeda
norte-americana.
7 – Embora conturbado e instável, em tal
cenário se fortalece a luta dos Estados-nações em torno de seus projetos de
afirmação nacional. O Brasil tem oportunidades estratégicas para ampliar sua
margem de manobra e aproveitar a janela de oportunidades existentes.
Destacam-se aí acordos econômicos e comerciais que impulsionam nossa capacidade
autônoma de desenvolvimento. Eles favorecem o fortalecimento de arranjos
produtivos locais e regionais, incrementam o parque científico e tecnológico
nacional, bem como a promoção de políticas de governo que agreguem valor às
exportações e contribuam para que se obtenha proveitos de investimentos
estrangeiros diretos em função da liquidez internacional. A presença de suma
importância no BRICS, de ser esteio do Mercosul e da CELAC, além de manter
relações comerciais com praticamente o mundo todo, são uma vantagem de grande
peso.
8 – A política exterior do Brasil sob o governo
Lula pauta-se pelo primado da autodeterminação e dos interesses do
desenvolvimento nacional soberano, sem alinhamentos políticos automáticos e por
um multilateralismo mais justo e democrático. Tem sentido objetivamente
contra-hegemônico. É de suma importância face à condição subordinada e
dependente da América Latina, em diferentes contextos de cada país, sobretudo
ao imperialismo norte-americano que freia o desenvolvimento nacional,
desindustrializa e desnacionaliza a economia e tem conduzido à espoliação
financeira, à concentração de renda e à exclusão social. O Brasil reúne
condições para afirmar seu projeto nacional em integração solidária com os
vizinhos sul e latino americanos.
9 – No conflito na Ucrânia, a posição do Brasil
em defesa da paz, com saídas negociadas que atendam às legítimas preocupações
de segurança de todas as partes envolvidas, é justa e em consonância com a
histórica posição de sua política exterior. O PCdoB afirma que a origem desse
conflito foi o expansionismo da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN), sob comando dos EUA, para uma política de cerco e contenção militar da
Rússia, há duas décadas, em clara ameaça às suas fronteiras e segurança
nacional. Isso está no centro da estratégia dos EUA, em reação ao declínio
relativo de seu poderio global, para enfrentar a ascensão da China socialista
que assume papel de destaque na cena geopolítica mundial. Para implementar seu
expansionismo, a OTAN se utiliza do governo fascista da Ucrânia. Considera,
assim, adequada a condição de neutralidade do Brasil face aos blocos militares
em ação.
Balizas para o êxito de um governo de
reconstrução nacional
10 – Os desafios da reconstrução do Brasil são
imensos. O governo Lula representa uma travessia esperançosa, num ambiente
marcado por intensa luta de classes. A economia está estagnada, os
trabalhadores e a maioria do povo estão depauperados e é elevado o endividamento
das famílias e mesmo das empresas. A sociedade está em disputa. As forças de
extrema-direita, apesar da derrota eleitoral, mantêm-se ativas e mobilizadas,
seja no parlamento, seja nas ruas e nas redes, e ainda estão presentes e
entrincheiradas em agências e conselhos do Executivo e em empresas públicas,
minando por dentro as ações do novo governo, de onde essas forças precisam ser
expurgadas. O Congresso eleito tem substancial maioria conservadora. A lógica
ultraliberal, reforçada desde o golpe do impeachment da
presidente Dilma Rousseff, legou freios tanto à política macroeconômica, quanto
aos instrumentos de Estado que induzem o desenvolvimento, como a Petrobras e a
Eletrobras. Mesmo setores econômicos hegemônicos que compartilharam a luta pela
derrota de Bolsonaro fazem forte pressão para manter a política macroeconômica
que se opõe ao desenvolvimento soberano, sob hegemonia dos interesses
financeiros, nos marcos do fracassado Consenso de Washington.
11 – Para enfrentar o contexto de um governo de
transição, quatro elementos são essenciais à missão do governo Lula: conformar
uma ampla e estável base de sustentação no Congresso; responder de pronto às
imensas expectativas da população brasileira com realizações que beneficiem a
ampla maioria das pessoas; retomar o desenvolvimento econômico com
investimentos públicos e privados; e construir maior base social mobilizada em
seu apoio.
