Cláudio Carraly*
Investigações revelarem que a
obsolescência programada impulsiona artificialmente um ciclo econômico de
produção e contribui para o consumo excessivo, estudos de casos indicam que, em
média, os consumidores substituem smartphones, laptops e outros dispositivos a
cada dois anos, quando, na verdade, se a vida útil do produto fosse maior, seja
pela qualidade e durabilidade ou pela atualização regular do seu software, os consumidores
não comprariam novos equipamentos, mantendo os que possuem em média quatro
anos, gerando um impacto significativo nos lucros, por isso a indução
artificial para diminuir a vida útil dos produtos.
Analisar os custos diretos e
indiretos para consumidores e governos é essencial. Dados do Instituto de
Defesa do Consumidor – IDEC, apontam que, em países como o Brasil, os
consumidores gastam bilhões de reais anualmente substituindo produtos
eletrônicos que se tornaram obsoletos, ao mesmo tempo, os custos associados à
gestão de resíduos eletrônicos sobrecarregam os cofres públicos e pressionam
enormemente a natureza. O aumento exponencial de resíduos eletrônicos é um dos
efeitos mais evidentes da obsolescência programada, estatísticas da União Europeia
revelam que, em 2023, mais de 12 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos
foram geradas globalmente, uma análise aprofundada desses números destaca a
urgência de abordagens sustentáveis e de uma força tarefa mundial contra essa
forma de rapinagem da indústria de eletroeletrônicos.
Além dos resíduos, a produção e
descarte rápidos de produtos eletrônicos contribuem para as emissões de
carbono, estudos científicos indicam que a pegada ambiental associada à
obsolescência programada é substancial, exigindo estratégias mais eficazes para
reduzir os impactos climáticos, a imposição de um padrão de consumo desenfreado
tem implicações diretas na qualidade de vida dos consumidores, a análise de
pesquisas psicológicas e sociológicas destacam como a cultura do consumismo,
alimentada pela indústria eletrônica, impacta negativamente a psique das
pessoas e afeta também o bem-estar financeiro dos indivíduos. A rápida
obsolescência dos dispositivos aprofunda as desigualdades sociais, estudos
socioeconômicos indicam que grupos de baixa renda enfrentam maiores
dificuldades para acompanhar as demandas tecnológicas, além do crescente
endividamento, a luta por estar sempre atrás da tecnologia funcional do momento
será indelevelmente perdida pelos hipossuficientes, exacerbando ao final as
disparidades digitais entre as classes sociais, gerando mais um abismo entre os
que tem acesso ao mundo digital e quem ficará preterido.
Explorar alternativas sustentáveis é
fundamental para mitigar os impactos da obsolescência programada, a promoção de
produtos modulares e a adoção de princípios de economia circular oferecem
caminhos viáveis, estudos de casos, como a implementação dessas práticas em
países europeus, fornecem avanços enormes. Produtos modulares são dispositivos
ou sistemas compostos por módulos independentes, interconectados de maneira
padronizada, que podem ser facilmente substituídos, atualizados ou reparados de
forma individual, essa abordagem contrasta com o design tradicional de
produtos, nos quais os componentes são integrados de maneira mais permanente e
complexa.
A ideia por trás dos produtos
modulares é promover a sustentabilidade, a eficiência e a longevidade,
proporcionando aos consumidores a capacidade de adaptar, personalizar e manter
seus dispositivos ao longo do tempo, cada módulo desempenha uma função
específica e pode ser retirado e substituído independentemente dos outros, o
que facilita o reparo e a atualização. Várias categorias de produtos podem
seguir o conceito modular, como smartphones, laptops, eletrodomésticos, carros
e até mesmo edificações. Alguns exemplos práticos incluem:
1. Smartphones Modulares: Permitem
que os usuários troquem módulos, como a câmera, bateria ou processador, sem a
necessidade de substituir o dispositivo inteiro;
2. Laptops Modulares: Possibilitam a
substituição ou atualização de componentes como memória RAM, armazenamento,
bateria e tela, oferecendo maior flexibilidade e prolongando a vida útil do
computador;
3. Eletrodomésticos Modulares:
Geladeiras, máquinas de lavar, micro-ondas, máquinas de secar pratos e roupas,
podem ser projetados com módulos independentes para facilitar a manutenção e
reparo, durando por muito tempo e se modelando a novas necessidades;
4. Carros Modulares: Algumas empresas
automotivas exploram o conceito de carros modulares, nos quais os componentes
principais, como motor, bateria e sistema de entretenimento, teriam módulos
independentes e substituíveis, elevando a qualidade e vida útil do veículo.
