Por Altamiro Borges
Nas três últimas eleições presidenciais, o PSDB fez de tudo
para esconder o rejeitado FHC. Ele sumiu dos palanques e quase foi rifado nos
programas de rádio e tevê. O truque covarde não deu certo e, agora, o partido
resolveu ressuscitar o ex-presidente. A nova propaganda estadual da legenda em
São Paulo teve novamente como estrela o “guru” dos tucanos. Azar da sigla!
Arrogante, FHC se jactou do seu triste reinado, disse que a marca do seu
governo foi a honestidade e disparou: “[Com o PSDB] não tem jeitinho, tem
trabalho”.
Já que ele voltou a tagarelar sobre honestidade, não custa
lembrar as inúmeras maracutaias dos seus oitos anos de governo. Os casos
citados ilustram bem qual é o “jeitinho” do PSDB, que a mídia demotucana
insiste em blindar.
Denúncias abafadas: Já no início do seu primeiro mandato, em
19 de janeiro de 1995, FHC fincou o marco que mostraria a sua conivência com a
corrupção. Ele extinguiu, por decreto, a Comissão Especial de Investigação,
criada por Itamar Franco e formada por representantes da sociedade civil, que
visava combater o desvio de recursos públicos. Em 2001, fustigado pela ameaça
de uma CPI da Corrupção, ele criou a Controladoria-Geral da União, mas este
órgão se notabilizou exatamente por abafar denúncias.
Caso Sivam. Também no início do seu primeiro mandato,
surgiram denúncias de tráfico de influência e corrupção no contrato de execução
do Sistema de Vigilância e Proteção da Amazônia (Sivam/Sipam). O escândalo
derrubou o brigadeiro Mauro Gandra e serviu para FHC “punir” o embaixador Júlio
César dos Santos com uma promoção. Ele foi nomeado embaixador junto à FAO, em
Roma, “um exílio dourado”. A empresa ESCA, encarregada de incorporar a
tecnologia da estadunidense Raytheon, foi extinta por fraude comprovada contra
a Previdência. Não houve CPI sobre o assunto. FHC bloqueou.
Pasta Rosa. Em fevereiro de 1996, a Procuradoria-Geral da
República resolveu arquivar definitivamente os processos da pasta rosa. Era uma
alusão à pasta com documentos citando doações ilegais de banqueiros para campanhas
eleitorais de políticos da base de sustentação do governo. Naquele tempo, o
procurador-geral, Geraldo Brindeiro, ficou conhecido pela alcunha de
“engavetador-geral da República”.
Compra de votos. A reeleição de FHC custou caro ao país.
Para mudar a Constituição, houve um pesado esquema para a compra de voto,
conforme inúmeras denúncias feitas à época. Gravações revelaram que os
deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre, ganharam R$ 200 mil
para votar a favor do projeto. Eles foram expulsos do partido e renunciaram aos
mandatos. Outros três deputados acusados de vender o voto, Chicão Brígido,
Osmir Lima e Zila Bezerra, foram absolvidos pelo plenário da Câmara. Como
sempre, FHC resolveu o problema abafando-o e impedido a constituição de uma
CPI.
Vale do Rio Doce. Apesar da mobilização da sociedade em
defesa da CVRD, a empresa foi vendida num leilão por apenas R$ 3,3 bilhões,
enquanto especialistas estimavam seu preço em ao menos R$ 30 bilhões. Foi um
crime de lesa-pátria, pois a empresa era lucrativa e estratégica para os
interesses nacionais. Ela detinha, além de enormes jazidas, uma gigantesca
infra-estrutura acumulada ao longo de mais de 50 anos, com navios, portos e
ferrovias. Um ano depois da privatização, seus novos donos anunciaram um lucro
de R$ 1 bilhão. O preço pago pela empresa equivale hoje ao lucro trimestral da
CVRD.
Privatização da Telebras. O jogo de cartas marcadas da
privatização do sistema de telecomunicações envolveu diretamente o nome de FHC,
citado em inúmeras gravações divulgadas pela imprensa. Vários “grampos”
comprovaram o envolvimento de lobistas com autoridades tucanas. As fitas
mostraram que informações privilegiadas foram repassadas aos “queridinhos” de
FHC. O mais grave foi o preço que as empresas privadas pagaram pelo sistema
Telebrás, cerca de R$ 22 bilhões. O detalhe é que nos dois anos e meio
anteriores à “venda”, o governo investiu na infra-estrutura do setor mais de R$
21 bilhões. Pior ainda, o BNDES ainda financiou metade dos R$ 8 bilhões dados
como entrada neste meganegócio. Uma verdadeira rapinagem contra o Brasil e que
o governo FHC impediu que fosse investigada.
