Pesquisa envolvendo seis países aponta, ainda, que o uso do medicamento pode ser associado a um aumento de 11% na taxa de mortalidade de pacientes hospitalizados
por Redação
Publicado 12/01/2024 15:08 | Editado 12/01/2024 15:17
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Estudo feito por
pesquisadores da França e do Canadá estima que o uso de hidroxicloroquina para
tratar de pacientes hospitalizados com Covid-19, na primeira onda da doença,
pode estar relacionado à morte de 17 mil mortes em seis países — Bélgica,
França, Itália, Espanha, Estados Unidos e Turquia. A maioria, 7,5 mil, somente
nos EUA. “O que a gente tem a perder? Tomem”, disse o então presidente do país,
Donald Trump, durante a pandemia, em referência ao medicamento.
Os cientistas
estimaram, ainda, que o uso do medicamento pode ser associado a um aumento de
11% na taxa de mortalidade de pacientes hospitalizados. Os dados foram
publicados, com ressalvas, no periódico científico Biomedicine &
Pharmacotherapy.
Mesmo com tais
ressalvas, diz o estudo, “esses números provavelmente representam apenas a ponta
do iceberg, subestimando amplamente o número de mortes relacionadas à HCQ
(hidroxicloroquina) em todo o mundo”.
Segundo os autores,
apesar das limitações do estudo e de suas imprecisões, ele ilustra o perigo
de, no manejo de futuras emergências, mudar a recomendação de um
medicamento com base em evidências fracas.
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pandemia
A prescrição
off-label — ou seja, fora do uso recomendado — “pode ser apropriada quando os
médicos julgam ter evidências suficientes para sugerir o benefício da
medicação. Entretanto, a primeira série que relatou o efeito da HCQ mostrou
eficácia limitada ou nenhuma eficácia na redução da mortalidade”, apontam.
A substância é
indicada para o tratamento de doenças como malária, lúpus e artrite, mas em
meio ao aumento dos casos de Covid-19, ganhou força em diversos países,
sobretudo em segmentos sociais com posições nagacionistas e de extrema-direita,
a tese, até hoje não comprovada, de que a cloroquina serviria para enfrentar a
doença.
Bolsonaro e a
cloroquina
No Brasil, Jair
Bolsonaro e seus apoiadores, assim como Trump, defendiam o uso do medicamento,
estimulando médicos e pacientes a aderirem ao falso tratamento. Em meio ao
lobby em defesa da cloroquina — cujos interesses até hoje não estão claros —,
Bolsonaro determinou que o laboratório do Exército produzisse milhões de
comprimidos para distribuição.
Somente em três
semanas após a determinação da produção pelo então presidente, foram feitos
mais de 1,25 milhão de comprimidos — aumento de 900% em relação ao que era
produzido pelo laboratório do Exército em um ano inteiro. O fármaco era um dos
itens do chamado “tratamento precoce” via “kit Covid”, defendido
irresponsavelmente pelo governo anterior como saída para a pandemia sem que
houvesse comprovação científica.
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saco”
Ao longo da
pandemia, foram muitos os momentos em que Bolsonaro saiu em defesa da
medicação. “Quem for de direita toma cloroquina, quem for de esquerda toma
tubaína”. A patética frase foi uma das pérolas ditas pelo presidente, em maio
de 2020. Naquele momento, cientistas já descartavam a eficácia do uso da
cloroquina para a Covid-19.
“Não há
controvérsia em torno da cloroquina pelos cientistas, como às vezes se dá a
impressão. Todas as entidades de saúde indicam seu banimento. Estudos apontam
para sua ineficácia em casos leves ou graves de covid-19 desde o primeiro
semestre de 2020″, disse, na época, à BBC News Brasil a médica Karina Calife,
professora do Departamento de Saúde Coletiva da Santa Casa de São Paulo.
Com agências
(PL)
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