Anunciado por Lula como novo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski terá, entre seus desafios, enfrentar o crime organizado que aflige o país há décadas
Publicado 12/01/2024 12:09 | Editado 12/01/2024 12:17
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Anunciado pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comandar o Ministério da Justiça e
Segurança Pública, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo
Lewandowski, destacou, nesta quinta-feira (11), que o tema da segurança será
ponto central em seu trabalho na pasta.
“A segurança
pública merecerá especial atenção do Ministério da Justiça sob minha gestão,
que deverá expandir as atividades de inteligência e a coordenação entre as
distintas autoridades policiais da União, estados e municípios para um combate
mais eficaz, mais eficiente à criminalidade organizada”, declarou em vídeo
divulgado nas redes sociais.
Ao jornal O
Globo, ele afirmou que a questão é um grande desafio que deve ter
“prioridade absoluta para o país”. E completou: “Essa atenção, claro, se fará
em absoluto respeito ao que diz a Constituição Federal, no que concerne à
responsabilidade compartilhada entre os entes federativos”.
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Ele também disse
ser contra a descontinuidade de políticas públicas. “Então, seguirei em um
caminho sem rupturas com o que vinha sendo desenvolvido pelo ministro Flávio
Dino, que se cercou de um competente corpo técnico”.
A nomeação oficial
de Lewandowski ocorre no próximo dia 19 e a cerimônia de posse será no dia 1º
de fevereiro.
Crime organizado
O tema da segurança
pública, de fato, é um dos principais problemas enfrentados pelo país. Há
décadas, organizações criminosas — tanto de traficantes quanto de milicianos —
ampliaram suas conexões e capilaridade, tornando mais complexos o seu combate e
desarticulação. Esses grupos cresceram à margem do Estado, aproveitando-se,
entre outros aspectos, das desigualdades sociais e da ausência do poder
público, sobretudo nas periferias do país.
A política de
enfrentamento aplicada em boa parte dos estados ao longo dos anos, além de não
combater estruturalmente essas organizações, ainda colocaram a vida de milhões
de pessoas em risco, resultando em milhares de mortos e feridos por ano,
sobretudo de pobres, jovens e negros.
Para além do Rio de
Janeiro e de São Paulo, ao longo das últimas décadas, as principais facções
foram se espalhando por todo o país — com destaque para o forte crescimento
recente no Norte — o que torna o problema nacional, embora constitucionalmente
a segurança seja uma atribuição dos estados.
Segundo dados
compilados junto aos estados por estudiosos do tema, o Brasil tem pelo menos 53
facções criminosas em atividade, com registros de atuação nas 27 unidades
federativas. De acordo com o Ministério Público de São Paulo, o PCC,
considerado a maior do país, tem pelo menos 35 mil integrantes.
No caso das
milícias, a principal área de atuação está no Rio de Janeiro. Segundo o Mapa
Histórico dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, feito pelo Grupo de Estudos de
Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense, em 16 anos, até 2021, as
milícias cresceram 387% — atualmente, cerca de 4,4 milhões de pessoas moram em
áreas controladas por grupos criminosos (milícia e tráfico) no Grande
Rio.
Para piorar a
situação, o mandato de Jair Bolsonaro contribuiu para colocar ainda mais armas
em circulação, inclusive nas mãos dessas organizações, e foi omisso (quando não
leniente) com a questão da segurança, principalmente no que diz respeito às
milícias — defendidas pela família Bolsonaro em diferentes ocasiões.
De acordo com o
Anuário 2023 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o número de pessoas
registradas como CAC (Caçadores, Atiradores e Colecionadores) cresceu sete
vezes em 2022 em relação a 2018, ultrapassando os 783 mil, como parte da
política de Bolsonaro que ampliou o acesso às armas por meio dessas
categorias.
Segundo levantamento feito
pelos institutos Sou da Paz e Igarapé e divulgado no ano passado, naquele
momento havia quase 3 milhões de armas particulares no Brasil. Esse
quantitativo é mais do que o dobro do que havia em 2018, quando elas eram cerca
de 1,3 milhão.
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tem queda de 4,59% nos crimes violentos letais intencionais
Muitas dessas armas
vão parar nas mãos do crime organizado. Pegando apenas casos de roubos de CACs
— sem contabilizar aqueles que podem desviar suas armas voluntariamente —, o
total de armas roubadas, furtadas ou perdidas da categoria atingiu, em 2023, um
patamar recorde em relação aos últimos anos, com uma média de 126 ocorrências
por mês, o equivalente a quatro a cada dia, segundo levantamento do
jornal O Globo, a partir do Sistema de Gerenciamento Militar
de Armas (Sigma). No ano passado, de janeiro a outubro, 1.259 ocorrências do
tipo foram registradas.
Reação
Segundo balanço do
Ministério da Justiça e Segurança Pública divulgado no final do ano, a pasta
coordenou ou apoiou 15.556 operações em 2023. Juntas, Polícia Federal, Polícia
Rodoviária Federal e Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp/MJSP)
executaram mais de 52 mil prisões e apreenderam 9.935 armas ilegais.
Ainda de acordo com
os dados oficiais, “nas fronteiras, a Operação Protetor causou prejuízo de R$
2,6 bilhões ao crime organizado. O impacto financeiro ao crime representou R$
120 milhões de rombo evitado aos cofres públicos. Apenas nesta operação, foram
mais de 393 toneladas de drogas e 1.626 armas apreendidas. Com as demais, a
quantidade ultrapassou 433 toneladas”.
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Além disso,
conforme o MJSP, a Operação Paz prendeu quase seis mil pessoas e apreendeu
1.419 armas de fogo e 30 toneladas de drogas. “Os números da ação policial
contribuíram com redução de 3% nas taxas de mortes violentas intencionais em
2023, nos estados que apresentam o maior índice desse tipo de crime”,
aponta.
Já o Impulse,
programa voltado para o apoio aos estados no enfrentamento ao crime por meio da
descapitalização e recuperação de ativos, ao longo do ano R$ 2,2 milhões foram
apreendidos e bloqueados R$ 652 mil foram bloqueados.
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