Ao permitir a substituição de partes
individuais, os produtos modulares reduzem o desperdício eletrônico e
contribuem para uma abordagem mais sustentável, a capacidade de atualizar ou
substituir apenas partes específicas reduz a necessidade de produzir novos
dispositivos completos, economizando recursos naturais preciosos, com a
possibilidade de trocar módulos defeituosos ou obsoletos, a manutenção e o
reparo tornam-se mais acessíveis, simples e econômicos, os usuários podem
adaptar os produtos às suas necessidades, escolhendo módulos que atendam às
suas preferências ou exigências específicas. Embora os produtos modulares
ofereçam benefícios significativos, a implementação generalizada enfrenta
desafios, principalmente pela visão predatória do mercado que não pretende
prescindir fácil dos lucros imediatos apesar de todo impacto ecológico e
econômico que criam, no entanto, o crescente interesse na sustentabilidade e na
economia circular está impulsionando a exploração e adoção dessa abordagem inovadora
em várias indústrias.
A análise de políticas de incentivo e
regulamentações é crucial para a promoção de práticas sustentáveis, examinar
como diferentes países abordam questões como a rotulagem de durabilidade e a
facilitação da reparabilidade destaca estratégias eficazes e lições aprendidas
que deve ser socializada como um verdadeiro manual de boas práticas para
indústria eletroeletrônica. Como vimos, a rápida sucessão de produtos
descartáveis alimenta não apenas um ciclo vicioso de consumo, mas também uma
crescente montanha de resíduos eletrônicos, constituindo um crime ambiental de
larga escala, a exploração da mão de obra e a desigualdade socioeconômica,
muitas vezes associadas à produção em massa, merecem uma análise mais profunda,
evidenciando as falhas éticas e sociais inerentes a esse modelo.
Ao mesmo tempo, que a obsolescência
programada, cria uma cultura de consumo descontrolado, pode ser considerada um
atentado contra a qualidade de vida dos consumidores, o ciclo interminável de
compra e descarte não apenas sobrecarrega os orçamentos familiares, mas também
gera um impacto psicológico significativo principalmente nos mais jovens,
contribuindo para níveis crescentes de ansiedade e estresse, é crucial, porém
desafiador, eliminar esse modelo de produção/consumo da nossa sociedade. O
capitalismo, baseado na busca incessante pelo lucro, encoraja práticas que
priorizam ganhos imediatos em detrimento de considerações ambientais e sociais
a longo prazo, esta crítica é uma chamada à reflexão sobre como podemos superar
esse modelo em prol da nossa sociedade e do ambientalismo.
A transição para um modelo mais
sustentável requer não apenas mudanças nas práticas das empresas, mas também
uma reavaliação coletiva de valores e prioridades de todos e de cada um de nós,
incentivar a inovação, regulamentar de maneira mais eficaz e promover uma
conscientização global sobre as consequências nefastas da obsolescência
programada são passos iniciais, porém cruciais. O desafio é transformar essa
crítica em ações concretas que possam remodelar a maneira como produzimos,
consumimos e interagimos com a tecnologia, somente mediante uma abordagem
multidimensional e colaborativa podemos aspirar a um futuro em que a
sustentabilidade prevaleça sobre a busca desenfreada pelo lucro, mitigando os
danos causados pela programação artificial do que será o lixo sem que
necessário precisasse ser, e promovendo um equilíbrio mais justo entre
sociedade, economia e meio ambiente.
*Advogado,
ex-secretário executivo de Direitos Humanos de Pernambuco
Jabuti não sobe em árvore https://bit.ly/3Ye45TD
Postado por Luciano Siqueira às 11:01 Nenhum
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