Que desafios os membros do Brics enfrentam para estabelecer
seu banco de desenvolvimento? Que desafios este banco cria para o FMI, o Banco
Mundial e seus patrocinadores?
Por Rasul Gudarzi*
Os países emergentes do Brics, formado por Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul decidiram estabelecer um banco de desenvolvimento
que entre outros objetivos terá a tarefa de se contrapor ao Banco Mundial e ao
Fundo Monetário Internacional. Os países do Brics trabalham também no
estabelecimento de um fundo de reservas de divisas de contingência por um valor
inicial de 100 bilhões de dólares.
O acordo foi
alcançado durante a quinta conferência que reuniu os presidentes dos países
membros do grupo econômico emergente em Durban, África do Sul. O banco de
desenvolvimento acordado pelo Brics tem como objetivo "mobilizar
recursos", fomentar a construção de infraestruturas e o
"desenvolvimento sustentável" em países emergentes e em vias de
desenvolvimento.
Esta iniciativa
enfrenta a oposição de algumas potências hegemônicas como os Estados Unidos e o
Reino Unido, uma vez que estes dois países, mediante o FMI e o Banco Mundial,
promoviam seus planos contra os países em vias de desenvolvimento. Fica bem claro
que a iniciativa do Brics para estabelecer este banco e ajudar os países em
vias de desenvolvimento vai se deparar com enormes obstáculos por parte do
Ocidente.
Tal como sabemos, os
países do Brics representam 43% da população mundial, ocupam um lugar destacado
dentro da economia global, já que dispõem de enormes riquezas naturais, o maior
mercado do mundo, uma base industrial sólida e recursos humanos qualificados,
abarcando quase 30% do Produto Interno Bruto global.
Tendo em conta estas
destacadas cifras, nota-se claramente a influência que pode ter este bloco em
nível mundial e nas regiões, onde se localizam estes países. Por esta razão, o
banco de desenvolvimento do Brics pode substituir facilmente o FMI e o Banco
Mundial liderados pelos Estados Unidos e o Reino Unido, algo que não convém ao
sistema hegemônico, já que não pode impulsionar mais seus planos de saqueio dos
países em vias de desenvolvimento.
Quando o Fundo
Monetário Internacional como ideia foi proposto em 22 de julho de 1944 durante
uma convenção da ONU em Bretton Woods, New Hampshire, Estados Unidos e começou
a funcionar em 1945, seus estatutos declaravam como principais objetivos a
promoção de políticas cambiais sustentáveis em nível internacional, facilitar o
comércio internacional e reduzir a pobreza. Não obstante, o que se conseguiu
foi o contrário, já que nem este fundo monetário nem o Banco Mundial funcionam
de maneira independente.
Uma vez que os
Estados Unidos são o principal provedor do fundo desta entidade internacional e
os especialistas estadunidenses desempenham um papel importante no manejo das
políticas deste organismo internacional, nota-se que o FMI se converteu em uma
ferramenta em mãos da Casa Branca.
Historicamente, o
diretor-gerente do FMI sempre foi europeu e o presidente do Banco Mundial
sempre foi estadunidense. Os conselheiros executivos, que atuam com o
diretor-gerente, são escolhidos pelos ministros de finanças dos países que
representam. O primeiro subdiretor-gerente do FMI, que ocupa o segundo posto de
comando, tradicionalmente tem sido um estadunidense, algo que põe em relevo a
influência dos Estados Unidos e do Reino Unido nestes dois organismos.
Argumenta-se que as
receitas do FMI sob a influência dos Estados Unidos provocaram uma
desaceleração da industrialização, ou desindustrialização na maioria dos casos,
as recessões em vários países latino-americanos em finais dos anos 1990 e as
crises financeiras, como a da Argentina em finais de 2001.
Considerando os
defeitos mencionados do FMI e do Banco Mundial, pode-se concluir que o banco de
desenvolvimento do Brics é um duro golpe nos Estados Unidos e no Reino Unido e
contribui para impedir suas políticas colonialistas nos países em vias de
desenvolvimento.
À margem da cúpula do
Brics em Durban foi adotada outra medida que prejudica ainda mais os Estados
Unidos, qual seja, a eliminação do dólar dos intercâmbios comerciais entre dois
polos gigantes da economia mundial, o Brasil e a China, a fim de proteger seus
intercâmbios das flutuações da moeda estadunidense.
O câmbio de divisas
'antidólar', com um valor de 30 bilhões de dólares anuais e formulado para um
período de três anos, foi firmado por representantes de ambos os países.
Ademais, o ministro brasileiro das Finanças, Guido Mantega, anunciou que
oferecerá um acordo similar a presidentes dos outros Estados membros do
organismo que representa quatro dos cinco continentes do mundo.
Ao adotar esta
medida, o grupo Brics se aproxima de transformar-se em um sólido bloco
político, econômico e militar em nível mundial, rivalizando, assim, com os
interesses dos Estados Unidos.
Os Brics, com a
grande população e o imenso PIB que possui pode promover seus planos e
desmantelar os do capitalismo estadunidense e britânico, deve esperar os
obstáculos destes países em seu caminho.
Rasul Gudarzi é
jornalista iraniano da Rede Hispan TV
Blog da Resistência
www.zereinaldo.blog.br
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