12 – Está no centro da conjuntura, neste início do
novo governo, a tarefa de forjar maioria parlamentar o mais estável possível,
que lhe permita aprovar temas para implementar progressivamente o Programa de
Reconstrução e Transformação do Brasil. A Frente Ampla que possibilitou a
vitória precisa corresponder à composição do governo e à base de apoio no
Congresso, alinhada a uma ampla pactuação pela democracia e à retomada do
desenvolvimento. A maioria parlamentar é ainda instável em decorrência da
composição majoritariamente conservadora, neoliberal, das duas casas do
Congresso Nacional. Demanda do governo ativa e complexa articulação política
que lhe possibilite realizar o programa com o qual foi eleito. Cabe às forças
progressistas superarem contradições visando à atuação convergente, fator
indispensável para que a base ampla e crivada de contradições tenha direção a
mais consequente possível.
13 – Para isso é imprescindível a entrega de
resultados concretos que incidam na vida dos brasileiros e brasileiras. O
governo, nesse sentido, começou com vigor. Enfrentou o levante golpista,
liderando a ampla reação democrática. O presidente Lula restaurou conquistas
perdidas que afetam a vida de todos e todas, e fazem girar a roda da economia
popular. Em especial, assegurou, em novo patamar, o Bolsa Família e
restabeleceu a política de valorização do salário-mínimo. Levou à aprovação a
lei de equiparação de salários entre homens e mulheres em funções equivalentes.
Empreende iniciativas de proposta de reestruturação das relações de trabalho e
valorização da negociação coletiva e do financiamento da atividade sindical,
bem como a regulamentação do trabalho com aplicativos. Retomou o Minha Casa,
Minha Vida, fortaleceu o Programa Mais Médicos e deu vigor ao Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (FNDCT). Estes cinco meses de governo
marcam o término da agenda da Comissão de Transição e a inauguração de uma nova
geração de políticas públicas voltadas para os trabalhadores e todo o povo e
para retirar da inadimplência milhões de pessoas.
14 – O terceiro desafio é o impulso aos
investimentos públicos e privados, com vistas a promover a reindustrialização
em novas bases tecnológicas com apoio à inovação nas empresas, valorizar o
trabalho, emprego e renda. Atualmente, o obstáculo central a ser superado está
na taxa básica de juros, estabelecida pelo Banco Central em aberrantes 13,75%
ao ano, maior taxa real do mundo. Isso trava os investimentos e esmaga o poder
de compra – principais motores da retomada econômica. Esse é o principal embate
de interesses em curso, entre aqueles que lutam pelo desenvolvimento nacional
soberano e a burguesia rentista, parasitária da dívida pública, do Estado e da
sociedade brasileira. A autonomia do Banco Central, imposta ao país pelo
capital financeiro no governo da extrema-direita, foi uma das maiores
conquistas políticas dos setores financeiros que hegemonizam a acumulação do
capital e obstaculizam a retomada econômica. Sua orientação, objetivamente,
atua para impedir o êxito do governo Lula quanto ao programa de reconstrução
nacional.
15 – A Câmara dos Deputados aprovou o novo marco
fiscal. Foi o primeiro grande teste de forças no Congresso Nacional. O texto
sofreu retrocessos em relação à proposta do governo. Mais fiscalista, é a cara
de um Congresso Nacional conservador. No entanto, sua aprovação com os votos da
Bancada do PCdoB representou uma vitória política do governo que reforça a
governabilidade e sem a qual criaria grave instabilidade política. No quadro
adverso da correlação de forças e de pressão do capital financeiro, a nova
regra fiscal configura a resultante possível para o governo realizar seu
programa. Êxito de grande importância é o fim do famigerado “teto de gastos”
que desconstruiu o piso mínimo da saúde e educação e congelou recursos de
custeio e investimento no país, desmontando políticas públicas fundamentais
para o povo brasileiro – só não congelou despesas financeiras, mantendo
vultosos pagamentos ao sistema financeiro. As vantagens de a Constituição e o
orçamento do país terem ficado livres desse verdadeiro ferrolho neoliberal
superam os problemas e limitações da nova lei, assim como permitem ser alterado
futuramente, ao se conquistar melhores condições políticas. O PCdoB saúda sua
bancada na Câmara dos Deputados, liderada pela deputada Jandira Feghali
(PCdoB-RJ), pela articulação realizada, pelo desempenho em conjunto com as
forças progressistas da base do governo, com o voto proferido e pelo combate às
metas e bandas restritivas, em especial quanto ao piso de investimentos e
outros gastos públicos não-financeiros, decisivos para o crescimento econômico
e a promoção dos direitos.
