Sexta edição do evento marca o mês do Orgulho LGBTQIA+ e tem como tema “A TRANSformação está em Marcha”.
por Redação
Publicado 10/06/2023 11:16
Dia Nacional da Visibilidade Trans e Travesti
Nesta sexta-feira
(9), o Largo do Arouche, no centro da capital paulista, foi palco de mais uma
Marcha do Orgulho Trans da Cidade de São Paulo. Esta é a sexta edição do evento,
que começou em 2018 e marca o mês do Orgulho LGBTQIA+. Neste ano, o tema da
marcha foi “A TRANSformação está em Marcha”.
“A importância da
marcha é colossal neste momento político do Brasil, com anos consecutivos das
pessoas trans sofrendo imensas agressões. O Brasil é o país que mais mata
pessoas trans no mundo e essas pessoas não têm acesso ao trabalho, à escola e
estão excluídas da sociedade. Então, a marcha é um grito de ‘olhem para a letra
T da sigla LGBTQIA+’”, disse Pri Bertucci, que fundou a Marcha do Orgulho Trans
e se identifica como uma pessoa trans não binária e não branca.
É preciso não só
transformar a sociedade para entender o que é transgeneridade como também levar
a transformação está em marcha para o próprio movimento LGBTQIA+, que tem preconceitos
ainda com pessoas trans e negam seus direitos, afirmou Pri.
A Marcha do Orgulho
Trans ocorre em sintonia com outros eventos ao redor do mundo como forma de
protesto. Segundo os organizadores da manifestação, as demandas sociais,
culturais, políticas, de direito e de cidadania apresentadas pelos
homossexuais, masculinos, brancos, cisgêneros, não alcançam, por vezes, as
urgências de pessoas travestis, não binárias, mulheres e homens transgêneros.
Foi por isso que eles decidiram fazer um evento separado, sempre às
sextas-feiras, antes da Parada do Orgulho LGBT+.
“Falta visibilidade
para as pessoas trans que estão há mais de 20 anos na Parada do Orgulho LGBT+
[prevista para este domingo, na Avenida Paulista]. A ideia é que este seja um
lugar de reivindicação, como acontece em todo o mundo, assim como ocorre com a
Caminhada de Lésbicas e Bissexuais, que será amanhã (10). Esta é a ordem
mundial: na sexta-feira ocorre a Marcha Trans; no sábado, a Caminhada Lésbica e
Bissexual; e, no domingo, a Parada do Orgulho LGBT+”, explicou Pri Bertucci.
O evento é parte da
programação da Parada [do Orgulho LGBT+], mas fala sobre a especificidade da
população mais vulnerabilizada, que é a população transgênera do país, disse a
secretária nacional dos Direitos da População LGBTQIA+ do Ministério dos
Direitos Humanos e da Cidadania, Symmy Larrat. “Vamos sair junto com o pessoal,
em marcha contra a transfobia e, desta vez, com o governo federal presente.”
Em entrevista à
Agência Brasil e à TV Brasil, a secretária disse que o governo federal tem
estudado a criação de uma política nacional de enfrentamento à violência contra
pessoas LGBT e um programa de empregabilidade, educação e renda voltado para
essa população. “Esta é a população que mais é atingida pelo preconceito e pelo
estigma. O preconceito exclui estas pessoas da família, da educação, da saúde e
de acesso à proteção social básica. Precisamos mudar tal realidade porque o
preconceito e o estigma estão matando essas pessoas”, acrescentou Simmy.
Na quinta (8), ao
participar da 22ª Feira Cultural da Diversidade LGBT+ em São Paulo, o ministro
dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, destacou a importância das
ações de inclusão adotadas pelo governo. “Tenho orgulho de fazer parte de um
lugar no mundo que respeita as pessoas, que respeita a identidade de gênero, a
orientação sexual, a maneira como as pessoas existem”, afirmou. “Que venhamos
somar esforços para que vocês possam existir na sua dignidade, com emprego,
renda, segurança, liberdade. Uma liberdade com responsabilidade, como vocês
sempre fizeram, respeitando os outros e que merecem ser respeitados também.”
