O que será do Pajeú
sem o seu Gregório de Matos?
4 de
dezembro de 2023 Por Marcelo
Patriota
Foto: Rayane Brito
Por Magno Matins
A morte nunca telegrafa, mas de vez em quando dá uns ruídos, uns estalos
estranhos. Senti algo diferente, um pressentimento ruim quando soube que o
poeta Sebastião Dias havia sofrido um infarto, semana passada. Logo, me veio um
sentimento, ou uma constatação, de que ele estava se despedindo de mim e dos
seus fãs no “Sextou” que foi ao ar pela Rede Nordeste de Rádio, há três
semanas.
O “Sextou” é um programa musical que criei para abrir espaço aos
artistas. Já entrevistei uma porção de estrelas da constelação da MPB. Meu
ouvinte, Sebastião acompanhou vários “Sextous” e não acreditou quando o
escolhi. No áudio, que resgatei há pouco, o leitor pode conferir (no final do
texto) a grande emoção dele.
Fiquei até sem jeito, porque a celebridade era ele e não eu. Fiz apenas
justiça a um magnífico e múltiplo artista, poeta, compositor, e gênio.
Sebastião não foi o maior de todos os que fazem a poesia do repente, mas tinha
o mesmo quilate de Rogaciano Leite, Louro do Pajeú e o incomparável Pinto do
Monteiro.
Viola de ouro, Pinto foi considerado o maior repentista do Brasil.
Sebastião era a viola do improviso espetacular das cantorias, o
cantor-intérprete de canções de sua autoria que nunca vão ser esquecidas, como
Conselho ao Filho Adulto e a Canção da Floresta.
Não dá pra não se emocionar com ambas em sua voz, na sua viola. O que
vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. A caminhada de
Sebastião foi bela, fantástica na assertiva mais apropriada.
O saber a gente aprende com os mestres e os livros. Sebastião aprendeu
com a sua gente, seu povo humilde de Tabira, sua legião de fãs no País. Seu
saber se espalhou, fez escola, fez a escalada da montanha da vida removendo
pedras e plantando flores.
No Pajeú das flores, Sebastião Dias foi um Gregório de Matos, pai
espiritual dos cantadores. Sua morte emudeceu a floresta, que pediu para não
matarem. Silenciou sua Tabira, que governou.
O que será de nós, pajeuzeiros, sem o canto e a poesia de Sebastião
Dias?
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