16 – O que se logrou conquistar na disputa
travada foi o novo patamar de despesas ter incorporado todos os acréscimos
admitidos pela EC da Transição, votados em dezembro de 2022, de R$ 180 bilhões
acima do teto de 2022. As despesas terão aumentos reais, em contraposição à
simples reposição inflacionária. As metas de resultado primário serão
estabelecidas em bandas de ± 0,25% do Produto Interno Bruto, PIB (intervalo de
R$ 50 bilhões, pelo PIB 2023). Se o governo alcançar essas metas, as despesas
no exercício seguinte podem crescer além da inflação em até 70% do aumento da
receita. Esse incremento é limitado a 2,5%, assegurado no mínimo 0,6%. É
estabelecido um piso de investimentos de 0,6% do PIB, e que pode aumentar com
excesso de superávit. Essa banda é limitada, como o piso de investimento
também. O texto aprovado exige contingenciamentos quando a meta de superávit
estiver em risco; mas, como as metas serão estabelecidas por bandas e por lei
ordinária, o gestor tem maior flexibilidade para adotá-las. Adotadas as medidas
para alcançá-las, não há criminalização em relação ao resultado alcançado. O
novo modelo de contingenciamento, em relação ao atual, ressalva, além das
despesas obrigatórias, outras que sejam consideradas fundamentais para o
funcionamento da máquina pública. Entretanto, praticamente todas as despesas
ficam submetidas ao controle de gastos e, quando a execução não alcançar as
metas previstas, o texto submete o governo federal a restrições de caráter
fiscalista. Todavia, se alcançou excluir dessas restrições a política de
reajuste real do salário-mínimo. A par de conteúdos positivos, o PCdoB sublinha
que as limitações contidas na lei restringem, neste momento, a capacidade do
orçamento federal de aplicar recursos num ousado projeto de desenvolvimento.
17 – Ainda em relação à temática dos
investimentos, o Brasil tem grande potencial de investimentos para a
reindustrialização, o estímulo à inovação e o fortalecimento da autonomia e
soberania nacional. O fundamental é mobilizar os instrumentos que alavanquem
essa estratégia, como Petrobras, BNDES, Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia,
a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e outras. Investimentos que
induzam a atração de capitais privados nacional e estrangeiro para um amplo
programa de infraestrutura, retomada das obras públicas paralisadas, encomendas
e compras públicas nas cadeias industriais indutoras – como a das Tecnologias
da Informação, saúde, transição energética e defesa, entre outras –, gerar
empregos com mais qualidade e maior remuneração e para agregar valor à pauta
exportadora.
18 – A quarta baliza fundamental, ao mesmo tempo
condição e alvo maior do esforço, é formular e implementar uma estratégia para
fortalecer ampla e sólida base social que confira condições ao governo de
realizar a disputa na sociedade. A extrema-direita sofreu a derrota nas urnas,
mas possui força social e política, utiliza da violência e da guerra cultural
para se enraizar e disseminar ideias e valores reacionários, racistas,
misóginos, falsamente patrióticos. O maior dos erros seria subestimar a missão
democrática do governo, em frente ampla, mesmo em meio às disputas com o
programa progressista do governo. Ao contrário, a frente ampla precisa
manter-se ativa, haja vista a subestimação em que ocorreu o infame levante
golpista. Nesse sentido, a esfera da comunicação é ainda insuficiente para
enfrentar as guerras culturais. A criminalização dos golpistas é imperiosa,. O
PL 2.630, sob relatoria do deputado Orlando Silva Jr., como também o papel do
STF e do Ministério da Justiça, para a responsabilização das bigtechs,
é um passo fundamental.