Violência e saúde
mental
O Brasil é um dos
países mais violentos do mundo para as pessoas trans, segundo a Associação
Nacional dos Travestis e Transexuais (Antra). No ano passado, pelo menos 131
pessoas trans foram assassinadas em todo o país, diz a Antra. Entre os anos de
2017 e 2022, desde que a associação começou a fazer o levantamento, 912 pessoas
trans e não binárias foram mortas no Brasil.
Esse tipo de
violência afeta também a saúde mental das pessoas trans, indica pesquisa
desenvolvida pela Universidade de Duke, nos Estados Unidos. Conforme o estudo,
mais da metade das mulheres transgênero no Brasil (58,3% do total) já teve
pensamentos suicidas. De acordo com a professora de psicologia do Instituto
Federal do Rio de Janeiro, Jaqueline Gomes de Jesus, isso não é provocado pela
identidade de gênero ou orientação sexual dessas pessoas, mas pela violência da
qual elas são vítimas.
“O que me chamou
muito a atenção foi a questão da bifobia no Brasil. Não esperava que tantas
pessoas bissexuais, mais de 60% delas, tivessem, por exemplo, sido obrigadas
pela família a ter relações sexuais com pessoas que eles não queriam”, disse
Jaqueline, que é presidente da Associação Brasileira de Estudos da
Trans-Homocultura (ABETH. Em entrevista hoje à Agência Brasil, ela citou o fato
de muitas pessoas trans, principalmente mulheres, não terem oportunidade de
trabalho no país. “Aqui no Brasil tem muita violência letal, assassinatos [de
pessoas trans]. E isso gera tensão e transtorno de estresse pós-traumático.”
Jaqueline
acrescentou que, com base nesses dados, podem ser propostas políticas públicas
e tratamentos baseados na adequação de cada país ou de cada cultura ou grupo
pesquisado. “Precisamos de apoio da rede pública de saúde e de formação e
treinamento das pessoas [da área]. Também precisamos – e este é um projeto que
quero desenvolver – de primeiros socorros em saúde mental, para capacitar
pessoas da comunidade para uma escuta qualificada, conhecer a rede que já
existe e que saibam diferenciar ansiedade de depressão, por exemplo.”
Para ajudar a
combater a violência contra a população trans e LGBT+, um grupo de pais e de
mães fundou, há cerca de 15 anos, a organização Mães pela Diversidade, esteve
hoje da Marcha Trans, convocando a população a participar, dizendo: “Vem, vem
com a gente, vem fazer um Brasil diferente”.
“Criamos esse
movimento para lutar pelos direitos civis, que não existiam. E participamos de
todas as grandes lutas, da criminalização [da violência contra LGBTs) ao
casamento [entre pessoas do mesmo sexo], da doação de sangue ao nome social. O
Mães pela Diversidade tem três pilares: o acolhimento, porque essas famílias
chegam a nós destruídas; a comunicação e informação; e a inclusão”, explicou
presidente do movimento, Maria Julia Giorgi.
Há oito anos, o
Mães pela Diversidade abre a Parada do Orgulho LGBT+. Neste domingo, o grupo
fará isso novamente, mas substituindo as cores do arco-íris do movimento LGBT+ pelas
cores verde, amarela, azul e branca, buscando fazer um resgate da bandeira do
Brasil.
A bateria da escola
de samba paulistana Vai-Vai também estará na parada. “A LGBTfobia não atinge
apenas a pessoa LGBT, ela destrói famílias. Inclusive, é por isso o orgulho. As
pessoas não entendem o que quer dizer o orgulho. O orgulho é para se contrapor à
vergonha que a sociedade quer que a gente sinta. Estamos aqui para dizer que
não temos vergonha. Temos orgulho e podemos andar de cabeça erguida porque
nossa luta é de amor: é por amor aos nossos filhos, para que eles possam amar.
Não temos que ter vergonha de nada”, enfatizou Maria Julia.
Com informações da
Agência Brasil
0 comentários :
Postar um comentário