A Petrobras reafirma seu papel estratégico, investindo em exploração,
transição energética e refino, ajustando sua política de preços
Abraham. B. Sicsú/Vermelho
Uma conversa mais que protocolar,
mono tônica. Em um café da cidade. Pouco se avança em assuntos relevantes. De
repente, surge algo que me interessa, mas não se aprofunda. A retomada do papel
estratégico da Petrobras. Pouco sei sobre o tema, vou estudar.
Ao falar de estratégia eficiente,
necessário faz-se analisar o ambiente em que está inserida, o mercado a que
pretende atender, a concorrência que deve enfrentar e as diretrizes que
norteiam o plano estratégico do seu negócio.
É estratégica, pois sem ela não
haveria campos do pré-sal, o avanço técnico científico em águas profundas, as
refinarias que dispomos atualmente, a logística de gás, os avanços nas novas
energias, que começam a ser notados, entre outros.
Estaríamos à mercê dos grandes grupos
internacionais na área de energia e condicionados às suas decisões e
orientações. Ela nos permite optar por caminhos fundamentais para a nova matriz
energética e escolhermos uma inserção melhor num mundo menos poluente. Se
ressaltássemos somente isto, ela seria estratégica para a soberania nacional.
Ainda, se em 1997 houve uma quebra do
poder monopólico da empresa, esta quebra não garantiu investimentos de porte
pelas empresas privadas compatíveis com um país de complexidade e dimensões
como o Brasil. Foi ela a principal e estratégica financiadora. Estaríamos
sempre vulneráveis às crises de fornecimento.
Nos anos de 2016 a 2022 a lógica da
companhia era bem diferente da que ocorre atualmente. O foco era passar os
ativos da companhia para as empresas privadas. Negócios nebulosos foram
realizados para retirar a participação do estado do segmento. Procurou-se
restringir a Petrobras para as áreas de exploração e produção, privatizando
todas as demais áreas, inclusive a distribuição. Mesmo na exploração, o
objetivo futuro era privatizar. Refinarias foram vendidas e canais de
distribuição repassados para a iniciativa privada.
Retomar o conceito de empresa
estratégica nacional parece ser o mote da nova gestão.
Cabe salientar que os resultados
financeiros, até o momento, este ano que passou, são muito significativos,
inclusive para os acionistas da empresa. Houve uma alta de 94% para as ações
preferenciais e avanço de 74% para os ativos ordinários. Contrariando as
expectativas do mercado para o primeiro ano do governo Lula, os papéis da
Petrobras tiveram forte valorização em 2023. No último 27 de dezembro, a
empresa alcançou um pico histórico no seu valor de mercado, em seus mais de 70
anos de existência, ultrapassando a marca de R$ 530 bilhões.
Essa jornada de recuperação começou
por três ações que se supõem muito relevantes quais sejam, a mudança da
política de formação de preços, um estatuto mais adequado e, principalmente,
orientações objetivas para um novo plano qüinqüenal que começa a ser
implantado. Iniciemos pelo último item.
Foi anunciado um plano estratégico
para os anos de 2024 a 2028 que prevê aporte de 102 bilhões de dólares. O valor
é 31% maior do que o previsto no plano estratégico anterior, de 2023 a 2027. Se
corrigirmos pela inflação americana esperada para o período daria um aumento de
um pouco mais de 20%.
Numa rápida leitura das diretrizes
estratégicas do Plano, verificam-se alterações importantes.
Seriam: “Foco em ativos rentáveis de
exploração e produção, com descarbonização crescente; Ênfase na adequação e
aprimoramento do parque de refino; Busca pela transição energética justa;
Aproveitamento das diferentes potencialidades do Brasil; Fortalecimento do
acesso a mercados e busca da vanguarda global na transição energética.”
Nota-se o compromisso com a nova
matriz energética, com um modelo de produção e consumo no País menos poluente,
com a retomada do refino e distribuição de petróleo que continuará tendo peso
por muitas décadas, com o aproveitamento e valorização dos recursos naturais
que o Brasil dispõe a largo.
