sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Brasil e Argentina, vasos comunicantes*

 Luciano Siqueira

Os dois principais países do subcontinente sul-americano — Brasil e Argentina — obviamente guardam entre si algumas semelhanças e muitas diferenças. Fronteiriços e palco de dinâmica política própria, assim como desenhos econômicos, sociais e culturais distintos.

A parceria econômica entre ambos tem peso específico destacado no tempo presente e em perspectiva.

Faz parte da agenda de reconstrução nacional que aqui o governo Lula empreende. 

No ano passado, nossa balança comercial com a Argentina teve superávit de 2,2 bilhões de dólares.

Nossa pauta de exportações, predominantemente composta como comodities nas relações com a China e demais parceiros mundo afora, com a Argentina tem maior peso em produtos manufaturados.

Tudo a ver com a possível retomada mais ampla das atividades industriais aqui.

Por enquanto, predomina a expectativa de que a assunção de Milei não prejudique de imediato os negócios pré-estabelecidos e em curso, porém em médio prazo talvez.

Além disso, a vitória da extrema direita ensandecida argentina repercute aqui como poderoso estímulo ao esperneio do bolsonarismo.

A classe dominante Argentina obviamente tem interesses a resguardar e mecanismos institucionais para tanto. O que se supõe venha dar a medida da distância entre o discurso do candidato Milei e o realismo prático do presidente quando no exercício do cargo.

Mesmo quando sobrevém o vendaval direitista, a loucura tem seus limites. O que antes, em campanha, era anunciado como quase ruptura comercial e diplomática da Argentina com Brasil e com a China, já não é bem assim.

Observadas as óbvias distinçōes políticas e econômicas entre os dois países, não há exagero na imagem de vasos comunicantes entre ambos. Nas óbvias divergências e nos interesses econômicos comuns.

A confirmação do acordo econômico com a União Europeia, na agenda imediata, será um bom teste. 

A permanência ou não da Argentina no Mercosul, idem. 

Até onde seria viável um acordo de livre comércio com os EUA — convertidos em aliados incondicionais da Argentina — em troca da redução gradativa do padrão atual de trocas como Brasil e a China? 

Não parece viável.

O fato é que a situação imediata na Argentina significa fato político de muita importância no processo de mudanças em curso no Brasil. 

Inclusive no debate de ideias. As loucuras de lá versus o bom senso de cá.

Um contraponto à superficialidade que parece marcar o discurso predominante, no ambiente da frente ampla que governa com Lula, acerca dos primeiros 12 meses de governo.

Enfim, o Brasil está inserido numa economia global marcada por conflitos e impasses, para o que a vizinhança com a conturbada Argentina nos serve de alerta.

*Texto da minha de toda quinta-feira no portal Vermelho

Com Milei, prenúncio do caos na Argentina 

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