O PCdoB no governo Lula, missão e
responsabilidades
19 – A participação do PCdoB no primeiro escalão
do governo Lula se dá em um posto privilegiado, estratégico, que possui grande
importância para o programa de reconstrução do Brasil e para o núcleo do
governo. Com a presidente nacional Luciana Santos, experimentada liderança
política e na gestão dessa área, à frente do MCTI, esse Ministério enceta o
retorno da Ciência ao centro do projeto nacional, estabelecendo amplo diálogo
com setores produtivos e a comunidade científica do país. Igualmente, essa
agenda se insere como pilar da política externa do governo Lula e em ampla
intersetorialidade com as outras esferas ministeriais. O MCTI já estabeleceu
programas avançados com a recomposição do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Ciência e Tecnologia e taxas de financiamento abaixo das referenciadas na taxa
de juros SELIC [Sistema Especial de Liquidação e de Custódia]. Tais programas
já estão direcionados ao desenvolvimento da Amazônia, com foco na exploração
sustentável da biodiversidade, às Tecnologias da Informação, inovação em
cadeias essenciais como os de saúde, defesa, aeroespacial, alimentos, energia,
entre outros; e ainda impulsionam a redução das assimetrias regionais do país.
Tudo isso concorre centralmente para o Programa de Reconstrução e Transformação
do Brasil, e permite fortalecer os arranjos regionais e locais de produção para
a reindustrialização do país.
20 – A reunião da direção nacional do PCdoB
formula a orientação política que define o papel e o lugar político dos
comunistas, bem como preside a construção e o fortalecimento partidário. Papel
e lugar que significam, em essência, lutar pelo êxito do governo Lula em sua
missão democrática, em frente ampla de forças, e desencadear um ciclo de
desenvolvimento soberano, sustentável, com a imediata retomada do crescimento
econômico, valorização do trabalho, geração de emprego e renda, garantia de
direitos, vida digna ao povo. Essa tática vincula-se ao objetivo programático
dos comunistas de lutar pela realização de um Novo Projeto Nacional de
Desenvolvimento, cuja jornada por sua consecução havia se interrompido com o
golpe e ascensão da extrema-direita. Agora, emerge com melhores condições para
prosperar.
21 – A posição do PCdoB se dá em relação
dialética de unidade e luta no seio da frente
que compõe o governo, assim como na base parlamentar e na sociedade. Essa
relação envolve o debate programático, as votações no Congresso, e a esfera da
luta social conduzida com autonomia de suas organizações. Na presente situação,
a ênfase é a unidade, tendo por referencial o programa do governo e a
correlação de forças políticas e sociais. Isso se estabelece com autonomia própria
do PCdoB, vocalização de suas opiniões, com a crítica construtiva e leal para
fortalecer os rumos do governo e fortalecer a mais ampla possível unidade de
forças populares, progressistas e democráticas. Considera tal conduta uma
necessidade no âmbito do governo e da sociedade.
22 – Na mobilização social, o PCdoB defende como
indispensáveis a frente única e unidade de ação política das forças populares
organizadas. A atuação em função de interesses segmentados enfraquece ou
fragmenta a força popular. A mobilização necessária exige clareza, estratégia,
bandeiras de luta e sustentação logística elaboradas coletivamente e,
fundamentalmente, chegar à maioria da população. O povo só se organiza na ação
em torno de seus interesses concretos; e isso precisa alcançar dimensão para
além dos setores já organizados. O PCdoB, em diferentes frentes de luta, age
tendo por alvo a luta contra os juros altos, e empenhará esforços para que o
movimento popular e progressista realize uma extensa campanha unitária com esta
bandeira.
23 – Em face dos desafios expostos, o PCdoB
considera necessária uma intensa coordenação, no seio do governo, para
construir a maioria política no Congresso e em três outras áreas nevrálgicas.