Não abandona a área de petróleo, mas
aponta fortemente para a transição energética que deve se aprofundar nos
próximos anos.
Neste plano, se comparado ao anterior
(2023-2027), há modificações significativas. Os investimentos previstos passam
de 65 bilhões de dólares para 95 bilhões, um aumento de 38%. Esse aumento
compensado pela queda do pagamento de dividendos que passaria de 70 bilhões para
45 bilhões. Também os dividendos extraordinários, aqueles pagos quando há forte
crescimento das receitas, cairiam cerca de 30%.
Novamente ressaltando, o plano inclui
investimentos em projetos de transição energética, principalmente em geração de
energia elétrica por eólicas. Uma real indicação de que a empresa pretende
transformar-se em uma empresa energética, muito mais do que uma petrolífera
simplesmente.
Do valor previsto para investimento,
cerca de 72% serão aportados na área de exploração e produção. O refino,
transporte e comercialização, por sua vez, representam 16% do novo orçamento
total, enquanto gás e energia e baixo carbono tem 9% cada, e o gasto
corporativo, 3%.
Serão destinados até US$ 11,5 bilhões
para projetos de baixo carbono nos próximos cinco anos, ou 11% do investimento
total da companhia numa visão ampliada para os demais setores da empresa
envolvidos. A previsão para descarbonização representa avanço importante ante o
plano anterior de 2023-2027, que previa apenas US$ 4,4 bilhões.
Foram definidos, também, projetos que
pudessem auxiliar na geração de emprego e renda na área corporativa, além de
incluir mais encomendas para a indústria naval e antecipar prazos para a
entrega de grandes projetos.
Na exploração, a empresa prevê US$
3,1 bilhões para a Margem Equatorial, muito promissora, US$ 3 bilhões para a
exploração nas Bacias do Sudeste e US$ 1,3 bilhão para outros países e regiões.
Pretende-se, ainda, a perfuração de
cerca de 50 poços em áreas onde a companhia possui direito de exploração em
blocos adquiridos, o que pode aumentar em muito as reservas petrolíferas da
empresa.
Mas, não se fica apenas no Plano
norteador, distorções, também, começam a ser enfrentadas.
A venda de ativos a preços
subfaturados que tinham como objetivo a retirada da companhia do mercado em
prol da iniciativa privada passa a ser analisada.
Três processos de alienação de bens,
concluídos em gestões anteriores, passaram a ser questionados. Um dos contratos
de venda foi rescindido por parte da Petrobras, conforme foi destacado no
mercado recentemente. Assim, o tema sobre a possível retomada dos investimentos
passou a ser priorizado.
A venda da Refinaria de Mataripe, na
Bahia, é um deles. Em novembro de 2021 foi “entregue” ao fundo de
investimento árabe Mubadala por US$ 1,65 bilhão. Esse valor, pelos analistas de
mercado e bancos investidores, foi considerado muito abaixo do esperado. As
piores avaliações apontavam para pelo menos o dobro desse valor.
As obras da Refinaria Abreu e Lima
foram paralisadas desde 2015. Estava inserida no plano de privatização do
governo anterior. Com o Novo PAC foram inseridas nas prioridades e devem gerar
30 mil empregos diretos e indiretos, aumentando consideravelmente a produção de
diesel no país. Sua capacidade de refino passará dos atuais de 100mil
barris dia para 260mil em 2028.
Na área de distribuição, estuda-se a
retomada da participação. Procura-se resgatar a marca BR, evitando a renovação
do contrato de franquia para distribuidor privado.
Cabe ressaltar, também, que, embora
não priorizada no plano estratégico, a produção do biodiesel verde é importante
na transição energética e seria lógico resgatar subsidiária que tem essa
finalidade e foi abandonada com orçamento irrisório. Em síntese, reverte-se a
lógica de privatização que procurava direcionar os negócios da companhia.
Ponto importante para permitir que as
mudanças ocorram foi a proposição e aprovação de alterações no estatuto da
empresa, no final do ano de 2023.