Ex-caixa de FHC. A privatização do sistema Telebrás foi
marcada pela suspeição. Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa das campanhas de
FHC e do senador José Serra e ex-diretor do Banco do Brasil, foi acusado de
cobrar R$ 90 milhões para ajudar na montagem do consórcio Telemar. Grampos do
BNDES também flagraram conversas de Luiz Carlos Mendonça de Barros, então
ministro das Comunicações, e André Lara Resende, então presidente do banco,
articulando o apoio da Previ para beneficiar o consórcio do Opportunity, que
tinha como um dos donos o economista Pérsio Arida, amigo de Mendonça de Barros
e de Lara Resende. Até FHC entrou na história, autorizando o uso de seu nome
para pressionar o fundo de pensão. Além de “vender” o patrimônio público, o
BNDES destinou cerca de 10 bilhões de reais para socorrer empresas que
assumiram o controle das estatais privatizadas. Em uma das diversas operações,
ele injetou 686,8 milhões de reais na Telemar, assumindo 25% do controle
acionário da empresa.
Juiz Lalau. A escandalosa construção do Tribunal Regional do
Trabalho de São Paulo levou para o ralo R$ 169 milhões. O caso surgiu em 1998,
mas os nomes dos envolvidos só apareceram em 2000. A CPI do Judiciário
contribuiu para levar à cadeia o juiz Nicolau dos Santos Neto, ex-presidente do
TRT, e para cassar o mandato do senador Luiz Estevão, dois dos principais
envolvidos no caso. Num dos maiores escândalos da era FHC, vários nomes ligados
ao governo surgiram no emaranhado das denúncias. O pior é que FHC, ao ser
questionado por que liberara as verbas para uma obra que o Tribunal de Contas
já alertara que tinha irregularidades, respondeu de forma irresponsável:
“assinei sem ver”.
Farra do Proer. O Programa de Estímulo à Reestruturação e ao
Sistema Financeiro Nacional (Proer) demonstrou, já em sua gênese, no final de
1995, como seriam as relações do governo FHC com o sistema financeiro. Para
ele, o custo do programa ao Tesouro Nacional foi de 1% do PIB. Para os
ex-presidentes do BC, Gustavo Loyola e Gustavo Franco, atingiu 3% do PIB. Mas
para economistas da Cepal, os gastos chegaram a 12,3% do PIB, ou R$ 111,3
bilhões, incluindo a recapitalização do Banco do Brasil, da CEF e o socorro aos
bancos estaduais. Vale lembrar que um dos socorridos foi o Banco Nacional, da
família Magalhães Pinto, a qual tinha como agregado um dos filhos de FHC.
Desvalorização do real. De forma eleitoreira, FHC segurou a
paridade entre o real e o dólar apenas para assegurar a sua reeleição em 1998,
mesmo às custas da queima de bilhões de dólares das reservas do país.
Comprovou-se o vazamento de informações do Banco Central. O PT divulgou uma
lista com o nome de 24 bancos que lucraram com a mudança e de outros quatro que
registraram movimentação especulativa suspeita às vésperas do anúncio das
medidas. Há indícios da existência de um esquema dentro do BC para a venda de
informações privilegiadas sobre câmbio e juros a determinados bancos ligados à
turma de FHC. No bojo da desvalorização cambial, surgiu o escandaloso caso dos
bancos Marka e FonteCindam, “graciosamente” socorridos pelo Banco Central com
1,6 bilhão de reais. Houve favorecimento descarado, com empréstimos em dólar a
preços mais baixos do que os praticados pelo mercado.
Sudam e Sudene. De 1994 a 1999, houve uma orgia de fraudes
na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), ultrapassando R$ 2
bilhões. Ao invés de desbaratar a corrupção e pôr os culpados na cadeia, FHC
extinguiu o órgão. Já na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
(Sudene), a farra também foi grande, com a apuração de desvios de R$ 1,4
bilhão. A prática consistia na emissão de notas fiscais frias para a
comprovação de que os recursos do Fundo de Investimentos do Nordeste foram
aplicados. Como fez com a Sudam, FHC extinguiu a Sudene, em vez de colocar os
culpados na cadeia.
Postado por Miro às 14:30
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