Trata-se de alcançar maior clareza estratégica, plano, rotas e condução segura
dos esforços voltados aos investimentos para a nova industrialização do país, à
política de comunicação na disputa da sociedade contra as forças do atraso e à
construção de maior base social – sendo essa mobilização a base de todos os
desafios citados. Um núcleo central de governo é necessário para uma condução
consequente desses desafios.
O PCdoB precisa se fortalecer à altura de
suas ideias
24 – A revitalização da força dos comunistas é
também parte constituinte destacada da tática do partido. A direção nacional
conclama o coletivo partidário a empreender um novo ciclo de acumulação de
forças do PCdoB no plano político e eleitoral, na ação de massas e
institucional, na luta cultural e ideológica. Dar maior dimensão à sua identidade,
com seu Programa Socialista, com a cara e as cores do Brasil, as marcas de um
partido de ação política ampla e institucional, de caráter coeso, militante e
combativo, para servir ao povo e ao Brasil. Um partido indispensável à
democracia e à pluralidade da esquerda. Indispensável, também, ao governo Lula,
pelas relações de confiança constituída em 34 anos de lutas como aliados.
25 – O novo horizonte aberto com a vitória de
2022 favorece o ambiente de protagonismo e fortalecimento do PCdoB. Persuadir,
elevar a consciência e organizar, para mobilizar os trabalhadores e o povo, é a
palavra de ordem, ao lado de reforçar a influência entre as forças
progressistas e democráticas. A direção nacional firmou como eixo central desse
esforço, a ampliação da inserção social dos e das comunistas, fortalecendo seu
histórico vínculo com os trabalhadores, juventude, mulheres e negros em suas
lutas, sobretudo nos grandes centros urbanos.
26 – É nessa chave que se deve voltar a ação
partidária para o trabalho de base mais inserido em todos os âmbitos da vida
política, profissional, cultural, entre os trabalhadores e o povo em geral. Um
projeto elaborado pela direção nacional já está em curso, envolvendo uma nova
linha política de organização, a reformulação da linha de trabalho popular pela
base, o revigoramento do trabalho de Comunicação, Formação, Propaganda e
Finanças. Do mesmo modo, conclama ao fortalecimento dos atuais mandatos
parlamentares em todos os níveis, renovando projetos e práticas, construindo
condições para a vitória dos desafios eleitorais de 2024 e 2026. Isso vai,
agora, fortalecido pelo bom aproveitamento da presença institucional do Partido
no governo, em diversas esferas, dimensões e níveis, participando de políticas
públicas de grande impacto na reindustrialização, ou capilaridade junto à
sociedade, como sejam as áreas sociais de Saúde, Desenvolvimento Social,
Participação Social, Cultura, Mulheres, de juventude, educação, entre outras.
27 – Tudo isso é realizar o desígnio do 15º
Congresso, de 2021, confiado a toda a militância: mais fortes vínculos com o
povo, para sustentar o êxito do governo Lula e para recuperar a trajetória
eleitoral ascendente. O PCdoB precisa de mais votos, ser eleitoralmente um
partido do tamanho de suas ideias generosas e avançadas. A batalha eleitoral de
2024 exige preparação desde já. O PCdoB integra o exitoso e valoroso
instrumento político da Federação Brasil da Esperança, com PT e PV, que juntos
empreendem a construção de um bloco político com demais agremiações progressistas
que integram o governo Lula. Serão firmados objetivos eleitorais para o debate,
de todo o Partido, nas Conferências Municipais e Estaduais deste ano, centrados
no esforço prioritário de eleger vereadores e vereadoras nas capitais e maiores
municípios; quanto às eleições majoritárias, o pressuposto é defender uma
política de alianças amplas para isolar e derrotar os candidatos da
extrema-direita, construindo candidaturas próprias onde o quadro político
favoreça. Neste momento, deve-se intensificar as filiações de lideranças,
preparar nomes competitivos e renovação de candidaturas.
Brasília, 29 de maio de 2023
Comissão Política Nacional do Partido Comunista do
Brasil (PCdoB)
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