A Assembléia Geral aprovou, além de
novos critérios para escolha de dirigentes, a criação de uma reserva de
remuneração do capital. “A medida cria mais uma opção de retenção de lucros,
com objetivo de garantir a sustentabilidade econômica da empresa e a
efetividade da política de remuneração ao acionista, que continua valendo nos
mesmos moldes do que foi divulgado pela companhia em julho de 2023”, explicou a
Petrobras em nota.
Essas mudanças permitirão agilidade
na estratégia de modernização da empresa e retomada de seu caráter de
sustentáculo para o desenvolvimento nacional, muito além de seu papel de
empresa energética.
Por fim, vejamos a nova política de
preços e seus impactos.
Muito se questionava a Política de
Paridade Energética- PPI que atrelava a formação dos preços dos combustíveis às
conjunturas internacionais apenas.
Em maio de 2023, a estatal abandonou
a PPI. As condições de produção e logística passam a ser incorporadas para a
definição dos preços de venda de gasolina e diesel às distribuidoras,
diminuindo a alta volatilidade do mercado internacional.
Os combustíveis ficaram mais baratos
ao longo do ano.
Um levantamento feito pela empresa em
dezembro mostra que “o litro da gasolina barateou R$ 0,27, representando uma
queda de 8,7%. No caso do diesel, a redução foi de R$ 1,10 (22,5%), sendo que a
redução mais recente está vigorando a partir de 27 de dezembro; o botijão de
gás de 13 quilos foi reduzido em R$ 10,40 (24,7%), e o querosene de aviação
caiu R$ 1 por litro (19,6%).”
Em artigo da Agência Brasil
observa-se que dois principais fatores externos contribuíram para que os preços
dos combustíveis tivessem uma tendência de queda no cenário internacional.
“Um deles é a conjuntura econômica,
com os Estados Unidos subindo taxas de juros para conter a inflação americana
por meio da desaceleração da economia. Somam-se a isso desconfianças sobre a
força do crescimento da China, segunda maior economia global.”
Em análise do superintendente de
pesquisa da FGV Energia, Márcio Couto, “essas dúvidas fazem com que as pessoas
prevejam uma demanda por petróleo menor e faz com que haja uma redução no
preço, contextualizando que o barril de petróleo flutuou na casa dos US$ 70,
US$ 75, diferentemente de 2022, quando ultrapassou os US$ 100 seguidamente”.
O outro aspecto foi a guerra da
Ucrânia e a reação da União Européia baixando preço e demanda para que a Rússia
parasse o conflito. Os estoques se ampliaram em muito. A Rússia se tornou a
principal fornecedora de diesel para o Brasil a preço mais acessível.
Aliado a isso, o próprio quadro
interno, com a retomada dos níveis de refino e aumento da exploração de
petróleo, mais do que justifica os resultados auferidos. Mesmo com a volta da
oneração de tributos federais sobre combustíveis que haviam sido retirados em
época eleitoral. Evidentemente, este apenas é o começo para tornar a empresa
novamente um alicerce de nosso desenvolvimento. Muito há a se fazer. A retomada
dos investimentos pode ser bem mais forte e há espaço para a queda de
distribuição de dividendos. Mas, tem que ser negociada, embora sejam ainda
altíssimos esses recursos, não é interessante causar traumas à empresa nesse
embate agora.
A política de preços muito colaborou
para o controle inflacionário no País, sem comprometer a saúde financeira da
empresa.
Os avanços dados no refino, na
produção de diesel, na transição energética, são animadores. E muito ajudam na
imagem do país e na redução de nossas dificuldades na balança comercial.
Também, investimentos em desenvolvimento tecnológico e mesmo culturais deverão
ser retomados, voltando a desempenhar o papel que a empresa tinha como alavanca
do desenvolvimento nacional.
Mais que se justifica a concepção de
empresa estratégica.
Faca
de muitos gumes https://bit.ly/3Ye45TD
Postado por Luciano Siqueira às 19:39 Nenhum
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