Luciano Siqueira
Os dois principais países do
subcontinente sul-americano — Brasil e Argentina — obviamente guardam entre si
algumas semelhanças e muitas diferenças. Fronteiriços e palco de dinâmica
política própria, assim como desenhos econômicos, sociais e culturais
distintos.
A parceria econômica entre ambos tem peso específico destacado no tempo
presente e em perspectiva.
Faz parte da agenda de reconstrução nacional que aqui o governo Lula
empreende.
No ano passado, nossa balança comercial com a Argentina teve superávit de 2,2
bilhões de dólares.
Nossa pauta de exportações, predominantemente composta como comodities nas
relações com a China e demais parceiros mundo afora, com a Argentina tem maior
peso em produtos manufaturados.
Tudo a ver com a possível retomada mais ampla das atividades industriais aqui.
Por enquanto, predomina a expectativa de que a assunção de Milei não prejudique
de imediato os negócios pré-estabelecidos e em curso, porém em médio prazo
talvez.
Além disso, a vitória da extrema direita ensandecida argentina repercute aqui
como poderoso estímulo ao esperneio do bolsonarismo.
A classe dominante Argentina obviamente tem interesses a resguardar e
mecanismos institucionais para tanto. O que se supõe venha dar a medida da
distância entre o discurso do candidato Milei e o realismo prático do
presidente quando no exercício do cargo.
Mesmo quando sobrevém o vendaval direitista, a loucura tem seus limites. O que
antes, em campanha, era anunciado como quase ruptura comercial e diplomática da
Argentina com Brasil e com a China, já não é bem assim.
Observadas as óbvias distinçōes políticas e econômicas entre os dois países,
não há exagero na imagem de vasos comunicantes entre ambos. Nas óbvias
divergências e nos interesses econômicos comuns.
A confirmação do acordo econômico com a União Europeia, na agenda imediata,
será um bom teste.
A permanência ou não da Argentina no Mercosul, idem.
Até onde seria viável um acordo de livre comércio com os EUA — convertidos em
aliados incondicionais da Argentina — em troca da redução gradativa do padrão
atual de trocas como Brasil e a China?
Não parece viável.
O fato é que a situação imediata na Argentina significa fato político de muita
importância no processo de mudanças em curso no Brasil.
Inclusive no debate de ideias. As loucuras de lá versus o bom senso de cá.
Um contraponto à superficialidade que parece marcar o discurso predominante, no
ambiente da frente ampla que governa com Lula, acerca dos primeiros 12 meses de
governo.
Enfim, o Brasil está inserido numa economia global marcada por conflitos e
impasses, para o que a vizinhança com a conturbada Argentina nos serve de
alerta.
*Texto da minha de toda quinta-feira
no portal Vermelho
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